Seca em São Paulo já fez o tratamento da água ficar 20% mais
caro este ano
A segunda reportagem da série Caminhos da Seca percorreu a
área dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, onde a poluição exige que
empresas arquem com custos adicionais não apenas para garantir a oferta, mas
também a qualidade.
Em São Paulo, a seca criou uma situação peculiar para
centros urbanos no interior do Estado, como Americana, Campinas e Piracicaba.
Além do desafio de garantir o abastecimento num dos períodos mais secos da
história, eles precisam se preocupar com a qualidade da água.
Os rios das Bacias PCJ, que reúnem o Piracicaba, o Capivari
e o Jundiaí, seus afluentes e formadores, estão entre os mais poluídos do País.
Segundo especialistas, à medida que as águas baixam, a concentração de
poluentes aumenta, o que encarece a limpeza. “Quanto mais sujo um rio, mais
dinheiro se gasta para limpar a água”, diz o professor Pedro Mancuso, da
Universidade de São Paulo (USP), especialista no tema.
A Sabesp, maior empresa de
saneamento do Estado, afirma que “não houve impacto no custo de tratamento nos
últimos 18 meses”. Essa, porém, não é a percepção de outras empresas. Apenas os
custos com produtos químicos já aumentaram em cerca de 20%, pelas estimativas
de Carlos César Záppia, diretor da seção de Tratamento de Água do Departamento
de Água e Esgoto de Americana. A alta ocorre porque é preciso elevar a
quantidade de produtos para manter a qualidade da água. Záppia estima que, para
as empresas privadas, a conta pode ser de até o dobro, dependendo do setor em
que atuam.
A conta não inclui o custo com
energia elétrica que, de acordo com o nível de poluição, representa de 50% a
70% dos gastos no tratamento da água, nem com a situação atípica dos rios. A concentração
de algas e outros materiais orgânicos faz com que a água, mesmo limpa, chegue
às torneiras com cheiro e cor. “As características da água mudam de minuto a
minuto: a gente manda amostras para o laboratório, faz testes e, quando aplica
um químico, que seria a solução, a água no rio já mudou”, diz. “Em 32 anos de
empresa, nunca vi nada assim.”
Carro-pipa
Além do custo extra para limpar
as águas, as empresas privadas precisam se preocupar em complementar o
abastecimento, que vem sendo racionado em vários municípios. Há cerca de três
semanas, a Bosch, uma das maiores fabricantes de autopeças do País, precisou
comprar água de caminhões-tanque para ser utilizada no sistema produtivo da
fábrica de Campinas. Foi a primeira vez que o grupo recorreu a esse expediente.
Segundo Theophilo Arruda Neto, gerente de Engenharia de Segurança e Meio
Ambiente, sempre que a empresa identificar necessidade vai buscar esse tipo de
alternativa.
A situação das indústrias só não
é pior porque, com o baixo crescimento da economia, a produção está em ritmo
mais lento. “Se a economia estivesse mais pujante, essa crise hídrica seria
mais extensiva, mais danosa”, diz o vice-diretor do Centro das Indústrias
(Ciesp) de Americana, Leandro Zanini. (OESP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário