Nordeste e Sudeste não estão
livres da crise hídrica, diz o meteorologista Carlos Nobre
Desde
2012, o Nordeste convive com a seca mais severa das últimas décadas. Já o
Sudeste passou a enfrentar o problema a partir de janeiro de 2014, que atingiu
mais severamente a região metropolitana de São Paulo. O Nordeste e o Sudeste
são as duas regiões mais populosas do País, abrigando quase 70% da população
brasileira.
A
crise hídrica no Sudeste e no Nordeste ainda não terminou, e os reservatórios
de água das duas regiões, tanto para abastecimento humano como para geração de
energia elétrica, poderão entrar em colapso, no próximo ano, caso a estação
chuvosa do verão fique abaixo da média histórica.
O
alerta foi feito em 09/06, na Câmara dos Deputados, pelo meteorologista Carlos
Nobre, uma das principais referências do País em estudos sobre mudanças
climáticas.
Nobre,
ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e atualmente
presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes), participou de audiência pública promovida pela comissão especial que
analisa a crise hídrica.
O
Nordeste e o Sudeste são as duas regiões mais populosas do País, abrigando
quase 70% da população brasileira. Desde 2012, os estados nordestinos convivem
com a seca mais severa das últimas décadas. Já os estados do Sudeste passaram a
enfrentar o problema a partir de janeiro do ano passado, que atingiu mais
severamente a região metropolitana de São Paulo.
Medidas
urgentes
De
acordo com Carlos Nobre, a meteorologia não tem como prever com tanta
antecedência como será a próxima estação chuvosa nas duas regiões. A
dificuldade obriga a adoção de medidas urgentes, principalmente para economizar
água. “Temos que trabalhar com essa incerteza. A prudência e o princípio da
precaução recomendam a máxima economia de água”, disse.
Segundo
o presidente da Capes, das regiões metropolitanas do Sudeste, a do Rio de
Janeiro é a que menos atentou para a necessidade de economizar água. Ele
lembrou que a capital fluminense vai sediar as Olimpíadas de 2016, em agosto,
período mais seco na cidade.
Caso
as chuvas fiquem abaixo da média, e a cidade não adote medidas adicionais,
poderá haver problemas durante os jogos. “Parece-me que o Rio de Janeiro ainda
não se deu conta da gravidade desse problema”, afirmou.
Convulsão
social
No
caso do Nordeste, Carlos Nobre disse que a situação é mais crítica a cada ano.
“O Nordeste vive um dos períodos mais secos do registro histórico que nós
temos. E do Nordeste nós temos dados desde a época do Império”, disse.
O
meteorologista afirmou que a população só não foi mais atingida porque
programas sociais como Bolsa Estiagem, Garantia-Safra e abastecimento por
carros-pipa conseguiram reduzir o impacto da falta de água.
“Se
não fossem esses programas, que custaram até o ano passado R$ 15 bilhões,
certamente o Nordeste teria entrado em uma enorme convulsão social”, afirmou.
Nobre defendeu que a região invista em uma economia baseada em pouco uso de
água. Para ele, os estados da região possuem potencial para produção de energia
solar e eólica, que não dependem de estações chuvosas.
Solos
salinos
Também
convidado para o debate, o professor da Faculdade de Agronomia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul Paulo César do Nascimento alertou para os efeitos
da crise hídrica sobre os solos. Segundo ele, com os climas mais secos, a
tendência é que a salinidade dos solos aumente, prejudicando a agricultura.
“É
um limitante sério na região do Nordeste, e isso pode, em médio prazo, se
expandir”, disse Nascimento. Questionado pelo relator da comissão, deputado
Givaldo Vieira (PT-ES), ele disse também que a falta de chuva diminui a
formação de biomassa nos solos, tornando-os mais pobres.
Para
o deputado Nilto Tatto (PT-SP), a situação descrita pelos dois especialistas
evidencia a necessidade de medidas governamentais urgentes para conter os
efeitos da seca. “O que está vindo pela frente aí é muito grave. Talvez o mais
grave seja que a gente não consegue que isso tome conta da consciência da
população como um todo”, afirmou. (ecodebate)
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