quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Brasil: país submergente

Parece que o Brasil está caminhando para uma segunda década perdida. O ultimo relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), publicado em abril de 2015, traz dados sobre o panorama da economia mundial entre 2011 e 2014 e estimativas para o período 2015 a 2020. Evidentemente o quadro pode mudar nos próximos anos, mas a comparação entre os países é útil para se avaliar as tendências passadas e as perspectivas futuras.
Analisando a variação do Produto Interno Bruto (PIB) na década de 2011-2020 podemos perceber um quadro desalentador para o Brasil. O conjunto das “economias emergentes” (termo utilizado pelo FMI) deve crescer a uma média anual de 5,1% aa, o mundo deve crescer a 3,7% aa, a América Latina e o Caribe devem crescer a 2,6% aa e as economias avançadas (termo utilizado pelo FMI) devem crescer a 1,9% ao ano. O Brasil deve crescer apenas 1,8% ao ano. O pior desempenho.
Nota-se, portanto, que as economias emergentes (lideradas por China e Índia) são responsáveis pelas maiores taxas de crescimento. O surpreendente é que a América Latina e Caribe (ALC) vai crescer bem menos do que o conjunto das economias emergentes e abaixo da média mundial. O baixo crescimento das economias avançadas já era esperado, pois trata-se do desempenho de países com alto nível de desenvolvimento humano e baixo (ou negativo) crescimento demográfico.
Mas o que mais surpreende nos dados é o mal desempenho da economia brasileira que, segundo os dados do FMI, deve crescer apenas 1,8% ao ano na década. Ou seja, o Brasil não só vai crescer menos que as economias emergentes, menos que a média mundial, menos do que a ALC, mas, também, menos do que as economias avançadas.
FMI junho/15
Esta situação não é nova, mas está se agravando. O FMI também mostra que a participação do PIB brasileiro (em poder de paridade de compra) no PIB mundial está caindo desde 1980. A maior queda ocorreu entre os governos José Sarney (1985-1989) e Fernando Collor (1990-1992). Mas o Brasil continuou perdendo posição relativa nos governos seguintes (uma leve recuperação no início do Plano Real e entre 2008 e 2010). A perda se acelerou depois do início do governo Dilma (2011 em diante).
Nos 30 anos entre 1950 e 1980 a taxa de crescimento do PIB brasileiro só não foi maior do que a taxa de crescimento mundial em 4 anos, todos eles de crise política. Em 1956, após o suicídio de Getúlio Vargas e das dificuldades da eleição de Juscelino Kubitschek o PIB brasileiro cresceu 2,9%. Nos anos de 1963, 1964 e 1965, após a renúncia de Jânio Quadros e da crise que se seguiu, o PIB brasileiro cresceu 0,6%, 3,4% e 2,4% respectivamente. Em nenhum ano entre 1950 e 1980 houve decréscimo do PIB. Porém, entre 1987 e 2016 o Brasil só cresceu mais que a economia internacional em 8 anos (1993, 1994, 1995, 2002, 2004, 2007 e 2010). O Brasil cresceu menos do que o mundo em 22 anos entre 1987 e 2016. O pior é que estamos caminhando para uma década perdida entre 2011 e 2020.
Parece que, em vez de se integrar aos BRICS, o Brasil vai submergir e deixar de ser um protagonista da economia mundial. No máximo será um coadjuvante. O impacto nas condições de vida da população e nas perspectivas de desenvolvimento do país será doloroso. O fato é que as políticas macroeconômicas adotadas pelos últimos governos brasileiros estão fazendo o país ir para o fundo do poço.
Os dados do FMI indicam uma recuperação da economia brasileira já em 2016 e uma melhora relativa até 2020. Mas muitos economistas brasileiros acreditam que a crise brasileira será maior do que o FMI estima. Isto ocorre porque os desequilíbrios das contas pública se agravaram desde o segundo mandato dos governos petistas. O segundo governo Lula abandonou a disciplina fiscal e o primeiro governo Dilma perdeu completamente o controle, na medida em que adotava um keynesianismo sem resultados. Esta situação já era conhecida na época da eleição presidencial de 2014, mas o que foi apresentado para a população na propaganda eleitoral foi um conto da carochinha. Por isto, o eleitorado considera que houve um “estelionato eleitoral”.
No final do segundo governo Lula a relação dívida/PIB estava em 51,8%. Quando encerrou o primeiro mandato de Dilma, chegou a 58,9%. Foi uma subida de 7,1 pontos do PIB em apenas 4 anos. Com o ajuste fiscal de Joaquim Levy e Dilma 2, em apenas cinco meses, a dívida subiu para 62,5% do PIB. Um aumento de 3,6 pontos, enquanto o ajuste fiscal está fazendo água, pois o exagerado aumento dos juros agrava o desajuste e coloca dinheiro nas mãos dos rentistas. A despesa com juros, nos últimos 12 meses, atingiu R$ 409 bilhões (7,2% do PIB) causando um déficit fiscal de R$ 447 bilhões (7,9% do PIB). Mais um recorde negativo vergonhoso e preocupante. Desta forma, cresce a possibilidade de o Brasil perder o chamado grau de investimento.
Caso isto aconteça, a situação da economia brasileira vai ficar mais deteriorada, devido aos grandes déficits em transações correntes, reforçando a tendência de perda relativa em relação ao resto do mundo. Com o crescimento dos “déficits gêmeos”, o Brasil colocou a cabeça na forca do capital financeiro global. Para fechar a conta do balanço de pagamentos, o país precisa que o resto do mundo invista US$ 100 bilhões por ano nas terras tupiniquins. Isto vinha acontecendo enquanto o Brasil ainda era considerado país emergente e enquanto existia liquidez internacional. Mas com a crise grega, com a crise europeia e agora com a crise chinesa haverá restrições de crédito e o Brasil pode se enforcar de vez no aperto monetário. Com o aumento dos juros nos Estados Unidos, o dólar deve disparar e pressionar ainda mais a estagflação. Com alta probabilidade, o Brasil deve voltar a mendigar ajuda do FMI.
Mas independentemente de qualquer pessimismo extra e externo, os dados já indicam que o Brasil está com uma economia desequilibrada, completamente desajustada e se tornou um “patinho feio” da economia internacional, não podendo ser mais chamado de economia emergente. Se os dados acima se confirmarem, o Brasil vai entrar em um rápido processo de decadência e se (des) afirmar como um país submergente. (ecodebate)

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