domingo, 19 de junho de 2016

Desenvolvimento humano e o aumento da Pegada Ecológica

A Pegada Ecológica mede a quantidade de recursos naturais necessários para manter o padrão de consumo dos seres humanos. Tudo o que usamos e o ar que respiramos vêm da natureza e jamais deixará de pertencer à natureza. Em geral, a civilização produz luxo e descarta lixo. O avanço humano tem ocorrido em detrimento da saúde do Planeta.
O desenvolvimento humano está altamente correlacionado com o aumento da pegada ecológica. Países com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) possuem pegada ecológica elevada e países com baixo IDH possuem pegada ecológica baixa. Isto quer dizer que o estilo de desenvolvimento adotado tem ocorrido às custas da degradação ambiental e em prejuízo da biocapacidade.
No quadrante superior direito da figura acima estão principalmente os países da América do Norte, da Europa e do Oriente Médio produtores de petróleo. Ou seja, são países que possuem alto IDH e também alta pegada ecológica. A grande maioria dos países da África possuem baixo IDH e baixa pegada ecológica.
Estes dados são da rede “Global Footprint Network” que trabalha com duas medidas para se avaliar o déficit ambiental. A Pegada Ecológica serve para avaliar o impacto humano sobre a biosfera. A Biocapacidade avalia o montante de terra e água – o saldo biologicamente produtivo – para prover bens e serviços ecossistêmicos. A unidade de medida é o hectare global (gha).
Nos últimos 45 anos a Pegada Ecológica mundial ultrapassou a biocapacidade do Planeta. Desde o início dos anos 1970, o déficit ambiental vem subindo constantemente. Em 2012, o mundo tinha uma população 7,1 bilhões de pessoas, com uma pegada ecológica per capita de 2,84 hectares globais (gha) e uma biocapacidade per capita de 1,73 gha, conforme anunciou a Global Footprint Network, em março de 2016.
O mundo tinha em 2012 uma biocapacidade total de 12,2 bilhões de hectares globais, mas tinha uma pegada ecológica de 20,1 bilhões de hectares globais. Portanto, a pegada ecológica ultrapassava a biocapacidade em 64%. Ou dito de outra maneira, o mundo estava consumindo o equivalente a 1,64 planetas. Portanto, a população mundial vive no vermelho e provoca um déficit ambiental que cresce a cada ano.
Evidentemente, este caminho é insustentável. A humanidade só consegue manter seu modelo de produção e consumo devido à herança acumulada no passado. Por exemplo, ao avançar com as atividades antrópicas e utilizar montantes crescentes de energia, o ser humano está esgotando as reservas de combustíveis fósseis. A queima desta herança fóssil reduz os estoques de hidrocarbonetos do subsolo e aumenta a emissão de gases de efeito estufa que provocam o aquecimento global.
A perda da biocapacidade ocorre devido ao desmatamento, à degradação dos solos, à sobreutilização das nascentes, rios, lagos e aquíferos, à redução do montante de peixe, à acidificação dos mares, à poluição generalizada, à degradação das riquezas naturais, etc. O progresso do ser humano está ocorrendo em função do regresso do meio ambiente e da redução da biodiversidade. Tudo isto contribui para o déficit ambiental.
Óbvio, são as parcelas mais ricas da população que mais contribuem para o aumento da pegada ecológica, como mostra o gráfico do IDH. Porém, mesmo que houvesse uma justa distribuição da riqueza dentro dos países e entre os países, a pegada ecológica média superaria ainda assim a biocapacidade média global. Existe um conflito social internacional e nacional, pois alguns países possuem alto IDH e a maioria possui baixo IDH, assim como no plano nacional uma parcela da população possui alto IDH e outra parcela excluída ou parcialmente incluída possui baixo IDH.
Além disto, o desenvolvimento da base material do progresso humano (aumento do IDH) tem gerado grandes déficits ambientais. A escala da presença humana no mundo ultrapassou os limites da sustentabilidade. Quanto maior for o IDH mundial, menor será a base ecológica que sustenta a vida na Terra. O tripé inclusão econômica justiça social e sustentabilidade ambiental virou trilema.
Sem dúvida, para evitar o colapso ambiental é preciso reduzir a pegada ecológica e para evitar as injustiças sociais é preciso reduzir os níveis de desigualdade. A solução não pode ser o crescimento econômico ilimitado. Ao contrário, será necessário não só o decrescimento da população mundial, mas também o decrescimento do padrão de consumo médio das pessoas, com equidade social. Acima de tudo, a humanidade precisa sair do déficit ecológico e voltar para o superávit ambiental, resgatando as reservas naturais, para o bem de todos os seres vivos da Terra. (ecodebate)

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