domingo, 7 de agosto de 2016

‘Água potável pode se tornar uma miragem’

“Água potável pode se tornar uma miragem”, diz o pesquisador José Tundisi em artigo.
A água é fundamental para a dinâmica da natureza. Impulsiona todos os ciclos, sustenta a vida e é o solvente universal. Sem água, a vida na Terra seria impossível. Além de usá-la para suas funções vitais, como todos os outros seres vivos, os humanos utilizam os recursos hídricos para a produção de energia, de alimentos, para navegação, desenvolvimento industrial, agrícola e econômico.
Entretanto, 97% da água do planeta Terra está nos oceanos e não pode ser utilizada para irrigação, uso doméstico ou para beber. Os 3% restantes têm cerca de 35 milhões km3 de volume, sendo que, em grande parte, está congelada na Antártida ou na Groenlândia. Então, na verdade somente 100 mil km3, ou seja, 0,3% do total de recursos de água doce no planeta estão disponíveis nos lagos, rios, embaixo da terra, e pode ser utilizado pelas pessoas.
À medida que a economia foi se tornando mais complexa e diversificada, o uso dos recursos hídricos aumentou. E aumentou de tal forma que, hoje, o ciclo da água é profundamente alterado pela atividade humana, ao ponto de podermos dizer que o ciclo hidrológico foi alterado para um ciclo hidrossocial. As pressões sobre os usos dos recursos hídricos provêm de três grandes ocorrências globais, que continuam sendo tendências para as próximas décadas: o crescimento da populacional, da urbanização e da produção de alimentos.
A dependência dos recursos hídricos aumentou em todo o mundo, afetando especialmente as regiões onde a disponibilidade de água varia muito durante o ano e nas regiões áridas. Também tem gerado grandes alterações nos ciclos hidrológicos regionais: por exemplo, a construção de barragens aumenta a taxa de evaporação, já a construção de canais para distribuição produz desequilíbrios no balanço hídrico, enquanto a retirada de água para irrigação em excesso diminui o volume dos rios e lagos. Igualmente importante, o grau de urbanização interfere na drenagem e aumenta o escoamento superficial, diminuindo a capacidade de reserva de água na superfície e nos aquíferos.
Tantas alterações têm consequências ecológicas, econômicas, sociais e na saúde humana. Por exemplo, o lançamento de esgoto não tratado e de fertilizantes nos rios, lagos e represas produz o fenômeno de eutrofização, cujos efeitos ecológicos, na saúde humana e nos custos do tratamento de água são relevantes, principalmente em grandes e megacidades, como, por exemplo, São Paulo.
O aumento extraordinário do consumo de água em todos os continentes também tem levado à escassez, ao aumento da vulnerabilidade das populações e à falta de recursos hídricos. Assim como a escassez, o excesso de precipitação com grandes extremos hidrológicos também é prejudicial, atingindo populações urbanas e rurais com a disseminação de doenças de veiculação hídrica, que afetam um grande número de pessoas em todo planeta. Para controlar o excesso de uso da água, é necessário estimular os usuários de todos os níveis: industriais, agricultores, população em geral. Todos devem ser instruídos a reduzir amplamente os gastos de água. Reuso de água tratada também é uma importante medida de redução do consumo. O tratamento de esgotos é outra medida importante na gestão das águas e no aumento da reciclagem. No Brasil, apenas 40% do esgoto é tratado e isto provoca perda de recursos hídricos, por impossibilidade do uso, além de disseminar doenças, causando prejuízos econômicos e sociais. A redução desta contaminação recompõe o ciclo hidrossocial, eliminando ou reduzindo o risco à saúde e estimulando a economia.
As pressões crescentes sobre os recursos hídricos têm provocado inúmeros problemas de segurança hídrica, ou seja, o acesso a água de boa qualidade e o suprimento adequado a cada habitante do planeta: 20 litros por pessoa por dia, segundo as Nações Unidas. Como já foi dito, a água é um recurso vital para as pessoas e os ecossistemas. Além disso, é fundamental para o enfrentamento dos desafios globais. Segurança alimentar, redução da pobreza, crescimento econômico, saúde humana, todos estes processos dependem da quantidade e qualidade da água. O gerenciamento das águas superficiais, subterrâneas e do ciclo hidrológico pressupõe a atenção à segurança hídrica, a diminuição à vulnerabilidade das populações e o suprimento adequado dos recursos hídricos à população, sendo que o controle da poluição, monitoramento e a gestão de bacias hidrográficas são algumas das ações mais importantes.
É necessário investir em saneamento básico, o que implica o recolhimento e tratamento de esgotos, de resíduos sólidos, além de melhores condições de vida nas regiões periurbanas das grandes cidades, porque estas são as mais afetadas pelos fatores de degradação que influenciam as águas superficiais e subterrâneas. Além de todas as consequências da oferta de água de má qualidade mencionadas, atualmente 800 milhões de pessoas não tem acesso à água em todo o planeta. (ecodebate)

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