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Brasil, aquecimento global significará mudança no padrão de chuvas
Enchente
na Avenida Jardim Botânico, no Rio. Chuvas no Sul e Sudeste ficarão mais fortes
e frequentes com as mudanças climáticas.
O Brasil não ficará apenas mais quente com as
mudanças climáticas. O regime de chuvas também mudará, e muito, segundo um novo
relatório. O relatório, organizado pelo Painel Brasileiro de Mudanças
Climáticas (PBMC), reuniu os principais dados científicos para fazer projeções
de como o Brasil responderá ao aumento das médias de temperatura causado pelo
aquecimento global.
O estudo é praticamente uma versão nacional do
relatório de mudanças climáticas do IPCC. Ele foi elaborado com a participação
de 345 pesquisadores, que fizeram nos últimos seis anos uma avaliação de toda a
ciência já publicada sobre mudanças do clima no Brasil. "O Relatório de
Avaliação mostra o estado da arte da ciência do clima no Brasil e na América do
Sul", diz Andrea Santos, Secretária Executiva do PBMC.
Esse estado da arte confirma as principais
pesquisas feitas por institutos internacionais: o planeta está aquecendo graças
à emissão de gases de efeito estufa por atividades como geração de energia,
transporte e desmatamento. As projeções mostram que o Brasil não ficará de fora
das alterações climáticas globais, e indicam tendências de como o clima mudará
em diferentes regiões do país.
A mudança de maior impacto será uma alteração nos
padrões de chuvas. As pesquisas mostram que, no Sul e Sudeste, regiões que
sofrem com enchentes e deslizamentos, as chuvas se tornarão mais fortes e mais
frequentes. No Nordeste do país, a tendência é oposta. A região mais castigada pela seca enfrentará grande redução
da quantidade de chuvas, e as secas, que já são comuns, ficarão mais
frequentes.
A Caatinga será, junto com o Cerrado, o bioma do
país que mais sofrerá com a mudança nos padrões de chuva. "A Caatinga tem
uma tendência de diminuição de precipitação muito intensa, e o aumento da
temperatura poderá chegar a 5,5ºC até o final do século. Isso é realmente
impactante", diz Tércio Ambrizzi, professor da USP e um dos autores do
relatório. Segundo ele, ciclos de seca como o que o Nordeste está enfrentando
neste ano serão mais comuns. "Nada impede que o Nordeste tenha um ano com
excesso de água, mas a tendência ao longo dos anos é de diminuição da
precipitação em toda a região."
O estudo também avança no conhecimento sobre o impacto
das mudanças climáticas na Amazônia. A área mais ameaçada é a parte oriental da
floresta, que além de estar mais vulnerável ao clima também enfrenta forte
pressão da fronteira agrícola. O risco é de uma mudança do tipo de floresta na
região – ela pode ficar mais pobre, com menor biomassa, fauna e flora.
Apesar
disso, o relatório considera que o aquecimento global não é a principal ameaça
à Amazônia. A continuidade do desmatamento
traz riscos mais imediatos à floresta do que a alteração nas médias de
temperatura. Algumas projeções apontam que, se a Amazônia perder mais de 40% da
sua cobertura florestal, haverá uma mudança drástica na temperatura, podendo
resultar em um aquecimento regional de até 4ºC. Atualmente, a Amazônia já
perdeu cerca de 17% de sua cobertura florestal.
O Relatório de Avaliação Nacional também reserva um
espaço para as incertezas existentes nas pesquisas sobre clima no Brasil.
Segundo o estudo, há incertezas sobre a quantidade de gases de efeito estufa
que serão emitidos no futuro, sobre as mudanças naturais do clima e sobre as
limitações dos modelos de computador que simulam a temperatura. Segundo
Ambrizzi, essas incertezas mostram que o país ainda tem muito a avançar na
pesquisa climática. "Nós temos poucos pesquisadores atuando. Em muitas
áreas do Brasil, faltam dados. A gente espera que os tomadores de decisão
possam incentivar a pesquisa para diminuir essas incertezas. (oglobo)
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