quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

A aceleração do degelo global

Os anos de 2016 e 2017 bateram todos os recordes de degelo global. Com o aquecimento da temperatura, a tendência de perda do gelo nos polos e nos glaciares é bastante clara. A curva apresentada no gráfico acima tem uma distribuição bimodal, pois o hemisfério Sul tem pico de gelo em junho e julho e um pico de degelo em fevereiro e março. O máximo do gelo global acontece entre os meses de outubro e novembro. Seguindo as curvas anuais (todas com este mesmo tipo bimodal de distribuição), nota-se que elas mostram uma tendência de queda em relação à média de 1981-2010, sendo que a redução do gelo foi especialmente acentuada nos dois últimos anos.
Porém, chama a atenção que o padrão de queda na extensão de gelo, desde setembro de 2016, não tem paralelo nos últimos 40 anos, quando se começou as medidas por satélite. A curva de 2016 sofreu uma queda abruta no último trimestre do ano (outubro a dezembro) e continuou batendo recordes de baixa nos quatro primeiros meses de 2017.
O filme “Before the Flood” retrata como a civilização está gerando problemas crescentes no Planeta e é um poderoso instrumento de conscientização dos problemas climáticos e da grave crise ambiental por que passa a humanidade. A probabilidade de colapso ambiental tende a aumentar enquanto o governo Donald Trump corta os gastos para a proteção do meio ambiente e aumenta os gastos militares e os incentivos para a indústria fóssil. Incentivar o consumo conspícuo e retirar os EUA do Acordo de Paris é reforçar a perspectiva de desastre.
Enquanto a governança global está sobre ameaça devido ao crescimento do nacionalismo e do militarismo, o Acordo de Paris está sob ameaça e vai ficando difícil interromper o processo de degelo nos polos, que bateram todos os recordes em 2016 e 2017, como mostra os gráficos abaixo da National Snow & Ice Data Center (NSIDC).
Assim o aquecimento global continua sendo a maior ameaça civilizacional e o declínio do volume global de gelo (incluindo Groenlândia e os glaciares) é uma realidade inquestionável e extremamente grave, como mostra o gráfico abaixo.
O fato inescapável é que o aumento das emissões de gases de efeito estufa (a queima de combustíveis fósseis, liberação de gás metano na pecuária e o degelo do permafrost, etc.) eleva a temperatura da atmosfera e dos oceanos e aumenta o degelo global, acelerando a elevação do nível dos oceanos. A Groenlândia tem o potencial de elevar os oceanos em, pelo menos, 6 metros e a Antártica em mais de 60 metros. O degelo total pode provocar a subida em mais de 70 metros. Mas apenas 3% de degelo global já seria suficiente para elevar as águas marinhas em mais de 2 metros, nível capaz de provocar grandes danos. A cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, é uma das mais vulneráveis do Brasil e é a maior aglomeração urbana a ser atingida pela elevação dos oceanos.
Há dois bilhões de pessoas que vivem a menos de dois metros do nível do mar no mundo. O naufrágio das áreas costeiras vai, dentre outros efeitos, agravar o problema dos deslocados e refugiados do clima. Muitas áreas agricultáveis nos deltas dos rios ficarão imprestáveis para a geração de comida, podendo gerar grande insegurança alimentar. A crise dos refugiados da guerra da Síria ou do Iêmen vai parecer um acontecimento trivial perto da crise gerada pela invasão das águas salgadas nas costas litorâneas de todo o mundo. Parece que o futuro será menos doce e mais salgado. (ecodebate)

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