Viveremos 100 anos. O que
fazer com os 30 anos a mais?
Há
dois séculos passar dos 40 anos era um milagre. Os que conseguiam eram
considerados pouco menos que seres benditos pelos deuses. Mas, graças aos
avanços médicos e sociais, a esperança de vida começou a aumentar a um ritmo
considerável nos finais do século XIX. Agora, viver até os setenta e poucos
anos é o habitual. E tudo aponta que viver até os 100 anos será, dentro de
pouco tempo, bastante normal. Esta
expectativa é celebrada pelas ciências como uma vitória da humanidade contra a
morte. Mas, como viveremos esses novos anos? Podemos nos permitir o luxo de ser
mais longevos?
No
mundo científico se estudam essas questões tratando de vaticinar como será a
velhice me poucos anos e como frear o incremento da desigualdade e da solidão,
dois males especialmente associados a essa idade.
Um
caso extremo é o Japão. Proporcionalmente é o país com maior número de idosos.
Os espanhóis vêm logo abaixo dos nipônicos. E é do Japão que vem os fatos mais
estarrecedores. Além das dezenas de idosos que morrem a cada ano no verão,
vítimas do calor abrasador e do esquecimento, começam a surgir inúmeros casos
de idosos que cometem pequenos delitos, como roubar em lojas, para passar uma
temporada na prisão. Ali, dizem, se sentem mais cuidados que fora das grades.
Onde estavam, antes da prisão, se sentiam extremamente solitários ou o dinheiro
não era suficiente para viver um mês.
Deixando
de lado esta opção radical nipônica, se viveremos mais anos em razoáveis
condições de saúde,
poderemos transformar essa larga etapa de velhice em um bom projeto de vida? Os
cientistas respondem a essa indagação afirmando que em um número cada vez
maior, os indivíduos transformarão sua prolongada velhice em uma época de
benefício próprio e não de penosa espera da morte. Os argumentos estão dados
com as mudanças alimentares e com os exercícios a que os idosos já estão
acorrendo.
As mudanças no mundo laboral para os idosos.
Se o século XX foi o da luta pela redistribuição da renda, o XXI será o
da redistribuição do trabalho. A jornada poderia ser reduzida durante a criação
dos filhos por alguns anos. Seriam recuperadas no futuro. A alternativa é de
trabalhar quatro dias na semana e postergar a aposentadoria. Pode ser que a
vida laboral comece mais tarde e se estenda até os 75 anos. Quando chegasse o
momento de retirar-se, o sistema poderia ser mais flexível: trabalhar em tempo parcial
ou por conta própria (reduzindo a quantia da pensão temporalmente).
Mudanças sociais e políticas para idosos.
Mas
além do assunto laboral, é provável que ocorram mudanças sociais nos próximos
anos. Por exemplo, que se generalize a ideia de ter várias vidas matrimoniais.
Nos países com mais idosos, o casamento entre pessoas com mais de 60 anos foram
multiplicados por cinco. Também poderiam ampliar a idade máxima para contraírem
empréstimos bancários sem aumento exorbitantes de juros, cobrados a título de
seguros bancários.
A
questão e fundo é o que fazer com esses 20 a 30 anos de vida que agora seguem
com frequência a aposentadoria. Faltam ideias que cubram esse novo período. Não
há um manual de instruções. Dispor de mais tempo livre para fazer tudo
que o trabalho não permitiu fazer é uma das coisas positivas que vão à cabeça.
Viajar, ler, cuidar dos netos, organizar-se para reivindicar melhorias nas
condições de vida dos idosos.
Os idosos foram às ruas.
As
recentes manifestações em alguns países europeus para reclamar pensões mais
dignas são um sinal da vontade dos idosos de influir. Tradicionalmente
considerados como inexistentes pelos políticos, os idosos exigem mais. Esse
grupo de idosos que foi às ruas europeias era tido com pouca inclinação para as
mudanças. Participavam menos. Isto foi rompido. Não só os
"millenials" são diferentes, seus avós europeus também o são. Em sua
juventude viveram com os Beatles e Rolling Stones e protagonizaram a transição
a um mundo mais libertário. Puderam estudar mais que seus pais e viajaram mais.
Deram a seus filhos muito mais comodidades. É, provavelmente, a geração de
aposentados melhor preparada da história. E começa a ficar claro que não estão
dispostos a renunciar ao compromisso político que marcou sua juventude. Essas
sementes estão sendo plantadas no Brasil. Logo florescerão. Basta querer, pois
sabem como fazer.
Os
mais idosos chegaram às ruas para ficar e seus votos influirão no futuro, com
maior intensidade que no passado. Serão os idosos que derrubarão as clássicas e
bolorentas ideias de esquerda e direita. Na verdade, o próprio conceito de
idade é que muda. Ser idoso não será o mesmo, mas tampouco o será ser jovem.
Cada vez se verão coisas mais próprias da juventude em idades avançadas.
O tempo de duração de uma
vida se redistribui. Somos mais tempo jovens e, da mesma forma, começamos a ser
velhos mais tarde e durante mais tempo.
(campograndenews)
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