Como esperado, um iceberg com
a metade do tamanho da Jamaica (e maior que o Distrito Federal) finalmente se
soltou da plataforma de gelo Larsen C, da Antártida. Chamado de A68, o pedaço
de gelo de 5.800 km2 é um dos maiores já registrados — mas
o que acontece agora, tanto para o iceberg quanto para a plataforma de gelo, é
apenas palpite.
O evento de separação foi confirmado
pelo instrumento de satélite Aqua MODIS, da NASA, e pela missão Copernic-Sentinel-1, da Agência Espacial Europeia (ESA,
na sigla em inglês). A ESA está no momento
prevendo uma segunda passagem da Sentinel1 sobre o local para se
certificar novamente do evento.
A fissura que vinha crescendo
há anos finalmente chegou ao mar, entre 10 e 12 de julho, liberando o
dominante pedaço de gelo no oceano. O evento de separação em si não teria
sido dramático para um observador, já que o iceberg tremendamente pesado agora
se dirigirá lentamente para o norte no Mar de Weddell. O A68 contém o dobro do
volume de água do Lago Erie, mas não contribuirá para o aumento do nível do mar
porque já está deslocando uma enorme quantidade de água do mar.
A questão agora é o que
acontecerá depois. A plataforma de gelo Larsen C foi reduzida em mais de 12%, e
a complexidade da Península Antártica foi alterada, talvez para sempre. A
plataforma de gelo restante deve crescer nos próximos anos, mas uma pesquisa
da Universidade de Swansea sugere que a região agora é mais
precária e menos estável. Há uma boa chance de que a Larsen C possa seguir os
passos de sua vizinha, a Larsen B, que entrou em colapso depois de um evento de
parto similar em 2002.
Imagem pancromática da NASA Suomi VIIRS, de 12 de
julho de 2017, confirmando a separação.
“Estamos antecipando esse
evento há meses e ficamos surpresos quanto tempo demorou para que a fenda
rompesse os últimos quilômetros de gelo. Continuaremos monitorando o impacto
desse evento de parto na plataforma de gelo Larsen C e o destino desse enorme
iceberg “, disse Adrian Luckman, investigador principal do Projeto MIDAS, com
sede no Reino Unido, que acompanha o iceberg de perto Nos últimos meses.
“Temos esperado esse evento
há meses e ficamos surpresos com quanto tempo demorou para que a fenda rompesse
os últimos quilômetros de gelo. Continuaremos monitorando tanto o impacto desse
evento de separação na plataforma de gelo Larsen C e o destino desse enorme
iceberg “, disse Adrian Luckman, investigador principal do Projeto MIDAS, com
sede no Reino Unido, que tem monitorado o iceberg de perto nos últimos meses.
Quanto ao iceberg em si, ele
é agora um dos maiores já registrados, e seu destino é difícil de prever.
Luckman diz que ele pode permanecer inteiro, mas é mais provável que ele
se quebre em fragmentos.
“Parte do gelo pode
permanecer na área por décadas, enquanto partes do iceberg podem se dirigir
para o norte, em águas mais quentes”, disse Luckman em um comunicado.
Existe uma tentação
em atribuir esse evento de separação raro e dramático à mudança climática,
mas cientistas têm se esforçado bastante para ressaltar que isso
provavelmente é uma ocorrência natural. É isso que as prateleiras de gelo fazem
— elas crescem até o ponto de colapso, e então o ciclo se repete. Escrevendo
no The
Conversation, Luckman explica:
Esse
evento também tem sido amplamente, mas de forma muito simplista, ligado às mudanças climáticas. Isso não é surpreendente, porque mudanças
notáveis nas geleiras da Terra e nas placas de gelo são normalmente associadas
a temperaturas ambientais em crescimento. Os colapsos das (plataformas de gelo)
Larsen A e B já foram associados ao aquecimento regional, e a separação do iceberg deixará a Larsen
C em sua posição mais recuada em registros que remontam há mais de cem anos.
No entanto, em
imagens de satélite da década de 1980, a fenda já era claramente uma
característica há muito tempo estabelecida, e não há evidências diretas para
vincular seu crescimento recente ao aquecimento atmosférico, o que não é
sentido profundamente o bastante dentro da plataforma de gelo, ou ao
aquecimento do oceano, que é uma fonte improvável de mudanças, considerando que
maior parte da Larsen C tem engrossado recentemente. Provavelmente é cedo demais para jogar a
culpar por esse evento diretamente nas mudanças climáticas geradas por seres
humanos.
Mas tudo isso não
significa que a mudança climática não seja relevante para essa história. O que
acontece depois — tanto para a camada de gelo como para o novo iceberg — pode
ser definitivamente influenciado por águas mais quentes, alterações nos padrões
de fluxo de vento e água e assim por diante. De certa forma, a história da
Península Antártica, da Larsen C e de seu novo bebê A68 acaba de começar. (uol)
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