segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Mudança climática e poluição prejudicam a saúde e causam milhões de mortes

Mudança climática e poluição atmosférica prejudicam a saúde e causam milhões de mortes prematuras.
Novo relatório na revista médica The Lancet examina os efeitos da mudança climática na saúde humana e suas implicações para a sociedade.
O Relatório de 2018 da pesquisa The Lancet Countdown: Monitorando o Avanço na Saúde e na Mudança Climática mostra que a temperatura crescente resultante da mudança climática já está nos expondo a riscos de saúde inaceitavelmente altos. Ele alerta, pela primeira vez, que idosos na Europa e no Mediterrâneo Oriental estão especialmente vulneráveis a extremos de calor, acentuadamente superiores que na África e no Sudeste Asiático. O risco na Europa e no Mediterrâneo Oriental resulta da população idosa que mora em cidades, com respectivamente 42% e 43% dos maiores de 65 anos estando vulneráveis ao calor. Na África, crê-se que 38% estão vulneráveis, ao passo que na Ásia são 34%.
O relatório também afirma que a poluição do ar resultou em vários milhões de mortes prematuras devido a material particulado fino em 2015, uma conclusão dos pesquisadores do IIASA que confirma avaliações anteriores. Já que a poluição atmosférica e os gases de efeito estufa costumam compartilhar fontes comuns, mitigar a mudança climática constitui uma grande oportunidade de beneficiar diretamente a saúde humana.
Proeminentes médicos, acadêmicos e formuladores de políticas de 27 organizações contribuíram com análises e elaboraram o relatório em parceria. Junto ao IIASA, os parceiros por detrás da pesquisa incluem o Banco Mundial, a Organização Mundial da Saúde (OMS), a University College London e a Universidade Tsinghua, entre outros.
Gregor Kiesewetter, pesquisador do IIASA, liderou uma equipe do programa de pesquisa Poluição Atmosférica e Gases de Efeito Estufa, que estimou os perigos da poluição do ar para a saúde humana. Uma nova e importante descoberta este ano foi a atribuição global de mortes por fonte. Gregor e a equipe descobriram que apenas o carvão é responsável por 16% das mortes prematuras relacionadas à poluição, cerca de 460 mil, o que eles afirmam tornar a descontinuação do uso do carvão uma “intervenção crucial para a saúde pública da qual não nos arrependeremos no futuro”.
Gregor e a equipe usaram o Modelo GAINS, desenvolvido no IIASA, que calcula as emissões de precursores do material particulado baseado na repartição pormenorizada de setores econômicos e combustíveis usados.
Impactos na saúde da exposição ao material particulado fino no ambiente (PM2.5) em 2015, pelas principais fontes de poluição. Carvão como combustível é destacado por tracejado.
O setor residencial contribui grandemente para a poluição do ar, principalmente pelos combustíveis sólidos como biomassa e carvão. A indústria, a geração de eletricidade, o transporte e a agricultura também são contribuintes importantes. Embora a eliminação rápida do carvão nas casas e na geração de eletricidade devesse ser uma meta fundamental, por ele ser altamente poluente, não é só isso que deveria ser feito.
“A atribuição mostra que infelizmente uma abordagem focada em um único setor ou combustível não resolverá o problema – a poluição do ar é uma questão multifacetada que precisa de estratégias integradas entre muitos setores, os quais diferirão de país pra país. Isto é o que normalmente fazemos com o modelo GAINS regional e local: aconselhar os formuladores de políticas sobre as abordagens mais eficazes para lidar com a poluição do ar em seus contextos específicos,” diz Gregor.
O relatório contém várias outras descobertas dignas de manchete:
* Em 2017, 157 milhões de pessoas vulneráveis a mais do que em 2000 foram submetidas a ondas de calor, e 18 milhões a mais do que em 2016.
* 153 bilhões de horas de trabalho foram perdidas em 2017 devido ao calor extremo resultante da mudança climática. Somente a China perdeu 21 bilhões de horas, o equivalente a um ano de trabalho de 1,4% de sua população ativa. A Índia perdeu 75 bilhões de horas, o equivalente a 7% de sua população ativa total.
* O calor exacerba consideravelmente a poluição atmosférica urbana, com 97% das cidades em países de baixo e médio rendimento não atendendo às diretrizes de qualidade do ar da OMS.
* O estresse térmico, um efeito precoce e severo da mudança climática, é comum e nós, e os sistemas de saúde dos quais dependemos, não estamos preparados para lidar com ele.
* A temperatura crescente e o calor fora de época são responsáveis pela disseminação da cólera e da dengue, com capacidade vetorial para o aumento de sua transmissão em muitas áreas endêmicas.
* A mudança média de temperatura global a qual os humanos estão expostos é mais que o dobro da média da mudança global, com a temperatura aumentando 0,8°C versus 0,3°C.
Hugh Montgomery, co-presidente do The Lancet Countdown na Saúde e na Mudança Climática e diretor do Instituto para Saúde e Performance Humanas da University College London, diz: “O estresse térmico está tendo graves efeitos – especialmente entre os idosos em áreas urbanas e aqueles que já tem problemas de saúde, como doenças cardiovasculares, diabetes ou doença renal crônica. Sob altas temperaturas, trabalhos externos, especialmente na agricultura, tornam-se perigosos. Áreas desde o Norte da Inglaterra e a Califórnia até a Austrália tem sofrido incêndios com mortes diretas, deslocamento e perda de moradia, bem como impactos respiratórios devido à inalação de fumaça.
O relatório, que analisa 41 indicadores distintos abrangendo uma série de temas, diz que passos urgentes são necessários para proteger as pessoas agora dos impactos da mudança climática. Em especial, leis trabalhistas mais rígidas são necessárias para proteger os trabalhadores de extremos de calor e hospitais e sistemas de saúde precisam estar melhores equipados para lidar com o calor extremo. Mas o relatório também destaca que há limites na adaptação ao aumento da temperatura, e se deixados inalterados, a mudança climática e o calor arrasarão até o mais forte dos sistemas. Portanto, a necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa é crítica.
O ano de 2018 tem sido ainda mais quente em muitas partes do mundo e o estudo da World Weather Attribution para a Europa Setentrional mostrou que a onda de calor deste verão teve o dobro de probabilidade de ocorrer, como resultado da mudança climática causada pelo homem. Das 478 cidades pesquisadas no relatório, 51% preveem que a mudança climática comprometerá seriamente sua infraestrutura de saúde pública.
“O mundo ainda precisa cortar eficazmente suas emissões. A velocidade da mudança climática ameaça nossas vidas e de nossas crianças. Seguindo o ritmo atual, em 2032 esgotaremos nosso orçamento de carbono para manter o aquecimento abaixo de dois graus. Os impactos da mudança climática na saúde acima deste nível ameaçam sobrecarregar nossos serviços de saúde e de emergência,” diz Anthony Costello, co-presidente do The Lancet Countdown.
Em 2015, 803.000 de mortes prematuras e evitáveis aconteceram em 21 países asiáticos foram devido a poluição do ar.
Outras descobertas do relatório incluem um novo indicador de mapeamento de extremos de chuva que identificou a América do Sul e o Sudeste Asiático entre as regiões mais expostas a enchentes e secas, e, no campo de segurança alimentar, o relatório aponta 30 países vivenciando queda no rendimento agrícola, revertendo a anterior tendência de melhora global de uma década. Estima-se que o potencial agrícola está se reduzindo em todas as regiões, conforme os extremos de calor se tornam mais frequentes e mais severos. (ecodebate)

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