Humanidade consome recursos da Terra a taxas
insustentáveis, alerta a ONU.
George
Monbiot, correspondente do jornal britânico The Guardian e conhecido por seu
ativismo ambiental e político, fez um apelo surpreendente para que as pessoas
no Reino Unido reduzissem o uso de carros em 90% ao longo da próxima década.
Muitos
indivíduos podem se mostrar avessos a essa ideia, mas talvez ela soe um pouco
menos bizarra à luz de um novo relatório da ONU Meio Ambiente sobre a taxa com
que estamos abocanhando os recursos do planeta Terra.
Refinaria
de petróleo na Colômbia.
A
indústria global do automóvel necessita de quantidades enormes de metais vindos
da mineração, assim como de outros recursos naturais, como a borracha. E a
transição para os veículos elétricos, embora necessária para conter a poluição
do ar e as emissões de gases do efeito estufa, também tem consequências
adversas para a natureza — a mineração em larga escala do lítio para as
baterias usadas nos veículos elétricos poderia provocar novas dores de cabeça
ambientais.
O
Panorama Global sobre Recursos 2019, relatório da ONU Meio Ambiente preparado
pelo Painel Internacional sobre Recursos, examina as tendências em recursos
naturais e nos seus padrões correspondentes de consumo desde os anos 1970.
Entre as principais descobertas da pesquisa, estão as seguintes conclusões:
A
extração e o processamento de materiais, combustíveis e alimentos contribuem
com metade do total de emissões globais de gases do efeito estufa e com mais de
90% da perda da biodiversidade e do estresse hídrico;
A
extração de recursos mais do que triplicou desde 1970, incluindo um aumento de
cinco vezes no uso de minerais não metálicos e um aumento de 45% no uso de
combustíveis fósseis;
Até
2060, o uso global de materiais poderia dobrar para 190 bilhões de toneladas (a
partir dos atuais 92 bilhões), enquanto as emissões de gases do efeito estufa
poderiam aumentar 43%.
Além
dos transportes, outro grande consumidor de recursos é o setor de construção,
que cresce rapidamente.
O
cimento, o insumo fundamental para a produção de concreto, o material de
construção mais usado no mundo, é uma grande fonte de gases do efeito estufa e
responde por algo em torno de 8% das emissões de dióxido de carbono, de acordo
com um relatório recente da Chatham House.
Tanto
a produção de concreto quanto a de argila (para tijolos) incluem processos que
consomem muita energia para a extração de matéria-prima, além de etapas de
transporte e uso de combustíveis para o aquecimento de fornos.
A
areia de qualidade para uso na construção está sendo extraída atualmente a
taxas insustentáveis.
“A
extração de materiais é um dos principais responsáveis pelas mudanças climáticas
e perda da biodiversidade — um desafio que só vai piorar a não ser que o mundo
empreenda urgentemente uma reforma sistemática do uso de recursos”, afirma o
especialista em mudanças climáticas da ONU Meio Ambiente, Niklas Hagelberg.
“Tal reforma é tão necessária quanto possível.”
Transição energética
Dados
de 2014 do Banco Mundial mostram que 66% da energia global é fornecida por
combustíveis fósseis. A diretora-executiva interina da ONU Meio Ambiente, Joyce
Msuya, pediu a aceleração da transição energética, dos combustíveis fósseis —
carvão, petróleo e gás — para fontes renováveis de energia, como eólica e
solar.
“Precisamos
ver uma mudança quase total para as fontes renováveis de energia, que têm o
poder de transformar vidas e economias ao mesmo tempo em que protegem o
planeta”, afirmou a dirigente em uma carta para os participantes da Assembleia
da ONU para o Meio Ambiente, realizada recentemente em Nairóbi, no Quênia.
O
chamado da chefe da ONU Meio Ambiente veio poucos dias após o fundo soberano da
Noruega — o maior do mundo, de 1 trilhão de dólares — sinalizar que planeja
vender algumas das suas ações em empresas de petróleo e gás. A manobra é um
golpe simbólico na indústria dos combustíveis fósseis, que vai reverberar entre
empresas de energia e seus investidores.
“Agora,
mais do que nunca, uma ação urgente e sem precedentes é exigida de todas as
nações” para reduzir o aquecimento global, afirma o Relatório de Lacuna de
Emissões da ONU Meio Ambiente de 2018. “Para transpor a lacuna de emissões de
2030 e garantir uma descarbonização de longo prazo, os países também têm que
aprimorar as suas ambições de mitigação”, acrescenta o documento.
Estamos
consumindo os recursos da Terra a uma taxa insustentável.
O
Painel Internacional sobre Recursos foi lançado pela ONU Meio Ambiente em 2007,
para construir e compartilhar os conhecimentos necessários para melhorar o
nosso uso de recursos no mundo todo. O painel é formado por cientistas
eminentes, altamente qualificados em questões de gestão de recursos, tanto de
países desenvolvidos quanto de países em desenvolvimento, além de integrantes
da sociedade civil e de organizações industriais e internacionais. (ecodebate)
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