terça-feira, 3 de março de 2020

Greta Thunberg pede o fim do uso dos combustíveis fósseis

Greta Thunberg pede o fim do uso dos combustíveis fósseis e emissão zero de CO2.
"Nossa casa ainda está pegando fogo e vocês estão jogando gasolina nas chamas!" - Greta Thunberg.
O Fórum de Davos – que reúne a elite econômica e política do mundo – convidou a adolescente sueca Greta Thunberg para ocupar um lugar de destaque na reunião de janeiro de 2020, na Suíça.
A 50ª reunião anual do Fórum Econômico Mundial estabeleceu como preocupação central os problemas ambientais. O “Relatório de Riscos Globais 2020”, publicado no dia 15/01/2020, trouxe, pela primeira vez, as preocupações ambientais em todos os cinco pontos de atenção para os governos e os mercados.
O documento sobre os riscos globais ouviu 750 especialistas e tomadores de decisão globais que chamaram a atenção para cinco riscos ecológicos que podem transformar o mundo nos próximos dez anos, iniciando uma rota para um colapso ambiental catastrófico. Os 5 maiores riscos globais são:
Eventos climáticos extremos, como enchentes e tempestades;
Falhas nos combates às mudanças climáticas;
Perda de biodiversidade e esgotamento de recursos;
Desastres naturais, como terremotos e tsunamis;
Desastres ambientais ​​causados pelo ser humano.
Nos 50 anos do WEF, o fundador, Klaus Schwab, disse que o Fórum iria levar em consideração o “efeito Greta Thunberg”. E a ambientalista adolescente sueca não decepcionou. Em 17/01/10 ela participou de uma mobilização na cidade Suíça de Lausanne, reunindo cerca de 15 mil manifestantes de todas as gerações. Greta lembrou que já foram 74 semanas dos protestos ‘Sextas-Feiras pelo Futuro’ e mandou o seguinte recado: “Vocês ainda não viram nada, a gente garante”.
No Fórum, Greta Thunberg levou a mensagem do abandono dos combustíveis fósseis e da emissão zero de CO2. Greta mostrou para os líderes mundiais que os ganhos econômicos trazidos pela energia fóssil no passado, estão trazendo caos climático hoje em dia e pode gerar um armagedon ambiental no futuro.
De fato, em 250 anos, a economia global cresceu 135 vezes, a população mundial cresceu 9,2 vezes e a renda per capita cresceu 15 vezes. Este crescimento demoeconômico foi maior do que o de todo o período dos 200 mil anos anteriores, desde o surgimento do Homo sapiens. Mas tudo isto foi realizado com a queima de combustíveis fósseis como mostra o gráfico abaixo.
Com isto, as emissões globais de CO2 estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de toneladas em 1950, chegaram a 25 bilhões de toneladas no ano 2000 e atingiram 37 bilhões de toneladas em 2019. Em consequência, a concentração de CO2 que estava abaixo de 280 partes por milhão (ppm) antes da Revolução Industrial e Energética, iniciou uma trajetória de aumento ininterrupto. A concentração de CO2 na atmosfera chegou a 300 ppm em 1920, atingiu 310 ppm em 1950, 350 ppm em 1987, 400 ppm em 2015 e chegou a 411,4 ppm em 2019.
Como resultado do efeito estufa, a temperatura da Terra aumentou, sendo que os últimos 6 anos foram os mais quentes desde 1880. A temperatura de 2019 foi 0,95º C mais alta do que a média do século XX. Mas em relação ao período pré-industrial a anomalia foi de cerca de 1,2ºC. Na primeira metade do século XX as temperaturas estavam abaixo da média do século e passaram a ficar bem acima da média na segunda metade do século. Já no século XXI o aumento é ainda mais significativo, pois das 19 maiores temperaturas, 18 ocorreram entre 2001 e 2019 e 8 dos anos mais quentes ocorreram na atual década.
A tendência do aumento da temperatura entre 1880 e 2019 foi de 0,07ºC por década. A tendência entre 1950 e 2019 foi de 0,14ºC por década e entre 1999 e 2019 foi de 0,22ºC por década. Mas o mais surpreendente é que a tendência 2009 a 2019 apresentou um aumento de 0,36ºC.
Por conta de todos estes dados, Greta Thunberg disse em Davos, em 2019: “Nossa casa está pegando fogo”. Ela deixou claro que a crise climática é a ameaça mais urgente do nosso tempo. E o tempo para reverter o aquecimento global está se esgotando. No WEF de 2020 Greta reafirmou o que disse ano passado e foi além: “Nossa casa ainda está pegando fogo e vocês estão jogando gasolina nas chamas!”. Os incêndios da Austrália, mesmo com todas as suas dimensões catastróficas, são apenas uma pequena amostra das dificuldades que vêm pela frente.
Em 2010, escrevi o artigo “Vamos nos preparar para o fim do mundo (do petróleo)”, no Ecodebate (27/07/2010) chamando a atenção para a necessidade de se preparar para o fim dos combustíveis fósseis, promovendo uma mudança da matriz energética e evitando um desastre ambiental.
Em 2020, Greta Thunberg exigiu o fim do uso dos combustíveis fósseis e a emissão zero de CO2. O Secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, tentou desqualificar a liderança da adolescente sueca, dizendo que Greta deveria primeiro ter um diploma de economia para depois falar sobre o fim dos combustíveis fósseis. Mas ela não se perturbou e disse que não é necessário um diploma de economia para saber que o “Orçamento Carbono” está se esgotando e que a produção e o subsídio aos combustíveis fósseis não são compatíveis com a manutenção da temperatura global abaixo de 1,5ºC. Ela fez um discurso muito incisivo e importante na 50ª edição do WEF em Davos, como pode ser visto abaixo:
Discurso de Greta Thunberg no Fórum Econômico de Davos, 21/01/2020 (tradução livre)
Nossa casa ainda está pegando fogo e vocês estão inflamando as chamas!
Há um ano, vim a Davos e disse que nossa casa está pegando fogo. Eu disse que queria que vocês entrassem em pânico. Fui avisada de que é muito perigoso fazer com que as pessoas entrem em pânico com a crise climática. Mas não se preocupem. Está bem. Confie em mim, eu já fiz isso antes e garanto que isso não leva a nada.
E, para constar, quando nós, crianças, pedimos para vocês entrarem em pânico, não estamos dizendo para vocês continuarem como antes.
Não estamos dizendo para vocês confiarem em tecnologias que nem existem hoje em grande escala e que a ciência diz que talvez nunca existirá. Não estamos dizendo para vocês continuarem falando sobre alcançar “emissões líquidas zero” ou “neutralidade de carbono” enganando e mexendo com números.
Não estamos dizendo para vocês “compensarem suas emissões” apenas pagando alguém para plantar árvores em lugares como a África, enquanto ao mesmo tempo florestas como a Amazônia estão sendo abatidas a uma taxa infinitamente maior.
Plantar árvores é bom, é claro, mas não chega nem perto do que precisa ser feito, e não pode substituir a mitigação real ou reselvagerizar a natureza.
Sejamos claros. Não precisamos de uma “economia de baixo carbono”. Não precisamos “reduzir as emissões”. Nossas emissões precisam parar, se quisermos ter uma chance de permanecer abaixo da meta de 1,5°C. E até termos as tecnologias que em escala possam reduzir nossas emissões, devemos esquecer o zero líquido – precisamos de zero real.
Como as metas líquidas distantes de emissão zero não significarão absolutamente nada se continuarmos ignorando o orçamento de dióxido de carbono – que se aplica hoje, não em datas futuras distantes. Se as altas emissões continuarem como agora, mesmo por alguns anos, esse orçamento restante em breve será completamente esgotado.
O fato de os EUA deixarem o acordo de Paris parece indignar e preocupar a todos, e deveria.
Mas o fato de que estamos prestes a falhar nos compromissos que vocês assinaram no Acordo de Paris não parece incomodar nem mesmo as pessoas no poder.
Qualquer plano ou política que não inclua reduções radicais de emissão na fonte a partir de hoje é completamente insuficiente para cumprir os compromissos de 1,5°C ou muito abaixo de 2°C do Acordo de Paris.
E novamente – não se trata de direita ou esquerda. Não poderíamos nos importar menos com a política do seu partido.
Do ponto de vista da sustentabilidade, a direita, a esquerda e o centro falharam. Nenhuma ideologia política ou estrutura econômica foi capaz de lidar com a emergência climática e ambiental e criar um mundo coeso e sustentável. Porque esse mundo, caso você não tenha notado, está pegando fogo no momento.
Vocês dizem que as crianças não devem se preocupar. Vocês dizem: ‘Deixe isso conosco. Nós vamos resolver isso, prometemos que não vamos decepcioná-los. Não sejam tão pessimistas’.
E então – nada. Silêncio. Ou algo pior que o silêncio. Palavras vazias e promessas que dão a impressão de que ações suficientes estão sendo tomadas.
Obviamente, todas as soluções não estão disponíveis nas sociedades de hoje. Também não temos tempo para esperar que novas soluções tecnológicas estejam disponíveis para começar a reduzir drasticamente nossas emissões.
Então, é claro, a transição não será fácil. Vai ser difícil. E, a menos que comecemos a enfrentar isso agora juntos, com todas as cartas na mesa, não conseguiremos resolver a tempo.
Nos dias que antecederam o 50º aniversário do Fórum Econômico Mundial, entrei para um grupo de ativistas climáticos que exigem que vocês, os líderes empresariais e políticos mais poderosos e influentes do mundo, comecem a tomar as medidas necessárias.
Exigimos que, no Fórum Econômico Mundial deste ano, todas as empresas, bancos, instituições e governos:
Interrompam imediatamente todos os investimentos em exploração e extração de combustíveis fósseis.
Finalizem imediatamente todos os subsídios aos combustíveis fósseis.
E façam imediatamente o desinvestimento em combustíveis fósseis.
Não queremos que essas coisas sejam feitas até 2050, 2030 ou até 2021, queremos que isso seja feito agora.
Pode parecer que estamos pedindo muito. E vocês obviamente dirão que somos ingênuos. Mas este é apenas o esforço mínimo necessário para iniciar a rápida transição sustentável.
Então, ou vocês fazem isso ou terão que explicar aos seus filhos por que estão desistindo da meta de 1,5°C.
Desistir sem sequer tentar.
Bem, estou aqui para lhes dizer que, diferentemente de vocês, minha geração não desistirá sem lutar.
Os fatos são claros, mas ainda são muito desconfortáveis ​​para vocês abordarem.
Vocês desistem de abordar estes temas porque acham muito deprimente e que as pessoas vão desistir. Mas as pessoas não vão desistir. Vocês são aqueles que estão desistindo.
Na semana passada, encontrei mineiros de carvão na Polônia que perderam o emprego porque a mina estava fechada. E mesmo eles não desistiram. Pelo contrário, eles parecem entender o fato de que precisamos mudar mais do que vocês.
Eu me pergunto, o que vocês diriam a seus filhos sobre qual foi a razão de fracassar e deixá-los diante do caos climático que vocês conscientemente jogaram sobre eles? A meta de 1,5°C? Isto parecia tão ruim para a economia que decidimos renunciar à ideia de garantir condições de vida futuras sem sequer tentar?
Nossa casa ainda está pegando fogo. Sua inação está alimentando as chamas a cada hora. “Ainda estamos dizendo para vocês entrarem em pânico e agir como se vocês amassem seus filhos acima de tudo”. (ecodebate)

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