África do Sul, Etiópia e RD
Congo: dinâmicas demoeconômicas e emissões de CO2.
“Cada
problema ambiental e social neste planeta finito se torna mais difícil e, em
última análise, impossível de resolver com o aumento global da população”-
David Attenborough.
A atmosfera é um bem comum
que está sendo poluído e desrespeitado. As emissões globais de CO2
que estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 37 bilhões de
toneladas em 2018. Em consequência a concentração de dióxido de carbono (CO2)
na atmosfera aumentou de aproximadamente 277 partes por milhão (ppm) em 1750, para
410 ppm em 2019. Isto fez os últimos 6 anos serem os mais quentes já
registrados. O aquecimento global obriga a humanidade a repensar suas
prioridades, pois suas consequências devastadoras deixaram de ser uma ameaça
prevista para o futuro e se transformaram em “emergência climática” que está
presente no cotidiano das atuais gerações.
Nos séculos XIX e XX, foram
os países com economias fortes e ricas os principais responsáveis pelas
emissões de gases de efeito estufa (GEE). Mas no século XXI, são os países em
desenvolvimento (principalmente China e Índia) que mais emitem GEE. Os países
em desenvolvimento também apresentam as maiores taxas de crescimento
populacional e econômico.
Em todos os países do mundo
as emissões de CO2 estão altamente correlacionadas com o crescimento
populacional. Mas estão ainda mais correlacionadas com o crescimento da
economia e o padrão de consumo destas populações. O crescimento demoeconômico
explica mais de 95% das emissões de CO2 entre 1880 e 2018. Embora as
emissões per capita da África – de 1,1 toneladas por pessoa – sejam baixas
quando comparadas com as emissões per capita da OCDE, o ritmo de crescimento
não pode ser ignorado.
O gráfico abaixo sintetiza o comportamento da
população, do Produto Interno Bruto (PIB) e das emissões de CO2 em
dois períodos selecionados: os últimos 40 anos do século XX (1959-99) e os
primeiros 16 anos do século XXI (2000-16) para a África do Sul, a Etiópia e a
República Democrática do Congo. O país mais desenvolvido do continente, a
África do Sul, possui as menores taxas de crescimento, enquanto a Etiópia e a
RD do Congo possuem as maiores taxas.
Do final do século passado
para o início do século XXI a África do Sul conseguiu reduzir o crescimento
populacional e o crescimento das emissões de CO2. Já a Etiópia
aumentou todos os 3 componentes, especialmente o crescimento do PIB e das
emissões de CO2. Já a República Democrática do Congo que estava em
crise e em guerra nas últimas décadas do século XX, viu o PIB e as emissões de
CO2 caírem, apesar do crescimento populacional. Mas nestes primeiros
16 anos do século XXI, o crescimento do PIB acelerou e as emissões dispararam.
A Etiópia e a RD do Congo
possuem emissões per capita muito baixas. Mas com a necessidade de apresentar
crescimento da economia diante do crescimento demográfico estima-se que as
emissões de CO2 vão aumentar muito e estes países podem ir à
contramão do Acordo de Paris.
Indubitavelmente, em todos os
países as emissões de CO2 estão altamente correlacionadas com o
crescimento populacional, mas populações com PIB grande emitem muito e
populações com PIB pequeno emitem pouco.
Sem dúvida, os países da
África precisam reduzir a pobreza e garantir uma melhor qualidade de vida para
seus habitantes. Porém, precisam respeitar o meio ambiente e evitar um
agravamento da situação climática. Por conseguinte, enfrentar a questão
demográfica é fundamental e vale a pena levar em consideração os alertas sobre
a explosão populacional.
Mais de 11 mil cientistas de
todo o mundo publicaram em 05/11/2019, na Revista BioScience, um alerta sobre a
ameaça de uma iminente catástrofe ambiental e declararam que o Planeta está
enfrentando uma emergência climática. Entre os “sinais vitais” apresentados
está a questão do crescimento demoeconômico. O documento diz: “O crescimento
econômico e populacional está entre os mais importantes fatores do aumento das
emissões de CO2 em decorrência da combustão de combustíveis
fósseis”. E afirmam: “Ainda crescendo em torno de 80 milhões pessoas por ano,
ou mais de 200.000 por dia, a população mundial precisa ser estabilizada e,
idealmente, reduzida gradualmente”.
A Divisão de População da ONU
mostra que a população da África do Sul é de 59 milhões de habitantes em 2020 e
vai chegar a 79 milhões em 2100, enquanto os números para a Etiópia são de
impressionantes 115 milhões e 294 milhões de habitantes e para a RD do Congo de
estonteantes 90 milhões e 362 milhões de habitantes. Com crescimento
populacional tão alto na Etiópia e na RD do Congo dificilmente estas nações vão
conseguir oferecer uma alta qualidade de vida para suas populações e para o
meio ambiente.
A Etiópia sofre com uma
constante seca: mais de 80% da população etíope vive da agricultura.
As catástrofes humanitárias
esquecidas do planeta. (ecodebate)
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