Atlas da Amazônia revela que
a deterioração do bioma se intensificou nos últimos anos.
Atlas da Amazônia revela que
um terço do bioma está sob grave pressão e ameaça. A deterioração se
intensificou nos últimos anos.
Foi divulgado em 08/12/20
pela Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada – Raisg o
Atlas – Amazônia sob pressão. O documento, que teve sua primeira versão publicada
em 2012, traz uma série de indicadores que fazem um raio-x da atual situação do
bioma. O estudo tem como marco temporal, para a maioria dos levantamentos, o
período entre 2000 e 2018, e traz dados classificados, em diferentes graus,
como “pressões e ameaças” e “sintomas e consequências”.
“Como pressões e ameaças
consideramos obras de infraestrutura, como estradas e hidrelétricas, atividades
extrativas como petróleo e mineração (incluindo o garimpo) e, por fim, a
atividade agropecuária, incorporada ao Atlas de 2020. Além das pressões e
ameaças, temos dados que chamamos de ‘sintomas e consequências’, a saber: o
desmatamento, as queimadas e a variação da densidade de carbono, este último
incorporado recentemente nas análises da Raisg”, explica a geógrafa e
pesquisadora Júlia Jacomini, em entrevista por telefone à IHU On-Line.
“Percebemos que nas últimas
décadas há um ritmo muito acelerado de crescimento das pressões e ameaças, bem
como dos sintomas e consequências das atividades humanas na Amazônia. Se na
primeira análise em 2012 já mostrava um quadro complicado, agora essas questões
todas se agravam. Infelizmente não existe uma ameaça que deixou de existir. O
que podemos observar, ao contrário, é que as ameaças estão em ritmo crescente”,
complementa.
O documento aponta que, a
partir de 2012, houve uma retomada na alta do desmatamento, com intensificação
acelerada entre os anos de 2015 e 2018, quando triplica a área afetada. “Os
resultados finais mostram que, entre 2000 e 2018, foram desmatados mais de 500
mil quilômetros de floresta na Amazônia, um território correspondente à
Espanha. Entre as principais pressões que levam a este desmatamento temos a
atividade agropecuária, responsável por 84% do total”, descreve Júlia. “Todas
essas ameaças vão se sobrepondo, levando ao número de que 30% da Amazônia está
sob pressão alta ou muito alta. Isso significa que, além da avaliação de cada
tema separadamente, buscamos fazer uma análise integrada destes dados”,
acrescenta.
Se de um lado o cenário em
nada inspira esperança, o que é verdadeiro, por outro, a experiência histórica
das áreas naturais de proteção e dos territórios indígenas são ótimos
indicadores do que fazer para proteger o bioma. “Temos algo importante a
destacar que são os territórios indígenas e as áreas naturais de proteção.
Quase 90% do desmatamento, nestes 18 anos, ocorreu fora dos territórios
indígenas e das áreas naturais protegidas”, ressalta a entrevistada.
Júlia Jacomini é pesquisadora
no Instituto Socioambiental – ISA e na Rede Amazônica de Informação
Socioambiental Georreferenciada – RAISG. Geógrafa pela UNESP-Rio Claro, é
especialista em Geoprocessamento Aplicado pela UFSCar e mestre em Integração da
América Latina pelo Prolam/USP.
IHU On-Line – Quais são os
indicadores estudados e apresentados no Atlas – Amazônia sob pressão?
Júlia Jacomini – A Rede
Amazônica de Informação Socioambiental – Raisg é uma rede de organizações da
sociedade civil de seis países amazônicos. Uma das grandes contribuições da
publicação do Atlas – Amazônia sob pressão 2020 é apresentar uma análise
regional que vai além das fronteiras político-administrativas dos países. Na
maioria das vezes acabamos vendo estudos em escala nacional, e esse tipo de
estudo da Raisg permite uma perspectiva integral da Amazônia.
A Raisg surgiu em 2007 sempre
disposta a fazer essa análise regional e em 2012 publicou o primeiro Atlas de
pressões na Amazônia. Nos anos seguintes foram publicados alguns mapas, mas
análises mais aprofundadas só foram publicadas em 2020, na atual versão do
documento. Nesse contexto era importante fazer um comparativo, mas de lá para
cá alguns temas novos foram incorporados às análises e, também, novas
metodologias foram desenvolvidas, razão pela qual as comparações precisam de
alguns cuidados.
Como pressões e ameaças
consideramos obras de infraestrutura, como estradas e hidrelétricas, atividades
extrativas como petróleo e mineração (incluindo o garimpo) e, por fim, a
atividade agropecuária, incorporada ao Atlas de 2020.
Além das pressões e ameaças,
temos dados que chamamos de “sintomas e consequências”, a saber: o
desmatamento, as queimadas e a variação da densidade de carbono, este último
incorporado recentemente nas análises da Raisg.
Percebemos que nas últimas
décadas há um ritmo muito acelerado de crescimento das pressões e ameaças, bem
como dos sintomas e consequências das atividades humanas na Amazônia. Se na
primeira análise em 2012 já mostrava um quadro complicado, agora essas questões
todas se agravam.
Sintomas e consequências da
atividade humana são o desmatamento, as queimadas e a variação da densidade de
carbono – Júlia Jacomini
IHU On-Line – Quais as
principais fragilidades da região amazônica atualmente?
Júlia Jacomini – Gostaria de
começar pelos dados de desmatamento porque é um dado produzido pela Raisg. Cada
país produz seu dado oficial, mas se formos juntar todos eles, dos diferentes
países, a periocidade e as metodologias não batem. A Raisg desenvolveu uma
metodologia própria, a partir da análise do uso do solo, então os dados podem
não bater com o divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais –
INPE, por exemplo.
O ano-base é 2000 e
realizamos o levantamento até 2018. Dentro desse período, a maior taxa de toda
a série histórica é no ano de 2003. A partir deste ano temos uma queda no
desmatamento, cuja menor taxa será em 2010. A partir de 2012 o desmatamento
volta a crescer, mas se acelera intensamente entre 2015 e 2018, quando ele
triplica. Os resultados finais mostram que, entre 2000 e 2018, foram desmatados
mais de 500 mil quilômetros de floresta na Amazônia, um território
correspondente à Espanha. Entre as principais pressões que levam a este
desmatamento temos a atividade agropecuária, responsável por 84% do total.
Diante deste cenário,
bastante desolador, temos algo importante a destacar que são os territórios
indígenas e as áreas naturais de proteção. Quase 90% do desmatamento, nestes 18
anos, ocorreu fora dos territórios indígenas e das áreas naturais protegidas.
Isso mostra que estes territórios são barreiras importantes e mostra a importância
das atividades realizadas pelos povos indígenas e pelas comunidades
tradicionais em manter a floresta em pé. Por outro lado, embora sejam barreiras
importantes, esses territórios estão sendo cada vez mais ameaçados.
Essa tendência do
desmatamento na Amazônia é puxada, em grande parte, pelo Brasil. Isso porque o
país tem mais de 60% do território amazônico, mas também por conta do
desmatamento acelerado no Brasil, o que eleva a média de toda a região.
Os resultados finais mostram que, entre 2000 e 2018, foram desmatados mais de 500 mil quilômetros de floresta na Amazônia, um território correspondente à Espanha – Júlia Jacomini
IHU On-Line – Quais são os vestígios que indicam que o bioma amazônico está em risco e se deteriorando?
Júlia Jacomini – Além do
desmatamento, há outros indicadores. No caso das queimadas, fizemos uma análise
entre 2001 e 2019, mostrando que 13% da Amazônia foi afetada pelo fogo. Isso
equivale a uma área do tamanho do território da Bolívia, mais de 1 milhão de
quilômetros quadrados. Embora saibamos que apenas um incêndio não causará
desmatamento, observamos que há várias repetições de queimadas, ano a ano, e
essas queimadas consecutivas podem levar a uma grande deterioração dos
ecossistemas e provocar o desmatamento.
O país da região amazônica
mais atingido por queimadas é a própria Bolívia, com 27% do território
amazônico atingido pelo fogo. Depois temos o Brasil. Isso nos ajuda a entender
que, dependendo do tema, algumas ameaças são mais graves em alguns países que em
outros.
Em 2020, mapeamos mais de
4.400 localidades de garimpo ilegal na Amazônia, das quais mais de 87% estão em
fases ativas de exploração – Júlia Jacomini
Mineração
A mineração é outra ameaça
muito grave na Amazônia, que atinge 17% do território da região e está presente
em todos os países tocados pelo bioma. Contudo, 90% destas atividades se
concentram em quatro nações: Brasil, Venezuela, Guiana e Peru. O Brasil é o
país que possui mais interesse por áreas extrativas, ou seja, 75% das áreas de
interesse estão no Brasil (isso não implica que todas estas áreas já estejam em
exploração).
Outro dado importante
apresentado neste estudo é o do garimpo. Em primeiro lugar é preciso destacar
que a coleta desses dados é difícil, sobretudo porque se trata de uma atividade
ilegal, então não há informações oficiais. A coleta de dados via satélite
também é difícil por conta da quantidade de nuvens na Amazônia, mas também
porque o garimpo é uma atividade muito itinerante, com áreas que são ativadas e
desativadas de acordo com os avanços da fiscalização. Há, ainda, muita
atividade garimpeira praticada no leito dos rios, com balsas que vão se
locomovendo e explorando. Portanto, os dados que apresentamos são classificados
como “a melhor informação disponível”, que é muito menor que o dado real.
Em 2020, levantamos o dado de
mais de 4.400 atividades de garimpo ilegal na Amazônia, das quais mais de 87%
estão em fases ativas de exploração. Mais da metade dessas localidades de
garimpo está no Brasil e o segundo país é a Venezuela, onde há 32% desse total,
mas apenas 6% do território amazônico está situado nesse país. Tanto a
mineração quanto o garimpo são ameaças muito grandes nos dois países.
A mineração é outra ameaça
muito grave na Amazônia, que atinge 17% do território da região e está presente
em todos os países tocados pelo bioma – Júlia Jacomini
IHU On-Line – E a exploração
de petróleo na Amazônia, como está atualmente?
Júlia Jacomini – No Brasil, a
exploração de petróleo é pequena, mas no Equador essa situação é bastante
grave. Do ponto de vista geral, os lotes petrolíferos ocupam 9,4% da superfície
da Amazônia e a maior parte está na chamada “Amazônia Andina”, nos territórios
da Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. O Equador é o país com maior porcentagem
ocupada por esse tipo de atividade, com 51,5% do território amazônico.
No caso do petróleo há
impactos significativos em casos de derramamento e, pela característica da
atividade, há a necessidade de construção de infraestrutura. É sempre
importante pensar essas pressões e ameaças de uma maneira complementar, pois
todas essas explorações – incluindo mineração e hidrelétricas – vêm associadas
à construção de estradas, que são grandes vetores de desmatamento. Uma região
que é atingida pelo impacto do petróleo ou da mineração também vai contar com
impacto de estradas, ferrovias, linhas de transmissão de energia e, não raro,
com a construção de hidrelétricas.
Todas essas ameaças vão se
sobrepondo, levando ao número de que 30% da Amazônia está sob pressão alta ou
muito alta. Isso significa que, além da avaliação de cada tema separadamente,
buscamos fazer uma análise integrada destes dados. Uma mesma região pode ser
atingida por mais de uma pressão e ameaça. Então, nesse sentido, uma estrada
concluída causa mais impacto que uma estrada planejada, de tal modo que as
análises consideram os pesos para cada tema, de acordo com os estágios das
obras e atividades, bem como as sobreposições de tais atividades.
Retomando a questão do
Equador, esse é o caso mais dramático dessas pressões e ameaças relacionadas ao
petróleo. As análises feitas pela Raisg apontam que 88% do território amazônico
do Equador está afetado por algum tipo de pressão, desde as mais baixas até
aquelas mais altas, isto é, com ações já em andamento.
Júlia Jacomini – A Amazônia é
muito grande e as realidades nacionais são muito distintas, então é fundamental
pensar de forma articulada. Mesmo quando consideramos estes dados dentro de um
país, percebemos que há regiões mais afetadas por uma ou outra atividade.
Quando, porém, analisamos os dados de forma integrada temos uma imagem mais
complexa e realista da situação, o que nos ajuda a compreender o processo de
deterioração acelerado. Mas neste momento temos destacado as questões da
mineração, do desmatamento e das queimadas como as grandes ameaças, que avançam
cada vez mais sobre os territórios indígenas e as áreas naturais de proteção
ambiental, que, embora sejam barreiras de contenção importantes, estão cada vez
mais fragilizadas.
No caso do Brasil, o garimpo
ilegal na Terra Indígena Yanomami, além da grande ameaça relacionada ao impacto
ambiental, trouxe um fator adicional de risco, pois os garimpeiros estão
contaminando as populações locais com a covid-19. Tivemos altos índices de
contaminação por conta desses invasores garimpeiros, que são transmissores do
vírus.
IHU On-Line – A propósito,
como a pandemia global da covid-19 impactou, particularmente, a região
amazônica?
Júlia Jacomini – Temos
trabalhado na consolidação desses dados em escala regional. A dificuldade que
temos enfrentado é como esses dados estão sendo disponibilizados pelos países,
inclusive no que toca à diferenciação das populações amazônicas. Também porque
os dados dos países, às vezes, não contemplam informações específicas das
populações indígenas.
Os efeitos da pandemia têm
sido muito graves na Amazônia, sobretudo pela dificuldade do isolamento quando
estes territórios estão fragilizados e sendo invadidos, como no caso Yanomami.
No Brasil há casos em que os próprios agentes de saúde são vetores do vírus
para dentro das aldeias, também por conta da sistemática fragilização dos
órgãos ambientais e governamentais destinados à proteção dos povos indígenas,
com cada vez menos equipes, menos recursos, inviabilizando o trabalho de apoio
às populações tradicionais. A Venezuela tem feito, também, um levantamento da
covid-19 em seus territórios, mas ainda não temos nada consolidado em escala
regional.
Infelizmente não existe uma
ameaça que deixou de existir. O que podemos observar, ao contrário, é que as
ameaças estão em ritmo crescente – Júlia Jacomini
IHU On-Line – Olhando em
perspectiva, em relação ao primeiro Atlas produzido em 2012, o que mudou de lá
para cá?
Júlia Jacomini – Em primeiro
lugar a metodologia, que acaba impactando as análises. Isso porque na atual
edição aumentou nossa área de análise. Se antes considerávamos somente a área
da bacia amazônica e as amazônia político-administrativas, agora contemplamos
também as cabeceiras dos rios amazônicos. Isso fez com que analisássemos também
a região Andina, bem como ampliássemos para a região do Chaco na Bolívia e
parte do Cerrado no Brasil.
Infelizmente não existe uma
ameaça que deixou de existir. O que podemos observar, ao contrário, é que as
ameaças estão em ritmo crescente.
No que toca às comparações é
importante ressaltar que desde a última edição, publicada em 2012, as análises
da Raisg melhoraram em matéria de metodologia, acesso à informação e precisão
cartográfica. Como resultado, é possível encontrar algumas disparidades em
relação aos dados de 2020. Dessa maneira, as análises temporais comparativas
são apenas referenciais.
Entre as principais pressões
que levam a este desmatamento temos a atividade agropecuária, responsável por
84% do total – Júlia Jacomini
Os dados a seguir, entre
aspas, são citações e foram extraídas do Atlas – Amazônia sob pressão.
Estradas
“A densidade de vias na
Amazônia, calculada a partir da extensão de estradas e território, aumentou 51%
entre 2012 e 2020, passando de 12,4 km/km² para 18,7 km/km². Os países que
lideraram essa expansão foram a Colômbia, o Peru e a Venezuela.”
Hidrelétricas
“Em 2012, foi registrado um
total de 171 hidrelétricas em funcionamento ou construção dentro do limite
Raisg para a Amazônia, cifra que não contempla as cabeceiras localizadas nos
Andes e na região sudeste da Amazônia brasileira. Em 2020, esse número havia
aumentado em 4%, alcançando um total de 177 hidrelétricas. O número de usinas
hidrelétricas cresceu 47%, passando de 51 em 2012 para 75 em 2020.”
Petróleo
“Entre 2012 e 2020, a região
amazônica registrou um aumento no número de lotes petroleiros (327 para 369 em
2020, representando um aumento de 13%). No entanto, no mesmo período,
verificou-se uma diminuição na superfície territorial ocupada por essa
atividade (redução de 350.184 km2), em qualquer uma de suas fases, o
que não necessariamente se traduz em uma diminuição dessa indústria na
Amazônia. Tal redução está relacionada com os lotes de categoria potencial,
que, por não terem licitantes interessados, são eliminados das bases de dados
oficiais, atualizadas periodicamente.”
Mineração
“Entre 2012 e 2020, a região amazônica registrou um aumento no número de zonas de mineração (52.974 zonas de mineração em 2012 para 58.432 em 2020). Contudo, houve uma redução na superfície territorial ocupada (1.628.850 km2 em 2012 para 1.322.600 km2 em 2020), o que não necessariamente se traduz em uma diminuição dessa atividade na Amazônia”.
Desmatamento e queimadas
“A metodologia de análise foi
aprimorada de 2012 para 2020, não permitindo comparações diretas. No entanto,
destacam-se as seguintes informações, já comentadas na entrevista.”
Desmatamento
“Embora 2003 continue sendo o
pior ano para as florestas amazônicas desde 2000, com uma perda total de 49.240
km2, o desmatamento tem se acelerado desde 2012, após atingir o
mínimo em 2010 (17.674 km2)”. A área perdida a cada ano triplicou
entre 2015 e 2018. Só em 2018, 31.269 km2 foram desmatados em toda a
Amazônia, o maior desmatamento anual desde o pico em 2003.
Entre 2000 e 2018, o avanço
do desmatamento na região amazônica acumulou a perda de 513.016 km2
de floresta nativa, um território equivalente, como dissemos, à área da
Espanha, 8% da área total de 6,3 milhões km2 de floresta que existia
em 2000.
A realidade regional pode ser
diferente da nacional em cada país amazônico. A tendência descrita para toda a
Amazônia é fortemente determinada pela situação do Brasil, que concentra 61,8%
do território amazônico. Além do Brasil, Bolívia e Colômbia são os países que
mais imitaram essas tendências nos últimos anos, com um desmatamento total de
425.051, 31.878 e 20.515 km2, respectivamente. Os demais países não
apresentam tendências claras de crescimento ou diminuição”.
Queimadas
“Cerca de 13% da superfície
da Amazônia queimou, pelo menos uma vez, desde 2001; ou seja, 1,1 milhão km2
foram afetados. Essa área é comparável, em extensão, ao território de toda a
Bolívia, país que coincidentemente é o mais atingido pelo fenômeno, com até 27%
de seu território amazônico afetado. Em média, a cada ano desde 2001, 169 mil
km2 da Amazônia foram queimados, 26 mil deles dentro de Áreas
naturais de proteção e 35.000 dentro de Terras indígenas”.
IHU On-Line – Em um cenário
de aquecimento global, quais poderão ser as consequências para a vida no
planeta se o processo de deterioração da Amazônia não for imediatamente freado?
Júlia Jacomini – As
consequências já estão acontecendo. Por exemplo, o caso das queimadas. A
Amazônia tem algumas queimas que são consideradas naturais no período de seca,
em que parte da vegetação queima e nutre o solo da floresta e a fortalece.
Temos observado que os períodos de seca têm ficado cada vez maiores. Então as
mudanças climáticas não são algo do futuro, mas do presente. Com a ampliação do
período de seca temos uma ampliação do período de queimadas, cada vez mais
severas e de difícil controle, como temos visto nos últimos dois anos, no
Brasil e na Bolívia. Embora seja outro bioma, temos o exemplo do que ocorreu no
Pantanal, pois com a seca esses biomas ficam cada vez mais vulneráveis.
Em longo prazo temos uma
intensificação de todos esses processos e são enormes os impactos que essa
perda de biodiversidade traz às populações indígenas e às comunidades
tradicionais, que vivem de uma maneira muito integrada à natureza, fazendo o
manejo adequado de seus territórios. Sem contar que a devastação ambiental
impacta os seus modos de organização cultural e modos de vida.
É importante que haja uma articulação entre os países amazônicos para combater o avanço acelerado desses fatores – Júlia Jacomini.
IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
Júlia Jacomini – É
fundamental sublinhar a importância de fortalecer essa visão da Amazônia de
modo integral. Por isso é importante que haja uma articulação entre os países
amazônicos para combater o avanço acelerado desses fatores. É necessário pensar
na Amazônia como um todo, não apenas na escala de cada país. (ecodebate)
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