De
acordo com um novo relatório, divulgado esta segunda-feira pela organização não
governamental (ONG) Oxfam, as nações do G7 podem perder 8,5% do seu Produto
Interno Bruto (PIB) por ano até 2050.
O custo
anual para enfrentar os impactos da crise climática vai superar o custo
econômico da pandemia. Em 2050, as nações do G7 – o grupo dos países mais
industrializados do mundo – podem perder em média 8,5% do PIB a cada ano (o
equivalente a US$ 4,8 trilhões), ou seja, o dobro dos 4,2% atingidos pelas
perdas econômicas geradas pela covid-19, se as alterações climáticas
continuarem sem ser controladas ou revertidas.
As
conclusões foram divulgadas em 07/06/21 em novo relatório da Oxfam, baseado na
investigação do Swiss Re Institute.
“O
mundo pode perder cerca de 10% do valor econômico total em meados do século se
as alterações climáticas permanecerem na trajetória atualmente prevista e se o
Acordo de Paris e as metas de emissões líquidas zero para 2050 não forem
cumpridas”, alerta o relatório.
Os
especialista acrescentam que os países do G7 podem ver as suas economias
encolherem duas vezes mais do que agora que enfrentam a pandemia, nos próximos
30 anos, se a temperatura global subir 2,6ºC. Entre os motivos estão as perdas
causadas pelo calor e a saúde das populações com as mudanças extremas da
temperatura, o aumento do nível do mar, as secas e inundações e a redução de
produtividade dos terrenos agrícolas, que podem impedir o crescimento econômico
dessas nações.
A
economia do Reino Unido, por exemplo, pode perder 6,5% ao ano até 2050 com as
políticas e projeções atuais, em comparação com os 2,4% se as metas do acordo
climático de Paris fossem cumpridas.
Mas há
países que serão ainda mais prejudicados, incluindo a Índia, cuja economia pode
encolher cerca de 25% devido ao aumento de temperatura. Também a Austrália vai
perder cerca de 12,5% da sua produção e a Coreia do Sul arrisca-se a perder
quase um décimo do seu potencial econômico.
Oxfam apela ao G7 para que estabeleça novas metas climáticas na preparação para a COP26. Os líderes dos países do G7, Reino Unido, Estados Unidos/EUA, Japão, Canadá, França, Alemanha, Itália e a União Europeia/UE vão reunir-se, na Cornualha/Reino Unido, em 11/06/21 para debater a economia global, as vacinas contra a covid-19, os impostos sobre as empresas e a crise climática.
“Economias mais desenvolvidas não estão imunes”
De
acordo com os dados do documento, relativamente à exposição a “riscos
climáticos severos resultantes das alterações climáticas”, o sudeste da Ásia e
a América Latina provavelmente serão “os mais suscetíveis a condições de seca”.
Por outro lado, muitos países no norte e no leste da Europa, devem sofrer mais
impactos devido a chuvas intensas e inundações.
O
Índice de Economia do Clima, apresentado no relatório, indica que “muitas
economias avançadas no Hemisfério Norte são menos vulneráveis aos efeitos
gerais das alterações climáticas, estando menos expostas aos riscos associados
e com melhores recursos para lidar com isso”. Os EUA, o Canadá e a Alemanha,
por exemplo, estão entre os dez países menos vulneráveis aos impactos da crise
climática, tanto em nível ambiental e de saúde da população quanto em nível
econômico. Portugal também aparece nos primeiros lugares como um dos países
menos vulnerável a impactos físicos das alterações climáticas.
Essas
descobertas, avisa a Oxfam, fazem sobressair a necessidade de as nações
reduzirem as emissões de carbono mais rapidamente.
“A
crise climática está devastando vidas nos países mais pobres, mas as economias
mais desenvolvidas do mundo não estão imunes”, afirma no relatório o CEO da
Oxfam GB, Danny Sriskandarajah.
“O
governo do Reino Unido tem uma oportunidade única numa geração de liderar o
mundo em direção a um planeta mais seguro e habitável para todos”, acrescentou.
“Deve forçar todos os tendões diplomáticos para garantir o resultado mais forte
possível no G7 e na COP26 e liderar pelo exemplo, transformando promessas em
ações e revertendo decisões autodestrutivas, como a proposta da mina de carvão
em Cumbria e cortes na ajuda internacional”.
Já
Jerome Haegeli, economista-chefe do grupo Swiss Re, considera que “as
alterações climáticas são o risco número um de longo prazo para a economia
global, e ficar onde estamos não é uma opção – precisamos de mais progresso por
parte do G7”.
Isso
significa “não apenas obrigações de reduzir o CO2, mas também ajudar
os países em desenvolvimento”.
Segundo
Haegeli, também a distribuição de vacinas contra a covid-19 é uma forma de
ajudar os países em desenvolvimento, “já que as suas economias foram duramente
atingidas pela pandemia e precisariam de ajuda para se recuperar num caminho
verde, em vez de aumentar os combustíveis fósseis”.
A Swiss
Re concluiu que as políticas e as atuais promessas dos governos para reduzir as
emissões de gases de efeito estufa ainda são inadequadas para cumprir as metas
do acordo de Paris.
Antes
da COP26, o Reino Unido pede a todos os países para apresentarem promessas mais
duras sobre a redução das emissões de carbono, a fim de cumprir as metas de
Paris e de limitar o aquecimento global abaixo de 2ºC.
Mas
esse limite está cada vez mais ameaçado, visto que as emissões de gases de
efeito estufa devem aumentar drasticamente este ano, para o segundo maior
aumento já registrado, devido à recuperação da recessão da covid-19 e ao
aumento do uso de carvão.
“O
risco climático é um risco sistêmico, que pode ser gerido por meio de uma ação
política global coordenada. Existe uma oportunidade única de tornar as nossas
economias mais verdes”, afirmam os especialistas no relatório.
Contudo,
a ajuda internacional tem sido o principal obstáculo para muitos, e tem sido
descrita como um desastre diplomático já que o sucesso da COP26 dependerá, em
parte, de o Reino Unido conseguir persuadir outras nações ricas na cúpula do G7
a apresentarem promessas muito maiores de assistência financeira aos países em
desenvolvimento, de forma a ajudar os países pobres a reduzir suas emissões e a
lidar com os impactos da degradação do clima.
O país
mais afetado no G7 seria a Itália, que deve perder 11,4% do PIB a cada ano. Mas
os países em desenvolvimento seriam duramente atingidos, com a Índia sofrendo
perdas de 27% no PIB e as Filipinas, 35%.
1º
Registro de Ameaças Ecológicas/ETR, do Instituto de Economia e Paz, alertou
também que a crise climática pode levar ao deslocamento de mais de 1,2 bilhão
de pessoas até 2050, considerando as ameaças à sua sobrevivência como desastres
naturais, escassez de alimentos e água, criando novas tendências de migração.
Banco Mundial revelou que haverá entre 32 milhões e 132 milhões de pessoas a
mais vivendo em condições de pobreza extrema até 2030, devido ao aquecimento
global.
Relatório da Oxfam reitera ainda que os governos do G7 não estão cumprindo a promessa de contribuir com US$ 100 bilhões para ajudar os países em desenvolvimento, estimando-se que tenha entregado até agora apenas US$ 10 bilhões para projetos e iniciativas de adaptação climática.
Atualmente, apenas o Reino Unido e os EUA concordaram em aumentar o financiamento dos níveis atuais. A França, por sua vez, pretende manter os níveis atuais de financiamento climático, e o Canadá, a Alemanha, o Japão e a Itália ainda não confirmaram se pretendem manter ou aumentar os investimentos verdes nos países menos desenvolvidos. (ecodebate)
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