Aprendemos cedo que na natureza
não existe lixo, nela tudo se transforma, mas a verdade é que atualmente quase
tudo ao nosso redor é artificial, desde tecidos, cadeiras, sapatos,
eletrônicos, alimentos embalados etc. Esses padrões de consumo foram
incentivados com o fim da Segunda Guerra Mundial, haja vista que a economia
estava quebrada e o mundo precisava se reconstruir. O entendimento foi de que a
melhor maneira de nos reestruturarmos seria por meio do consumo. Somado a isso,
enquanto seus maridos estavam nos frontes de batalha, muitas mulheres
precisaram adentrar ao mercado de trabalho e passaram a exercer um papel que
até então era desempenhado pelos homens. Com essa mudança no cotidiano das
famílias, surgiu a demanda por produtos mais práticos: papinhas enlatadas,
fraldas descartáveis e vários outros itens que passaram a permear os lares
mundo afora.
Com o tempo essa tendência de consumo se intensificou. Hoje, de acordo com a ONU, 99% dos produtos que compramos, são jogados fora num período de seis meses. Geramos aproximadamente dois bilhões de toneladas de lixo por ano. A maior parte formada por plásticos. Para agravar o cenário, a estimativa é de que desse total, cerca de 25 milhões de toneladas vão parar nos oceanos. Mas como esse lixo todo acaba sendo depositado nos mares? Por mais difícil que seja de acreditar, a maior parte desse resíduo é gerada nos centros urbanos e combina ineficiência de políticas públicas em torno da gestão de resíduos, questões de ordem social e de educação. Sabe aquela embalagem de plástico que você viu jogada na rua? Se não for recolhida, nas próximas chuvas será dragada pelo bueiro mais próximo e, após uma viagem por rios e córregos, possivelmente terá os mares como destino final. Já temos notícias de cinco grandes zonas de lixo, ou ilhas de plásticos, existentes nos Oceanos. Para a gente ter uma ideia, uma dessas ilhas está localizada próxima ao Havaí, ocupando uma área equivalente a duas vezes o território da França, há quem diga que a extensão seja ainda maior e que representa, na verdade, três vezes o território francês.
Segundo o Instituto de Pesquisas para o Desenvolvimento, da França, cerca de 1,5 milhão de aves, peixes, baleias e tartarugas marinhas morrem todos os anos por causa do plástico. Como tudo o que é da natureza, os corpos desses animais se decompõem, mas os plásticos que foram ingeridos – e que por vezes foi causa da morte destes seres vivos – permanecerão na natureza por tempo indeterminado, porque naturalmente o plástico não se decompõe, o que ocorre é um processo de degradação contínuo que tem como produto final os já conhecidos microplásticos. E é exatamente aí que a coisa complica, como poderemos coletar partículas tão pequenas nos oceanos e em corpos d’água? Estes microplásticos passam a compor o ambiente e são facilmente confundidos como alimento por plânctons, peixes e outras vidas marinhas. Não bastasse o cenário catastrófico que se configura como a causa da morte de milhares de animais, em algum momento a conta também chega para nós, já que ao ocupar o topo da cadeia alimentar, estes microplásticos são fatalmente ingeridos por seres humanos.
É lamentável e até mesmo
triste observar os impactos que nossas escolhas provocam. Além de todos os
efeitos nocivos, houve uma piora significativa na qualidade dos produtos, sobretudo
alimentícios e bens duráveis. Essa mudança também empobreceu a experiência de
consumo como um todo. A garrafa de vidro, que precisava ser devolvida para
posterior reenvase, cedeu lugar à garrafa plástica, que além de ser de uso
único, costuma alterar o sabor da bebida.
Voltando no tempo,
perceberemos que uma questão de ordem fundamentalmente econômica faz toda a
diferença e explica como chegamos até aqui. Há alguns anos o leiteiro entregava
o leite numa garrafa que era reutilizável, neste modelo as embalagens são
consideradas um ativo, uma vez que seu custo é diluído pela quantidade de vezes
que poderá ser envasada para o mesmo fim. É evidente que esses recipientes eram
fabricados para durar. Já no modelo atual, as embalagens da maior parte dos produtos
entram como passivos, pois compõem o custo total daquele produto, logo, quanto
mais baratas, menor será o custo total do produto finalizado.



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