sábado, 24 de junho de 2023

O pico da população e das emissões de carbono no Japão

Japão Emissões de dióxido de carbono (CO2)

O artigo analisa a trajetória histórica do Japão desde a Restauração Meiji até os dias atuais, destacando as mudanças demográficas e ambientais que ocorreram no país, indicando como a população e as emissões de carbono do Japão evoluíram ao longo do tempo. O autor também discute os desafios e as oportunidades que o Japão enfrenta para se tornar uma sociedade sustentável e resiliente diante das crises globais.

O Japão abandonou o período feudal e entrou definitivamente na modernidade na segunda metade do século XIX. O fato determinante foi a chamada Restauração Meiji, que foi um conjunto de reformas políticas, econômicas e sociais significativas que ocorreu no país do sol nascente, a partir de 1868.

Foi chamado de “restauração” porque marcou o retorno do poder político ao Imperador Meiji, que tinha sido relegado a um papel cerimonial durante o xogunato Tokugawa (período em que o Japão se fechou para o mundo entre 1603 e 1868).

Japão Emissões de Dióxido de Carbono/ CO2

Durante a Restauração Meiji, o Japão passou por mudanças profundas em muitos aspectos da sociedade. O país adotou um modelo de governo ocidental, com um sistema parlamentar e uma constituição baseada na Constituição alemã. A economia japonesa também foi modernizada, com a introdução de indústrias de manufatura e tecnologias avançadas. O país experimentou um grande crescimento da população e da economia e se tornou uma grande potência econômica, militar e tecnológica no século XX. O Japão chegou a ser a 5ª nação mais populosa e a 2ª maior economia (atrás apenas dos EUA). Em consequência, houve grande aumento das emissões de carbono.

O gráfico 1 apresenta a população e as emissões de carbono do Japão com dados do site Our World in Data e do The Global Carbon Project 2022. A população do Japão era de 34,4 milhões de habitantes em 1869 e as emissões de carbono eram próximas de zero. Em 1900, a população japonesa passou para 44,4 milhões e as emissões para 5,3 milhões de toneladas de carbono. Em 1950, a população passou para 84,4 milhões e as emissões para 28 milhões de toneladas. Com o chamado “milagre econômico japonês, na segunda metade do século XX, as emissões chegaram a 345 milhões de toneladas, enquanto a população chegou a 126,8 milhões de habitantes”.

Mas o quadro mudou nos anos 2000, pois a população e as emissões estabilizaram e, em seguida, começaram a diminuir. O pico populacional ocorreu em 2009, com 128,4 milhões de habitantes e o pico das emissões ocorreu em 2013, com 359 milhões de toneladas de carbono. O gráfico mostra que a estabilização das emissões ocorreu paralelamente à estabilização da população. Em 2021, a população já havia decrescido para 124,6 milhões de habitantes e as emissões caíram para 291,3 milhões de toneladas de carbono.

O Gráfico 2 apresenta a correlação entre os mesmos dados sobre população e emissões japonesas do gráfico 1. A reta de tendência (função exponencial) entre as duas variáveis indica que 97,7% da variabilidade das emissões está diretamente associada à variabilidade da população no período 1969 a 2021. Quando a população japonesa começou a decrescer as emissões de carbono também diminuíram.

As projeções da Divisão de População da ONU indicam que a população japonesa vai decrescer para 103,8 milhões de habitantes em 2050 e para 73,6 milhões de habitantes em 2100. Esta redução do número de pessoas, com os avanços tecnológicos, vai contribuir para que o país possa atingir a meta de carbono zero. O mesmo pode ocorrer na China que já atingiu o pico populacional e, em breve, pode atingir o pico das emissões de gases de efeito estufa.

Como afirmou Gronewold (2022): “Os aspectos positivos do declínio da população muitas vezes superam os negativos. As evidências indicam que uma população em declínio não significa necessariamente a ruína econômica e pode até mesmo inaugurar uma espécie de renascimento”.

O tamanho do PIB japonês deve cair no século XXI, mas se a diminuição da economia ocorrer em ritmo menor do que o decrescimento demográfico, poderá haver aumento da renda per capita. Assim, o Japão – que já é um país de alta renda e com a maior expectativa de vida do mundo – pode adotar o lema “menos é mais” e poderá avançar ainda mais no bem-estar social, reduzindo o déficit ambiental nas próximas décadas. (ecodebate)

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