Meio ambiente na crise
ambiental de agosto de 2024
A crise ambiental é causada
principalmente pelas atividades humanas, como o uso excessivo de recursos
naturais, a poluição e o desmatamento. Essas atividades causam danos ao meio
ambiente, afetando a biodiversidade, o clima e a qualidade de vida das pessoas.
Fumaça e fogo em números:
gráficos e mapas mostram tamanho da crise ambiental no país.
g1 recolheu dados e ouviu
especialistas para explicar o contexto de cada episódio de queimada em
diferentes regiões do Brasil.
Queimadas perto da Rodovia
dos Bandeirantes, na região de Campinas, final de agosto/24 no estado de São
Paulo.
Em uma sequência com oito
gráficos e mapas, o g1 mostra abaixo um retrato do atual momento das queimadas
no Brasil. As linhas ou cores das ilustrações mostram a gravidade dos incêndios
no país, que estão sendo investigados pelo Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pela Polícia Federal.
Na maioria dos casos, a
fumaça que encobriu as cidades tem origem em queimadas em locais próximos. Há
dias, um fluxo de ventos também tem transportado fuligem de incêndios
florestais que acontecem em regiões mais distantes, como na Amazônia e no
Pantanal.
O clima seco também tem
dificultado a dissipação da fumaça e elevado o risco de incêndios em diversas
regiões do país.
Somando tudo isso, estamos
vendo:
• focos de queimada inéditos
em São Paulo para o mês de agosto;
• a maior taxa em 13 anos
para o mesmo mês em Minas Gerais;
• um aumento de 260% em
relação ao ano passado para agosto no Mato Grosso;
• um aumento de 3.316% para
todo o Pantanal no mesmo período;
• mais da metade de todos os
focos do ano para a Amazônia em agosto;
• e o dobro para o Cerrado no
mesmo mês quando comparado com 2023.
"A situação é grave,
intensa e, infelizmente, generalizada. Já havíamos alertado sobre o elevado
número de focos na Amazônia e no Pantanal. Este ano, estamos batendo recordes
de incêndios na Amazônia. O Pantanal também teve um ano intenso, e agora o fogo
está se espalhando para outras regiões", alerta Mariana Napolitano,
diretora de Estratégia do WWF-Brasil.
Abaixo, além de mostrar os
gráficos e mapas, o g1 consultou especialistas e usou dados do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Centro Nacional de Monitoramento e
Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) para explicar o contexto de cada
episódio de queimada em diferentes regiões do Brasil e discutir as
perspectivas, que são preocupantes.
1) Taxa inédita em São Paulo
SP tem maior número de
queimadas desde 1998, com 3,1 mil focos em agosto
No estado de São Paulo, o
número de focos de incêndios registrado em agosto de 2024 já é o maior desde o
início da série histórica do Inpe, em 1998.
Neste mês, que ainda nem chegou
ao fim, já foram contabilizados 3.483 focos pelo satélite de referência do
instituto.
O resultado de tantos
incêndios ficou evidente nas primeiras horas da manhã do último fim de semana,
quando cidades inteiras ficaram encobertas por uma espessa nuvem de fumaça.
Em Itirapina, no Centro-Leste
do estado, mais de dois mil hectares foram devastados pelas chamas. Em São
Carlos, também na mesma região, cerca de 800 pessoas foram obrigadas a deixar
suas casas, enquanto 700 estudantes foram retirados das escolas. Em Araraquara,
um incêndio matou dez animais em uma criação de porcos. Plantações foram
completamente destruídas em Dourado.
A intensidade e a frequência
dos incêndios, inéditas na região, também levaram 48 cidades a declarar estado
de alerta máximo.
"É impressionante o que
está acontecendo em São Paulo. As estações secas estão mais severas devido às
mudanças climáticas, o que intensifica os incêndios, mas essa alta quantidade
de focos sugere a possibilidade de ação criminosa coordenada, embora isso ainda
precise ser confirmado", explica Suely Araújo, ex-presidente do Ibama e
coordenadora de políticas públicas no Observatório do Clima.
"O Ibama e a Polícia Federal estão
investigando, e eles têm tecnologia para identificar a origem e o período dos
incêndios. Caso haja responsabilidade criminosa, os responsáveis poderão ser
identificados e punidos", acrescenta.
Brasil tem 5,2 mil focos de
incêndio em 2024
Incêndios: Brasil registrou
2.810 focos em 26/08/24, segundo o Inpe.
2) A maior taxa em 13 anos em
Minas Gerais
Focos de queimada em Minas
Gerais - AGOSTO*
Comparação de focos ativos
detectados pelo satélite de referência do Inpe em agosto. *Taxa de 2024 é
preliminar.
Incêndios Florestais Atingem
Minas Gerais e São Paulo: Situação Crítica Exige Ação Rápida
Minas Gerais a situação
também é crítica. Desde o início do mês até 25/08/24, foram registrados 2.136
focos de queimadas no estado.
Esse número representa um
aumento de 107% em comparação a todo o mês de agosto do ano passado, quando
ocorreram 1.029 focos de incêndio em vegetações.
Além disso, ainda segundo a
série histórica do Inpe, agosto de 2024 já atingiu a maior taxa de queimadas
dos últimos 13 anos, só ficando atrás dos 2.445 focos registrados em cidades
mineiras em 2011.
24/08/24 o Sul de Minas
registrou 68 focos de incêndio em 27 cidades, ainda segundo o Inpe. Os
incêndios mobilizaram o Corpo de Bombeiros, a Defesa Civil e voluntários em
várias localidades.
Em Extrema, cidade na divisa
com São Paulo, um incêndio na Serra do Lopo levou dois dias para ser
controlado. Já em São Pedro da União, dois hectares de vegetação queimaram, e
em São Lourenço, o fogo destruiu uma casa.
Por causa das queimadas no
estado, também no sábado, moradores de Belo Horizonte se depararam com um céu
completamente nublado.
3) Aumento de 260% no Mato
Grosso
No Mato Grosso, agosto de
2024 já está perto de bater a taxa de 2020, quando 10.430 focos foram
contabilizados pelo Inpe.
Até 25/08/24 o estado já
registrou 10.424 focos. O número também representa um aumento de 296% se
comparado com o mesmo período do ano passado.
Dados do Inpe também mostram
que Mato Grosso segue sendo o estado com o maior número de focos de calor no
país desde o início de 2024. Os focos registrados no estado representam 20,72%
de todos contabilizados no país até agora.
De janeiro até domingo, foram
20,7 mil focos de incêndio, um aumento de 109% se comparado com o mesmo período
do ano passado, quando foram 9,8 mil focos.
4) Pantanal em chamas
No Pantanal, uma das maiores
áreas úmidas contínuas da Terra, apenas nos primeiros seis dias de agosto foram
registrados 1.899 focos de calor. O número supera a média histórica mensal de
1.478 focos (1998-2023). O bioma enfrentou uma temporada de incêndios
devastadora entre 2019 e 2021.
Comparando todo o mês de
agosto do ano passado com os 25 dias de agosto de 2024, observa-se aumento de
3.316% nos focos de calor no Pantanal: de 110 focos em 2023 para 3.758 até
agora em agosto de 2024.
De janeiro até domingo, em
todo o bioma foram 8,5 mil focos de incêndio, um aumento de 2.094% se comparado
com o mesmo período do ano passado, quando foram 388 focos.
5) Amazônia em alerta
Brasil queimou mais de 21% do
seu território em quase 4 décadas
A temporada de incêndios
geralmente ocorre na Amazônia entre junho e outubro, mas fazendeiros,
garimpeiros e grileiros derrubam a floresta e se preparam para queimá-la
durante todo o ano.
Ainda segundo o Inpe, o bioma
registrou 50 mil focos de fogo desde janeiro até agora. O número representa um
aumento de 77% quando comparado com o mesmo período do ano passado, quando 28
mil focos foram contados pelo instituto. Toda essa fumaça que cobre a floresta
está viajando milhares de quilômetros.
Esse volume ainda se soma ao
que vem do Pantanal, de Rondônia com a queimada no Parque Guajará-Mirim há um
mês, e da Bolívia, formando uma densa camada cinza na atmosfera que é arrastada
para o restante do mapa formando um "corredor de fumaça".
E somente em agosto de 2024
(gráfico acima), que ainda não acabou, o bioma registrou mais da metade de
todos os focos do ano: 25.193.
Comparando à taxa todo o mês
do ano passado (17.373), o número também representa um aumento 45%.
Esses altos números de
incêndios são resultado da extrema seca que o Brasil enfrenta este ano. O ano
passado já foi atípico devido à seca causada pelo El Niño e pelas mudanças
climáticas. Os rios na Amazônia e no Pantanal não encheram o suficiente durante
a estação chuvosa, criando um déficit hídrico significativo no início da seca.
Com altas temperaturas, baixa umidade do ar e o uso de queimadas e incêndios
criminosos, os focos perdem o controle e atingem grandes proporções.
— Mariana Napolitano,
diretora de Estratégia do WWF-Brasil.
6) Cerrado com dobro de focos
Ainda segundo dados do Inpe,
13.865 focos foram registrados no Cerrado desde 1º de agosto até 25/08/24. A
taxa representa mais que o dobro de focos quando comparada com todo o mês de
agosto de 2023, quando 6.850 focos foram contabilizados.
O bioma também vem
registrando altas taxas de desmatamento desde o ano passado, e desde o começo
do ano já contabiliza 34.557 focos no total, uma diferença de 48% quando
comparada com o mesmo período de 2023 (no intervalo de 1º de janeiro até 25
agosto).
7) Distrito Federal
No DF, a comparação de focos
ativos detectados pelo satélite de referência do Inpe até 25/08/24 mostra que a
taxa está perto de bater o número para o mês em 2022.
O valor atual ainda está bem
baixo de outros anos que tiveram taxas maiores, como 2010, por exemplo, que
registrou 181 focos.
Mesmo assim, a fumaça
continua encobrindo céu do DF nesta semana. Na última segunda, Brasília
amanheceu coberta por fumaça pelo segundo dia seguido.
8) Goiás
Fogo em vegetação na área
urbana, no setor Faiçalville, em Goiânia/GO, satélite monitora problema.
Queimadas reduzem 23% neste
ano em Goiás
Em Goiás, a situação é um
pouco diferente. Com 974 focos, até 25/08/24 já está perto de igualar a taxa de
2022 por um foco de diferença.
Contudo, assim como o DF, no
último ano o estado registrou uma queda de focos ativos (488) para o mesmo mês.
9) Pior seca em 44 anos
Mais da metade do país
enfrenta a pior seca em 44 anos
Segundo um levantamento
exclusivo do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden)
feito a pedido do g1, mais da metade dos estados no país também enfrenta o pior
período de seca em 44 anos.
Das 27 unidades da federação,
16 estados e o Distrito Federal enfrentam a pior estiagem já vista no período
de maio a agosto, desde os anos 1980. Na lista estão:
• Amazonas ; Acre ; Rondônia
; Mato Grosso ; Pará ; Mato Grosso do Sul ; Goiás ; Minas Gerais ; São Paulo ; Paraná
; Rio de Janeiro ; Espírito Santo ; Bahia
; Piauí ; Maranhão ; Tocantins.
10) Mudança dos padrões de
chuva
Maior parte do Brasil teve
chuvas abaixo da média.
Ana Paula Cunha, especialista
no monitoramento de secas do Cemaden, explica que esta é a primeira vez em anos
de monitoramento que se observa uma seca tão longa no país.
E ela vem se estendendo desde
o El Niño. Ele acabou levando seca para o Norte e mudou o padrão de chuvas pelo
país. Com isso, adiantou o período seco em 2023, e, como a chuva ficou abaixo
da média já naquele ano, houve uma seca extensa, que se tornou ainda mais forte
atualmente.
Com o fim do El Niño, a
situação não mudou porque o Atlântico Tropical Norte está muito aquecido. Isso
muda a atuação das zonas de convergência, que poderiam levar chuvas ao Norte,
piorando a estiagem.
“Essa
junção de fatores, com o El Niño mais intenso, os oceanos mais aquecidos, a
gente vê a seca se expandindo pelo país. Em anos de monitoramento de secas,
nunca vi isso acontecer com essa gravidade, com tantos pontos de seca
excepcional e por tanto tempo”, diz Cunha.
Dados: Hoje, mais de 3,8 mil
cidades estão com alguma classificação de seca (de fraca a excepcional). O
índice de seca é calculado com base no índice de chuva, variando conforme a
proximidade ou distância da média e período.
Para se ter uma noção, o
número de cidades nessa situação aumentou quase 60% entre julho e agosto e,
segundo o Cemaden, os números de agosto ainda são uma prévia e até o fim do mês
o cenário pode piorar.
“Quanto mais tempo a seca
durar, mais difícil vai ser de se recuperar. É preciso uma chuva bem acima da
média para reverter o cenário.
Ondas de calor devem diminuir
em 2025, aponta Climatempo
A gente já tem uma ideia do
que vai ser a estação chuvosa e a previsão é que não vai ser o bastante para
que o país possa se recuperar”, acrescenta a especialista. (g1)