segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Arborização urbana salva vidas e reduz o calor extremo

Entre os principais ganhos ambientais da arborização urbana está a redução do efeito das ilhas de calor. Árvores e áreas verdes ajudam a diminuir a temperatura local por meio da oferta de sombra e da evapotranspiração, podendo refrescar em até 5 °C as regiões densamente urbanizadas.

Aumento de vegetação urbana em 30% poderia evitar mais de um terço das mortes por calor no mundo

Aumentar em 30% a cobertura vegetal nas cidades poderia evitar mais de um terço de todas as mortes relacionadas ao calor, o que representaria até 1,16 milhão de vidas salvas globalmente entre 2000 e 2019. A estimativa é de um estudo de modelagem conduzido ao longo de 20 anos, que avaliou os impactos do aumento da vegetação em mais de 11 mil áreas urbanas.

A pesquisa, liderada pelo professor Yuming Guo, da Universidade Monash, e publicada na revista The Lancet Planetary Health, mostrou que o acréscimo de vegetação em níveis de 10%, 20% e 30% seria capaz de:

• Reduzir a temperatura média ponderada pelo tamanho da população durante as estações quentes em 0,08°C, 0,14°C e 0,19°C, respectivamente;

• Evitar 860 mil, 1,02 milhão e 1,16 milhão de mortes por calor, o que corresponde a 27,16%, 32,22% e 36,66% de todas as mortes relacionadas ao calor, registradas no período de 2000 a 2019.

O impacto das áreas verdes na preservação de vidas varia de acordo com o tipo de clima, os níveis de vegetação preexistentes, o status socioeconômico e as características demográficas das populações locais.

Regiões urbanas no Sul da Ásia, Leste Europeu e Leste Asiático foram as que registraram a maior redução na mortalidade causada pelo calor.

O objetivo do estudo foi identificar o potencial de redução global das mortes por calor com o aumento da vegetação durante a estação quente, analisando 11.534 centros urbanos. As associações entre mortalidade e calor foram calculadas com base em dados de 830 localidades em 53 países e extrapoladas para as demais cidades.

Embora o aumento da vegetação urbana já seja apontado como estratégia para mitigar mortes por calor, o professor Guo destaca que “este é o primeiro estudo de modelagem a estimar simultaneamente os efeitos de resfriamento e de modificação do risco da vegetação, fornecendo uma avaliação mais abrangente dos benefícios na redução da mortalidade associada ao calor”.

Segundo ele, os dados indicam que preservar e expandir as áreas verdes pode ser uma medida eficaz para reduzir as temperaturas urbanas e mitigar os impactos das ondas de calor sobre a saúde pública.
Árvores em áreas urbanas: solução para combater ilhas de calor

A exposição ao calor é considerada uma ameaça crescente à saúde global, agravada pelas mudanças climáticas.

Entre 2000 e 2019, estima-se que o calor extremo tenha causado, em média, 500 mil mortes por ano, representando 0,91% da mortalidade global. As projeções indicam que, sob os cenários mais extremos de aquecimento global, as mortes por calor podem variar de 2,5% no norte da Europa a 16,7% no sudeste da Ásia entre 2090 e 2099.

O estudo reforça que a vegetação urbana contribui para o resfriamento do ambiente por meio do sombreamento de superfícies, da reflexão da radiação solar e do processo de evapotranspiração (evaporação do solo e das plantas), que favorece a circulação do ar e diminui a temperatura ambiente, reduzindo a exposição populacional ao calor e, consequentemente, a mortalidade.

Além disso, segundo Guo, há evidências emergentes de que áreas verdes também podem modificar o risco de morte por calor ao influenciarem fatores como saúde mental, interação social, atividade física e poluição do ar.

A pesquisa utilizou dados da Multi-Country Multi-City (MCC) Collaborative Research Network, criada em 2014 para investigar associações entre estressores ambientais, clima e saúde em diferentes regiões do mundo. Foram analisadas informações diárias de mortalidade e variáveis meteorológicas em 830 localidades de 53 países. O índice de vegetação foi medido por imagens de satélite (Enhanced Vegetation Index – EVI), obtidas pelo satélite Terra, da NASA. Foram consideradas áreas urbanas aquelas com densidade mínima de 1.500 habitantes por km² e população superior a 50 mil pessoas.

Se a vegetação urbana tivesse sido aumentada em 30% no período de 2000 a 2019, o número médio de vidas salvas por região teria sido:

• Europa – 396.955

• América do Norte – 69.306

• América Latina e Caribe – 123.085

• África – 35.853

• Ásia – 527.989

• Oceania – 2.733

• Austrália e Nova Zelândia – 2.759

Mudança modelada na fração atribuível de mortes relacionadas ao calor em diferentes cenários de EVI em 2000-19 para as 1000 áreas urbanas mais populosas (Para o cálculo da fração atribuível de óbitos relacionados ao calor, o número total de óbitos relacionados ao calor foi dividido pelo número total de óbitos).

Qual a influência das áreas verdes na qualidade de vida urbana?

Importância da presença de áreas verdes na qualidade de vida urbana.

As cidades brasileiras enfrentam desafios ambientais cada vez muito mais graves, impulsionados pelas mudanças climáticas. De norte a sul do país, os impactos são visíveis, com inundações, secas e ondas de calor cada vez muito mais frequentes e intensas. (ecodebate)

Decrescimento populacional com prosperidade social na Tailândia

 “Não podemos esconder os problemas do crescimento populacional humano debaixo do tapete” - Dra. Jane Goodall.

A Tailândia deve servir de inspiração para os demais países, especialmente para aqueles países que apresentam grande crescimento populacional e baixo crescimento econômico

A Tailândia (conhecida anteriormente como Sião) é uma nação asiática situada no centro da península da Indochina e península Malaia. Faz fronteira ao norte com Mianmar e Laos, a Leste com Laos e Camboja, ao sul pelo Golfo da Tailândia e da Malásia e a oeste o Mar de Andamão.

Suas fronteiras marítimas incluem o Vietnã, no Golfo da Tailândia, a Indonésia e a Índia. O país é uma monarquia constitucional, desde 1946. Cerca de 75% da população é etnicamente tailandesa, 14% são de origem chinesa e 3% são etnicamente malaias. A religião principal é o budismo, praticado por cerca de 85% da população.

A Tailândia era um dos países mais pobres do mundo em meados do século passado, mas passou por uma rápida e profunda transição demográfica e avançou em termos econômicos e sociais. Até o início dos anos de 1970, a Tailândia tinha uma renda per capita abaixo da renda per capita de Moçambique e muito abaixo da renda per capita brasileira.

A evolução econômica e social da Tailândia depois da Segunda Guerra Mundial foi marcada por profundas transformações que a levaram de uma economia agrária tradicional a uma economia emergente, industrializada e urbanizada.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a Tailândia escapou de ocupação direta, mas esteve alinhada ao Japão. Ao fim do conflito, buscou se reposicionar internacionalmente, tornando-se aliada dos EUA no contexto da Guerra Fria. A economia ainda era fortemente agrária, com predominância do cultivo de arroz para exportação. O país recebeu apoio econômico e militar dos EUA, especialmente nos anos 1950, o que financiou infraestrutura e ajudou a estabilizar o regime militar que se consolidava no poder.

O governo incentivou a industrialização por substituição de importações e, depois, a abertura ao capital estrangeiro. O investimento direto externo, sobretudo japonês e americano, impulsionou indústrias leves (têxteis, processamento de alimentos) e a infraestrutura urbana, principalmente em Bangkok. O país se tornou um polo logístico e militar importante durante a Guerra do Vietnã, recebendo grandes fluxos de capital e tecnologia. O crescimento econômico acelerou, acompanhado de migração rural-urbana, ampliando desigualdades sociais e regionais (Bangkok versus o interior).
Nos anos 1980–1990 aconteceu o “milagre econômico tailandês”. A Tailândia passou a adotar políticas exportadoras, com foco em manufaturas, eletrônicos, automóveis e vestuário. O PIB cresceu em média de 7 a 8% ao ano, transformando o país em um dos chamados “tigres asiáticos secundários”. Houve expansão da classe média urbana, maior acesso à educação e redução da pobreza.

Nos anos 2000, a economia se diversificou, mantendo a agricultura como base exportadora (arroz, borracha, açúcar), mas consolidando setores industriais e serviços. O turismo se tornou um dos maiores motores econômicos, representando cerca de 15% do PIB. Houve melhorias sociais: redução da pobreza extrema, maior acesso à saúde e educação. No entanto, persistiram desigualdades regionais.

A Tailândia, hoje, é classificada como país de renda média-alta (possui renda per capita maior do que a brasileira). Destaca-se pela integração às cadeias globais de valor, com forte presença de montadoras e eletrônicos. Socialmente, apresenta altos índices de alfabetização, sistemas de saúde relativamente bem estruturados e redução expressiva da pobreza em comparação ao período pós-guerra.

Em 1950, a população da Tailândia era de 20,4 milhões de habitantes, cerca de 2,6 vezes menor do que a população de 53,9 milhões de habitantes do Brasil. Mas a Tailândia, mesmo sendo um país majoritariamente rural e agrário, fez uma rápida e profunda transição demográfica que possibilitou o crescimento da renda per capita e a melhoria das condições sociais.

O gráfico abaixo, com dados do FMI, mostra que a população da Tailândia era de 47 milhões de habitantes em 1980 e chegou ao pico de 72 milhões em 2022. No mesmo período, a renda per capita, em preços constantes, em poder de paridade de compra (ppp) passou de US$ 4,6 mil para US$ 21,3 mil.

Na atual década, a população da Tailândia vai diminuir para 71,2 milhões de habitantes em 2030. Porém, a renda per capita deve subir para US$ 25 mil em 2030. Ou seja, entre 2022 e 2030 a população vai encolher, mas a renda per capita vai aumentar, elevando o poder de compra médio da população. O IDH da Tailândia, em 2023, foi de 0,798, ocupando o 76º lugar no ranking global, muito próximo de entrar no grupo muito alto de desenvolvimento humano.
No pensamento convencional, o envelhecimento populacional conjugado com o decrescimento demográfico é interpretado como “armadilha fiscal gerontológica” ou “inverno demográfico” e seria o fim da linha para o desenvolvimento humano de qualquer nação. Contudo, o exemplo da Tailândia, que tem uma idade mediana de 41 anos em 2025, mostra que pode haver envelhecimento e decrescimento da população com prosperidade social.

De fato, a diminuição da população significou o fim do 1º bônus demográfico. Mas a Tailândia contou com o 2º bônus demográfico – bônus da produtividade – o 3º bônus demográfico – bônus da longevidade e da geração prateada e o 4º bônus ou bônus do decrescimento.

Esta visão sobre o decrescimento populacional como oportunidade de progresso social e ambiental é apontada pelo renomado demógrafo Wolfgang Lutz, que traça um quadro bastante otimista do futuro da civilização humana se for dada prioridade à educação universal e, em particular, à educação feminina:

“Mais investimentos em educação compensam em termos de maior bem-estar, e ainda mais quando combinado com níveis de fecundidade que levam ao declínio populacional a longo prazo em países individuais e, em última análise, em todo o mundo. Portanto, esta conclusão apoia o título do artigo, que afirma que o declínio da população global não é apenas provável, mas também irá beneficiar o bem-estar humano a longo prazo” (Lutz, 2023, p. 13).

Desta forma, o envelhecimento populacional é inexorável, mas isto não implica necessariamente em retrocesso nos indicadores sociais. O mundo será um lugar melhor para se habitar se o decrescimento populacional dos países for acompanhado do aumento da renda per capita e da redução da pegada ecológica e do déficit ambiental. Um mundo com menor quantidade de pessoas, pode ser um mundo com maior qualidade de vida humana e ecológica.

O avanço tecnológico pode compensar a diminuição do número de trabalhadores. Por exemplo, a Inteligência Artificial (IA) – a despeito de seus efeitos potencialmente perigosos – pode contribuir para mitigar as tendências de declínio da população em idade produtiva, mesmo não substituindo completamente o trabalho humano. A IA pode ajudar a aumentar a produtividade, transformar setores e criar novas oportunidades, compensando, em parte, a escassez de mão de obra, podendo contribuir da seguinte forma:

Pirâmide populacional do Tailândia em 2025

1. Aumento da produtividade

A IA pode automatizar tarefas repetitivas e rotineiras, liberando os trabalhadores humanos para focarem em tarefas mais complexas e de maior valor agregado. Isso é especialmente importante em setores como a manufatura, serviços financeiros, saúde e logística, onde a automação já está permitindo operações mais eficientes.

2. Compensação em setores críticos

Nos cuidados de saúde e na assistência aos idosos, onde a demanda aumentará devido ao envelhecimento populacional, a IA pode desempenhar um papel crucial. Sistemas baseados em IA podem ajudar no diagnóstico precoce de doenças, monitoramento de pacientes e administração de medicamentos, reduzindo a carga sobre médicos, enfermeiros e cuidadores.

3. Economia baseada em habilidades tecnológicas

Com a adoção de IA, muitos setores estão se transformando, exigindo novas habilidades. Isso pode compensar o decrescimento da força de trabalho em setores mais tradicionais, desde que as economias estejam preparadas para transições tecnológicas. A educação e a requalificação serão cruciais para permitir que as pessoas se adaptem a essas mudanças.

4. Autonomia em infraestrutura e transportes

Sistemas autônomos, como veículos sem motorista e drones, podem reduzir a necessidade de trabalhadores em setores como transporte e logística. Essas inovações também podem ser aplicadas em infraestruturas inteligentes para melhorar a eficiência de cidades e indústrias, com menos necessidade de mão de obra direta.

5. Melhoria da eficiência econômica

A IA pode ajudar a otimizar processos econômicos em várias escalas. Com a capacidade de analisar grandes volumes de dados e prever padrões, a IA pode identificar áreas de melhoria nas cadeias de suprimento, na alocação de recursos e no consumo de energia, aumentando a produtividade geral da economia.

6. Automação de trabalhos intelectuais

Além dos trabalhos manuais, a IA também pode assumir tarefas que tradicionalmente requerem habilidades cognitivas, como análises financeiras, geração de conteúdo e tomada de decisões estratégicas, o que pode compensar a falta de profissionais em certos campos especializados.

Como disse Larry Fink, Chairman and CEO at BlackRock (2025): “Há uma preocupação de que a IA possa eliminar empregos. É uma preocupação válida. Mas em sociedades ricas e envelhecidas que enfrentam escassez inevitável de mão de obra, a IA pode ser menos uma ameaça do que uma tábua de salvação”.

Evidentemente, o progresso tecnológico não é inevitavelmente positivo, uma vez que ele precisa ser orientado por escolhas conscientes que busquem beneficiar o coletivo e não apenas o poder econômico de elites minoritárias. Para garantir que os avanços tecnológicos beneficiem a maioria da população e não apenas uma elite é importante garantir o funcionamento de instituições fortes e inclusivas, possibilitando um futuro mais próspero e equitativo para todas as pessoas.
Evolução da população mundial 1950-2050

As transições demográfica, energética e tecnológica podem reconfigurar a dinâmica social e econômica no século XXI. O caso da Tailândia deve servir de inspiração para os demais países, especialmente para aqueles países que apresentam grande crescimento populacional e baixo crescimento econômico, visando a redução da pobreza e o aumento da qualidade de vida humana. (ecodebate)

Arborização urbana salva vidas e reduz o calor extremo

Entre os principais ganhos ambientais da arborização urbana está a redução do efeito das ilhas de calor. Árvores e áreas verdes ajudam a dim...