sábado, 23 de maio de 2009

O império do carbono

Eu vi o futuro, e não vai funcionar. Estes deveriam ser tempos de esperança para os ambientalistas. A pseudociência não impera mais em Washington. O presidente Barack Obama foi rigoroso em seus discursos sobre a necessidade de agir a respeito da mudança do clima. As pessoas com quem falo estão cada vez mais otimistas de que o Congresso logo estabelecerá um sistema de permissões negociáveis (as empresas recebem o direito de emitir certa quantidade de poluição e as que atingem a meta de redução antes do prazo podem vender parte da permissão a outras), que limita as emissões de gases do efeito estufa, com restrições crescentes ao longo do tempo. Assim que a América agir, podemos esperar que o mundo siga nossa liderança. Mas ainda resta o problema da China, onde estive a maior parte da semana passada. Como todo visitante, fiquei impressionado com a escala do desenvolvimento no país. Mesmo os aspectos chatos (boa parte do tempo foi gasto vendo a Grande Muralha da pirataria) são subprodutos do sucesso econômico da nação. Mas a China não pode continuar no caminho atual porque o planeta não suportará a pressão. O consenso científico nas estimativas sobre aquecimento global se tornou muito mais pessimista nos últimos anos. As últimas projeções climáticas de cientistas confiáveis na área se aproximam da visão apocalíptica. Por quê? Porque o crescimento da taxa das emissões de gases poluentes iguala ou supera os piores cenários. E a expansão das emissões da China – já é o maior produtor de dióxido de carbono do mundo – é a principal razão desse novo pessimismo. As emissões chinesas, provenientes principalmente das usinas que queimam carvão, dobraram entre 1996 e 2006. E a tendência parece continuar. Em janeiro, a China anunciou planos de manter o carvão como principal fonte de energia, e para alimentar a expansão econômica, elevará a produção do mineral em 30% até 2015. É uma decisão que, por si só, neutraliza todas as reduções de emissão em outros lugares. Então, o que deve ser feito quanto ao problema da China? Nada, dizem os chineses. Cada vez que levantei a questão na minha visita, fui confrontado com declarações indignadas de que seria injusto esperar que a China limitasse o uso de combustíveis fósseis. Afinal, afirmaram, o Ocidente não teve de lidar com restrições semelhantes durante o seu desenvolvimento. Mesmo que a China possa ser a maior fonte de emissão de dióxido de carbono do mundo, suas emissões per capita ainda estão muito abaixo dos níveis norte-americanos. E de qualquer forma, a grande parte do aquecimento global que já ocorreu não é responsabilidade da China, mas sim das emissões de carbono do passado feitas pelas nações hoje ricas. E eles estão certos. É injusto esperar que a China viva com restrições que não precisamos enfrentar. Mas essa injustiça não muda o fato de que deixar a China repetir o desperdício do Ocidente no passado acabaria com a Terra que conhecemos. Os chineses insistem também que não deveriam ser responsabilizados pelos gases poluentes que emitem quando produzem bens para consumidores estrangeiros. Mas se negam a aceitar a implicação lógica dessa visão – que a carga deveria recair, então, sobre os consumidores estrangeiros, que os compradores de produtos chineses deveriam pagar uma “tarifa de carbono” que reflete as emissões associadas com a produção desses bens. Isso, dizem os chineses, violaria os princípios do livre comércio. De qualquer forma, o problema com a China não é tanto o que produz, mas como produz. A China emite mais dióxido de carbono do que os EUA, embora seu Produto Interno Bruto (PIB) seja apenas cerca da metade (e os EUA, por sua vez, são um superemissor se comparados com a Europa e o Japão). A boa notícia é que a ineficiência na utilização da energia chinesa oferece um enorme espaço para melhorias. Com as políticas corretas, a China poderia continuar crescendo rapidamente sem aumentar as emissões de carbono. Há indícios de que as autoridades do país estão começando a perceber que a posição atual é insustentável. Mas suspeito que eles não enxergam o quão rapidamente todo o jogo pode mudar. Quando os EUA e outros países avançados se mobilizarem para enfrentar a mudança climática, também estarão com poder moral de confrontar as nações que se recusam a agir. Mais cedo do que a maioria das pessoas pensa, países que se negam a limitar a emissão de gases poluentes irão enfrentar sanções, provavelmente em forma de taxas sobre as exportações. Irão reclamar amargamente que isso é protecionismo, mas, e daí? Globalização não funciona se o mundo ficar inabitável. É hora de salvar o planeta. E gostem ou não, a China terá de fazer sua parte.

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