terça-feira, 5 de maio de 2009

Plástico ecológico - II

O Brasil tem a tecnologia de produção e está prestes a se tornar o primeiro país do mundo a fabricar em escala contínua e comercial o plástico biodegradável a partir do açúcar da cana. Atualmente, uma unidade piloto da PHB Industrial S/A, em Serrana (SP), produz 60 toneladas/ano do produto. A empresa anunciou investimentos de US$ 50 milhões para ampliar a produção para duas mil toneladas anuais. As obras para ampliação da fábrica, anexa à Usina da Pedra, começam em 2007 e o início da produção em escala industrial está previsto para o segundo semestre de 2008. As pesquisas para a produção do plástico biodegradável a partir da sacarose começaram em 1991. A tecnologia foi desenvolvida pelo IPT em parceria com a Coopersucar e licenciada à PHB. A planta piloto da PHB, que pertence aos Irmãos Biagi e ao Grupo Balbo, está em produção desde 1995. De início, fabricava oito toneladas de plástico biodegradável/ano e a partir de 2000, passou a produzir 60 toneladas anuais. A produção tem como destino parte da Ásia, Europa e Estados Unidos, além do Brasil. O produto recebeu o nome de Biocycle (ciclo da vida, em inglês). O plástico biodegradável é utilizado principalmente em embalagens de alimentos e cosméticos, de produtos injetados, como brinquedos, e ainda de produtos termoformados, como potes de iogurte. O produto é obtido por meio de um processo de fermentação: as bactérias se alimentam do açúcar e o transforma em um poliéster natural, o plástico biodegradável. Para as bactérias, esses poliésteres, são uma reserva de energia. A etapa seguinte do processo de produção é a extração e purificação do poliéster acumulado dentro dos microorganismos, por meio do uso de um solvente natural. A principal vantagem do plástico biodegradável é que ele se decompõe rapidamente no meio ambiente, sem causar impacto ambiental negativo. Aos se decompor, ele transforma-se em CO2 (gás carbônico) e água. Não há liberação de resíduos tóxicos e o gás carbônico é resgatado da atmosfera pelas próprias plantações de cana. O plástico biodegradável se decompõe muito mais rápido na natureza: entre seis meses e um ano e meio, dependendo da espessura da peça e do meio em que se encontra. Já os plásticos de petróleo levam mais de cem anos para se degradar. Do ponto de vista químico, os plásticos biodegradáveis são estáveis e precisam estar em meio bacteriológico para a decomposição. Em fossas sépticas, a decomposição chega a 90% em seis meses e em aterros sanitários atinge 50% em 280 dias. Um mercado a ocupar O Brasil produz 4, 213 milhões de toneladas de plásticos por ano, segundo o Plastivida (Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos). Hoje, o plástico biodegradável tem uma participação ínfima nesse mercado. E ainda permanecerá pequena com a ampliação da produção da fábrica de Serrana. As duas mil toneladas que passarão a ser produzidas em 2008 vão corresponder a apenas 0, 047% do mercado nacional. Diversas aplicações do PHB estão em estudo: pinos, filmes, fios, embalagens, vasos para mudas de plantas que normalmente os agricultores deixam no campo, microcápsulas para implante ou ingestão que contenham medicamentos ou hormônios para liberação lenta. O custo e a escala de produção precisam ser ampliados para que se ampliem também seus nichos de aplicação. Os avanços no estudo da produção de PHB permitiram a redução no custo de produção. Quando foram iniciados os primeiros estudos, no início da década de 1990, o custo era de US$ 14/kg e hoje se aproxima de US$ 5. Ainda é um valor muito maior do que o dos plásticos de origem petroquímica, entretanto, não se pode fazer essa comparação porque a produção do PHB ainda está em fase piloto. Quando o celofane foi lançado, também tinha custo elevado, ao contrário de hoje. Além da sacarose, outra matéria-prima proveniente da cana-de-açúcar pode ser utilizada na fabricação do plástico biodegradável: o bagaço. Seu uso para a produção de PHB transformaria um resíduo potencialmente poluente em um material ambientalmente correto e de maior valor agregado, ao passo que a sacarose é um produto bastante purificado e de mercado garantido. O PHB produzido a partir do bagaço é obtido por meio da hidrólise (quebra estrutural) do produto. O bagaço libera então açúcares que fazem parte de sua composição, como a glicose, xilose e arabinose, que podem ser consumidos pelas bactérias utilizadas no processo de fabricação do plástico biodegradável. Bagaço é alternativa A próxima etapa produtiva é a remoção dos compostos tóxicos liberados na hidrólise. Em seguida, o material é submetido a bactérias produtoras de PHB, em condições especiais que permitam a produção do plástico. Este processo foi submetido recentemente a um pedido de patente no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). O uso do bagaço para este fim foi estudado em um projeto realizado no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) de São Paulo e financiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), entre 2001 e 2002. Tem-se feito uma busca em diferentes nichos ambientais, explorando a biodiversidade brasileira para encontrar microrganismos eficientes.

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