sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Críticos cobram apoio do País ao REDD

Posição brasileira sobre o tema é atrasadíssima, diz professor da UnB. A medida que a cúpula de Copenhague se aproxima, aumentam as pressões, doméstica e internacional, para que o Brasil mude sua posição sobre a inclusão do desmatamento evitado no mercado de carbono. Críticos ouvidos classificam a atuação brasileira no tema como retrógrada, anti-científica, maniqueísta e contrária aos esforços de conservação das florestas tropicais. "A posição do Brasil é atrasadíssima", diz o sociólogo Eduardo Viola, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. Segundo ele, o País está "prisioneiro de um erro histórico" que cometeu em 1997, quando se opôs à inclusão do desmatamento evitado no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Kyoto - apesar de todos os outros países florestais serem a favor. "Foi um tiro no pé", diz Viola. "O Brasil está isolado." Muitas dessas políticas, diz ele, estão enraizadas numa "paranóia histórica" que envolve a soberania nacional e o domínio da Amazônia. "Essa proteção da soberania acaba sendo uma proteção das forças que desmatam", diz a antropóloga cultural Myanna Lahsen, do INPE, autora de um estudo sobre as relações de poder que moldaram esse debate no Brasil. Ela aponta que, mesmo diante do acúmulo de evidências científicas mostrando que a Amazônia não funciona apenas como um reservatório, mas também como um sumidouro de carbono (absorvendo CO2 da atmosfera), a agenda brasileira manteve-se contrária à inclusão das florestas nativas no mercado de carbono. "Precisamos ser mais flexíveis", diz. Para o ecólogo Antonio Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, a diplomacia brasileira sobre carbono florestal é comandada por um "grupo ideológico e secretivo", que fecha os olhos para a ciência e continua a insistir na mesma "política falida de Kyoto". Ele teme que as incertezas levantadas sobre o papel do desmatamento nas emissões globais de carbono sejam usadas para sabotar um acordo favorável ao REDD em Copenhague. "Vão tentar remover as florestas das negociações, como já fizeram em Kyoto, e veja onde isso nos levou. As emissões globais de carbono só aumentam e nossas florestas continuam sendo devastadas", aponta Nobre, ressaltando que os ecossistemas florestais prestam muitos outros serviços ambientais além do ciclo de carbono. "O maniqueísmo em torno de uma incerteza numérica ignora totalmente esses outros valores. Mas os negociadores, com a participação ativa do grupelho ideológico que manipula nossa agenda nesta área, se refestelam com o reducionismo no debate." No cenário político nacional, o REDD conta com o apoio de todos os governadores da Amazônia, que pressionam o governo federal no sentido de mudar a posição do Brasil para Copenhague. "Precisamos adotar uma linha de negociação mais pragmática e menos punitiva", diz o diretor da Fundação Amazonas Sustentável, Virgílio Viana. Ele coordena uma "força tarefa" montada a pedido do Fórum de Governadores da Amazônia para discutir o REDD, com a participação de vários representantes das esferas estaduais e federais. A primeira reunião ocorreu na semana passada, no Rio, e deixou Viana otimista. "Aqueles que chegaram com uma posição radicalmente contra saíram abalados. Aqueles que chegaram indecisos saíram convencidos", garante Viana. Segundo ele, todas as questões técnicas levantadas contra o REDD já têm solução.

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