terça-feira, 25 de agosto de 2009

Desmate gera 2,5% das emissões globais de carbono

O desmatamento da Amazônia brasileira contribui com aproximadamente 2,5% das emissões globais de gases do efeito estufa (GEEs), responsáveis pelo aquecimento global, segundo um cálculo preliminar feito por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O volume de carbono emitido é enorme. Porém, proporcionalmente menor do que se imaginava, segundo o diretor do Inpe, Gilberto Câmara. A estimativa inicial, diz ele, era de que o desmatamento na Amazônia brasileira respondia por 5% das emissões globais de GEEs (principalmente dióxido de carbono, ou CO2). O novo cálculo foi feito numa reunião com cientistas do instituto na sexta-feira, após uma consulta feita pela reportagem do "Grupo Estado". Câmara enfatiza que é uma estimativa preliminar, que ainda precisa ser refinada - mas que não deve desviar muito dessa ordem de grandeza. A conta foi feita com base na taxa de desmatamento de 2008, que foi de aproximadamente 13 mil Km². O diretor do INPE aproveita para questionar outra estimativa que vem sendo citada amplamente nos debates internacionais, de que o desmatamento acumulado no mundo produz 20% das emissões globais de GEEs. Esse número, segundo ele, é baseado em dados superestimados da Fundação das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que adota como média para o Brasil um desmatamento anual de 30 mil Km² - muito acima do real. Nos últimos 20 anos, segundo os dados do próprio INPE, a média anual de desmate na Amazônia brasileira foi de aproximadamente 18 mil Km². "Não há base científica confiável para esses 20%", disse Câmara. Ele acredita que uma estimativa mais realista seja em torno de 10%, conforme um trabalho publicado pelo World Resources Institute. O cálculo dos 20% é citado nos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e tem servido de base para as negociações internacionais a respeito da contribuição do desmatamento (e dos países em desenvolvimento) para o aquecimento global. "O IPCC chancelou esse dado porque ninguém dos países em desenvolvimento se deu ao trabalho de ir atrás do número real", afirma Câmara - acrescentando que o INPE está empenhado em fazer esse cálculo. "Foi um dado que ninguém se interessou em contestar." Os novos números, segundo Câmara, não diminuem em nada a necessidade de estancar o desmatamento. Mas diminuem, sim, o efeito que essa redução pode ter sobre as mudanças climáticas na escala global. As implicações são grandes para a negociação do novo acordo climático que deverá ser fechado em dezembro, em Copenhague, na próxima Conferência das Partes (COP) da Convenção do Clima das Nações Unidas. "É muito conveniente para os países desenvolvidos que as emissões por desmatamento nos países em desenvolvimento sejam altas", avalia Câmara. "Quanto maior a nossa contribuição (para o aquecimento global), menor a deles." Três reuniões preparatórias ainda serão realizadas antes de Copenhague. A primeira começa amanhã (10) em Bonn, na Alemanha. Desmatamento evitado - Os novos cálculos apresentados por Câmara alteram também o cenário das discussões sobre Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal (REDD), que é um dos temas críticos na agenda do Brasil para Copenhague. O REDD é um mecanismo proposto que permitiria aos países desenvolvidos receber créditos de carbono pelo financiamento de projetos de conservação que reduzam o desmatamento nos países em desenvolvimento. O governo brasileiro aceita negociar o REDD como um mecanismo auxiliar de financiamento, mas não como um mecanismo compensatório. Ou seja: os países desenvolvidos poderiam financiar projetos de conservação e até obter créditos de carbono, mas não usar esses créditos para compensar suas próprias emissões. Na visão do Itamaraty e de representantes do Ministério da Ciência e Tecnologia que participam das negociações, isso daria uma saída fácil para os países desenvolvidos cumprirem suas metas sem precisar reduzir substancialmente suas emissões por queima de combustíveis fósseis - que é o maior problema global. "Não adianta querer salvar o clima com florestas; não adianta mesmo", diz a diretora de Relações Internacionais do Inpe, Thelma Krug, uma das principais representantes do Brasil na Convenção do Clima. "A floresta preserva estoques de carbono, mas não reduz emissões", diz o diplomata André Odenbreit, do Itamaraty. "Se dermos créditos de carbono para conservação aqui, alguém vai emitira mais em outro lugar. A conta simplesmente não fecha." Além disso, diz ele, se o Brasil exigir compensações para não desmatar suas florestas, outros países poderão exigir o mesmo para não explorar suas reservas de petróleo. Mudança de uso da terra Como o desmatamento produz emissões de gás carbônico para a atmosfera. Floresta Intacta – As florestas guardam enormes quantidades de carbono, que é um componente básico da matéria orgânica (biomassa). O carbono está embutido na vegetação. Desmatamento – Quando a vegetação é queimada, o carbono da biomassa é liberado para a atmosfera na forma de gás. Agropecuária – Se a área é convertida em pastos ou plantações, a vegetação não rebrota e o carbono não é reabsorvido. Reflorestamento – Se a floresta rebrota ou é replantada, o carbono é reabsorvido pela vegetação e transformado novamente em biomassa. A proposta REDD Hoje, pelas regras do protocolo de Kyoto, países em desenvolvimento podem obter créditos de carbono pelo reflorestamento de áreas já desmatadas, mas não pelo “desmatamento evitado” de áreas ainda com floresta nativa. Desmatamento Evitado Pelo mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD), países desenvolvidos que financiassem projetos de proteção florestal no Brasil poderiam obter créditos pelo carbono que deixou de ser emitido para a atmosfera.

Nenhum comentário:

Mudanças Climáticas: o que podemos fazer?

Desligue aparelhos e lâmpadas que não estão sendo usados. Dê preferência ao uso de fontes de energia limpa e renováveis, como a energia sola...