quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Obama falhou com o mundo na questão climática

Ativista do Greenpeace, em Hong Kong, ‘exige’ a presença do presidente dos EUA, Barack Obama, em Copenhague. O presidente dos EUA, Barack Obama, assumiu o cargo prometendo esperança e mudança. Contudo, na questão climática, ele seguiu os passos de seu predecessor, George W. Bush. Agora, se a reunião do clima em Copenhague falhar, a culpa estará inteiramente nos ombros de Obama. A pasta chamada “mudança climática” que George W. Bush deixou para seu sucessor na mesa do Escritório Oval em janeiro provavelmente não era grossa. Apesar de Bush certa vez ter dito que os EUA são excessivamente dependentes do petróleo, ele nunca foi além dessa descoberta. Estava ocupado demais travando a guerra no Iraque e buscando uma base legal para rendições extraordinárias para prestar muita atenção à real ameaça diante da humanidade. “Esqueça o clima”, parece ter sido o lema não oficial de Bush. Contudo, poucas pessoas esperavam que Barack Obama, dentre todas as pessoas, daria prosseguimento ao plano de mudança climática de seu predecessor. Quando assumiu o cargo no início de 2009, ficou claro que o sucesso da Reunião de Cúpula da Mudança Climática da ONU em Copenhague em dezembro dependia quase inteiramente dos EUA, que estes precisavam assumir um papel de liderança claro em um problema que poderia abalar a civilização em sua essência. Somente se os EUA conseguirem reduzir seu consumo de energia excessivo, comprometerem-se com metas de redução de emissões de CO2 obrigatórias e ajudarem a financiar países mais pobres a se distanciarem do petróleo ainda haverá uma chance que países como a China e a Índia farão o mesmo e que o perigoso aquecimento da Terra possa ser detido. No final de semana, Obama anunciou que não haveria acordo sobre regras obrigatórias em Copenhague. Foi a admissão de um enorme fracasso – e um prelúdio de uma fase verdadeiramente dramática de política de clima internacional. Obama mentiu aos europeus Barack Obama se retratou como “cidadão do mundo” quando fez seu bem recebido discurso de campanha em Berlim no verão de 2008, mas ele traiu essa alegação. Em seu discurso em Berlim, foi desonesto com a Europa. Obama negligenciou o tema mais importante para um presidente norte-americano que gosta de se ver como um cidadão do mundo, ou seja, o vício de seu país em combustíveis fósseis e o risco da mudança climática desenfreada. A reforma da saúde e outras questões internas foram mais importantes para ele do que as ameaças ambientais globais. Ele não quis ou não foi capaz de convencer os cépticos em suas próprias fileiras e potenciais desertores republicanos a apoiarem-no prometendo, por exemplo, investimentos alternativos como compensação para Estados com grandes reservas de carvão. Na reunião da Apec, Obama anunciou que não era mais possível garantir um tratado obrigatório em Copenhague, resultado de sua própria negligência. A China, a Índia e outras economias emergentes sempre falaram abertamente que os EUA, como maior emissor de CO2 do mundo, teriam que assumir um papel ativo e se comprometerem com metas concordadas por meio de negociação internacional. Mas este não é o estilo norte-americano. Os EUA gostam de se ver como líderes do mundo ocidental, mas, no que concerne a mudança climática, falharam redondamente pela enésima vez. Se o resto do mundo seguisse o exemplo dos EUA no uso de combustíveis fósseis, os oceanos não apenas esquentariam, mas provavelmente começariam a ferver. As emissões de CO2 per capita americanas são cerca do dobro das nações industrializadas e muito maiores do que as do mundo em desenvolvimento. O projeto de lei de mudança climática atualmente no Congresso não vai longe o suficiente -e isso é culpa de Obama. O projeto propõe reduzir as emissões de CO2 até 2020 em ridículos 4% em relação aos níveis de 1990. Os pesquisadores acreditam que reduções de 40% ou mais são necessárias. O projeto de lei foi ainda mais aguado – exatamente pelo tipo de interesses que o novo presidente dos EUA prometeu vencer. Obama não se preocupou em comunicar a importância da mudança climática para seus cidadãos em algum discurso importante ou em suas amadas reuniões nas prefeituras. E deixou para os europeus tomarem a liderança. Os americanos não olham além de suas fronteiras As prioridades de Obama estão erradas. Copenhague não é apenas mais uma reunião, é o esperado clímax, após muitos anos de negociações, cujo fracasso foi evitado somente no último minuto na reunião de Bali há dois anos. As empresas de energia e a indústria em torno do mundo vão usar os resultados da reunião de Copenhague como base quando planejarem seus investimentos para os próximos anos e décadas. Obama dispôs-se a viajar para Copenhague em outubro para apoiar a candidatura de sua cidade de Chicago como anfitriã dos Jogos Olímpicos, mas está deixando aberta a questão se irá para a capital dinamarquesa em dezembro para a Conferência de Mudança Climática da ONU. Com isso, deu aos outros líderes mundiais um sinal de que não precisam participar. Se a reunião de cúpula de Copenhague que os estrategistas e ambientalistas vêm preparando há dois anos fracassar, então será principalmente por culpa de Obama. Admite-se que os europeus têm sido lentos comprometer concretamente os bilhões de euros necessários para ajudar países em desenvolvimento a combater a mudança climática, mas ao menos estão preparados para fazer reduções de CO2 significativas de até 30% relativas aos níveis de 1990 até 2020. Os EUA, contudo, estão fazendo corpo mole, preferindo táticas à estratégia – exatamente como nos tempos de George W. Bush. Sonhado por Hollywood Para a maior parte dos norte-americanos, o mundo além das fronteiras dos EUA não passa de um incômodo irritante. Por esta razão, argumentos baseados nos apelos dos bengaleses que estão se afogando, dos africanos que estão passando fome ou das ilhas alagadas da Indonésia têm pouco efeito. Hollywood é uma indústria que promove continuamente o ideal materialista de prosperidade ocidental para bilhões de pessoas em torno do mundo, enquanto ao mesmo tempo as bombardeia com visões apocalípticas na forma dos filmes de desastres. Muitos norte-americanos claramente também acreditam que a mudança climática é apenas algo sonhado pela indústria de entretenimento. Obama provou-se incapaz de colocar um fim às mentiras sobre as quais se baseia a sociedade norte-americana moderna. É incapaz de superar os lobistas entrincheirados do petróleo e do carvão e tornar a realidade clara para seus compatriotas: eles são os piores desperdiçadores de energia do planeta e assim, indiretamente, uma importante ameaça à paz mundial no século 21. Apesar de não apreciarem uma qualidade de vida mais alta que os europeus, os norte-americanos consomem o dobro do combustível fóssil per capita. Seus carros são grandes demais, suas casas não são eficientes energeticamente e eles ainda não afastaram seus talentos de inovação dos mecanismos de entretenimento triviais e os direcionaram para tecnologias de energia renovável. O principal culpado Pode parecer arrogante responsabilizar os norte-americanos. Contudo, ao menos na Europa, muitos estão dispostos a questionar seu próprio estilo de vida e olhar para eventos para além de suas fronteiras. A reunião de cúpula de Copenhague, que será daqui a apenas três semanas, ainda não está perdida. Mas se o pior cenário se tornar realidade em Copenhague e nas conferências que se seguirão se, em outras palavras, os líderes mundiais ignorarem as conclusões da comunidade científica global, então os EUA ficarão em uma posição muito desconfortável: serão considerados os principais culpados do aquecimento global e isso após terem nos dado, com sua exagerada especulação imobiliária, uma crise econômica que não apenas destruiu bens, mas empurrou 100 milhões de pessoas no mundo todo para a fome. Com esse histórico, os EUA dificilmente poderão se atribuir o título de líderes do mundo ocidental, muito menos merecer um Prêmio Nobel da Paz para seu líder.Um mundo com litorais alagados, rios secos e florestas desaparecendo levará a movimentos gigantescos de refugiados e conflitos. O comitê do Nobel deve adiar a cerimônia de premiação de 10/12 para 20/12/09. Somente se Obama alcançar um acordo convincente na Conferência de Copenhague haverá uma verdadeira razão para homenageá-lo.

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