quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O cerrado brasileiro cortado pela metade

Mapa da ecorregião do Cerrado. Os limites da ecorregião mostrados em amarelo. Em 11 de setembro, quando é comemorado o Dia do Cerrado, o Ministério do Meio Ambiente e o IBAMA divulgam um estudo que revela que já foi destruída quase metade da área original deste importante bioma brasileiro. Uma extensão de quase 1 milhão de quilômetros quadrados de mata foi posta abaixo para fazer carvão que abastece siderúrgicas e para a terra ser usada no plantio da soja ou para a pecuária. O desmatamento vem desde os anos 1970, mas os dados revelam um aceleramento recente no ritmo da devastação. Entre 2002 e 2008 teriam ocorrido entre 5% e 6% do total desmatado, uma área próxima dos 120.000 km². Para se ter uma idéia do estrago, o estado do Paraná tem 199.314 km². O cerrado sempre foi tido em menos conta na agenda ambiental brasileira, tomada praticamente toda pela questão da Amazônia. O cenário de árvores tortas e pequenas acabou sendo ofuscado pela imensidão da floresta amazônica, mas é um erro ignorar a interdependência entre os dois biomas. No cerrado estão as nascentes dos principais rios das bacias Amazônica, da Prata e do São Francisco. Um terço da biodiversidade brasileira está no cerrado. Já foram registradas mais de 12.000 espécies de plantas, muitas delas só lá encontradas. 40% de suas plantas lenhosas nascem apenas neste ambiente e 50% das espécies de abelhas só existem ali. Sobre esta riqueza impressionante pode-se lembrar um exemplo dado pelo jornalista Washington Novaes, um especialista de grande conhecimento na área do meio ambiente. No ano de 1992 ele escreveu que um professor identificou e classificou quase 300 espécies de orquídeas só no território do Distrito Federal, com pouco mais de 5 mil km². Na Amazônia, ele conta um território mil vezes maior, conhece-se pouco mais de 300 orquídeas. Mas de lá para cá muito foi destruído. Originalmente, 14% do território de São Paulo eram ocupados por vegetação típica do cerrado. Hoje restam apenas 0,84% da área do Estado. O cerrado de Minas Gerais foi quase todo derrubado e consumido por carvoarias. A aparente aridez do cerrado não permite perceber que temos ali um importante bioma para a preservação dos nossos recursos hídricos. O cerrado é a caixa d’água do Brasil, como bem disse Cesar Victor do Espírito Santo, do Conselho da Rede Cerrado, que congrega mais de cem ONGs. Além das três principais bacias hidrográficas citadas, cujas principais nascentes estão no bioma, por debaixo do solo de vários Estados do cerrado está o Aquífero Guarani. Com todo este peso ambiental, no entanto o cerrado é o chamado “primo pobre” dos biomas brasileiros, sempre esquecido dos poderes públicos e maltratado por um modelo econômico que usa o meio ambiente apenas como recurso para o lucro fácil e rápido. O descaso com o cerrado tem até um aspecto simbólico, como no fato de serem patrimônios nacionais a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira. Quanto ao cerrado, há uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que solicita seu reconhecimento, junto com a Caatinga, como patrimônio nacional.Pois a PEC tramita há 14 anos no Congresso Nacional. Agora, com quase metade deste bioma destruído, o Brasil tem que correr contra o tempo e tomar medidas práticas. Ou não sobrará patrimônio algum para o Congresso oficializar.

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