sábado, 27 de fevereiro de 2010

Países são ameaçados pelo aquecimento global

Anote Tong, presidente do Kiribati, uma ilha no Pacífico, confessou a representantes de outros governos em recente conferência sediada na Organização das Nações Unidas (ONU): começou a guardar reservas para uma possível compra de terras no exterior. O objetivo não seria expandir seus domínios, mas garantir um lugar para sua população caso as mudanças climáticas acabem levando a uma elevação do nível do mar e ao fim do território. A estratégia é a mesma em governos como o das Ilhas Maldivas. Em Bangladesh, o temor é de que o país perca um quinto do território. Em todo o mundo, cresce a preocupação em relação ao impacto do clima nas populações, o que causaria possíveis migrações em massa. Entre os acadêmicos e altos funcionários da ONU, até mesmo a categoria de "refugiados ambientais" começa a ser pensada. Dados do Conselho Norueguês para Refugiados apontam que 20 milhões de pessoas em 2008 foram obrigadas a sair de suas casas por causa de desastres naturais. Segundo a ONG fundada por Kofi Annan, a Global Humanitarian Forum, 300 mil pessoas morreram em 2008 por causa do impacto das mudanças climáticas. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o nível dos oceanos poderia aumentar entre 18 e 59 centímetros até 2100. Nos últimos cem anos, a alta foi de 17 centímetros. Dados do Fórum Humanitário Global indicam que os 50 países mais vulneráveis geraram apenas 1% das emissões de CO2 nos últimos cinco anos. Tong conta que Kiribati está, em grande parte, 5 metros acima do nível do mar. Nos últimos anos, tempestades violentas têm mudado a vida da ilha. O volume de água potável é crítico e a agricultura está sendo afetada. Moradores da costa começaram a refazer suas casas no interior da ilha; o governo começa a treinar pessoas para profissões que possam ser úteis em outros países. "Somos o rosto das vítimas das mudanças climáticas", disse Tong. A população é de 100 mil pessoas. "Temos duas opções. Desaparecer ou procurar algum lugar seguro para continuar nossa sociedade e tradição." O presidente das Maldivas, com 380 mil habitantes, Mohamed Nasheed, anunciou também que começou a dialogar com o Sri Lanka e Índia sobre compra de terras, já que 80% do território tem menos de 1 metro de altitude. Para o governo, em menos de 200 anos, o país teria desaparecido. "É um mito achar que a humanidade sempre estará no mesmo lugar", afirmou. A população de duas ilhas do arquipélago já deixaram suas casas. "As mudanças climáticas exigem que aspectos da vida internacional sejam repensados. Um país que perde seu território continua sendo ou não um país?", questiona o representante da ONU para Assistência Humanitária, John Holmes. "Gastamos metade de nosso orçamento com as inundações. Os países ditos responsáveis por isso precisam ajudar os mais vulneráveis", disse o ministro de Relações Exteriores de Bangladesh, Hasan Mahmoud. O país teve, em dez anos, 70 desastres naturais. "Todos os anos temos refugiados ambientais."

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