quarta-feira, 31 de março de 2010

Desertificação

Desertificação. A face desumana das variações climáticas.
Desertificação é entendida como “a degradação da terra nas regiões áridas, subáridas e sub-úmidas secas, resultante de vários fatores, entre eles as variações climáticas e as atividades humanas”. Durante séculos as regiões secas estiveram isoladas dos processos de produção de excedentes econômicos para os mercados de alimentos e manufaturados sendo, quase que exclusivamente, fornecedores de matérias primas. Aí residiu o atraso tecnológico e a instauração de um padrão de exploração dos recursos naturais insustentáveis, face às demandas a que deveriam atender. “Os sintomas básicos da degradação das terras secas são os desequilíbrios entre as relações sociais e os ecossistemas naturais dos quais dependem”, afirma o economista J. Dixon, em importante trabalho sobre economia das regiões secas. A degradação da terra tem alguns componentes como: degradação do solo, degradação da vegetação com degradação dos recursos hídricos e redução da qualidade de vida. Esses componentes estão relacionados a várias áreas dos conhecimentos físicos, biológicos, hídricos e socioambientais. Há dificuldades conceituais de se atribuir a desertificação a algumas áreas. Os motivos são: a seca é um fenômeno mais antigo e mais visível do que a desertificação; a desertificação é um processo que ocorre durante lapsos de tempo relativamente grandes (10 ou mais anos), enquanto a seca é um evento marcado claramente no tempo. Isso faz com que as perdas de produtividade e da produção sejam atribuídas às secas, muito mais visíveis do que a desertificação. Em muitos casos o processo de desertificação não tem a feição nem a condição de deserto, dificultando a sua visualização. Outro problema é a falta de uma avaliação econômica da desertificação. O tema, indicadores de desertificação, vem sendo discutido há 33 anos. O MERCOSUL realizará estudos ambientais e econômicos da desertificação. Os custos ambientais e econômicos da não adoção das medidas necessárias para conter o processo de desertificação e a conseqüente degradação de terras, será objeto de um estudo que será realizado em breve pelos países do MERCOSUL. A Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (COP9) foi iniciada em 21/09 a 2/10/2009, passado. O Brasil sugeriu a articulação de um pacto nacional para a construção de uma agenda de desenvolvimento sustentável para o semi-árido. A Convenção estabeleceu 11 indicadores de desertificação, sendo apenas dois aprovados e dois citados nas recomendações. A partir da aplicação dos indicadores a cada uma das microrregiões da parte semiárida e sub-úmida seca do Nordeste, as áreas foram classificadas em: muito grave quando são conhecidas por um número de 15 a 19 indicadores; grave, de 11 a 14; moderada, de 6 a 10 indicadores. Indicadores de desertificação consensuados entre o Instituto Interamericano de Cooperação pela Agricultura, o Ministério do Meio Ambiente, a Fundação Grupo Esquel Brasil, o Banco Internacional de Desenvolvimento e o Fundo Especial do Governo do Japão são encontrados em http://www.iicadesetification.org.br/imagem/noticia/File/Paises_do_Programa/Brasil/Taller_Nacional/TallerNacionTallerNacional_Brasil A redução da biodiversidade do Bioma Caatinga (Mata Branca) conseqüência dos processos de desertificação tem-se configurado como um dos graves problemas das regiões do semiárido brasileiro. Nesse contexto, objetiva-se avaliar a dinâmica da degradação (desertificação em função de diferentes usos e manejo do Bioma Caatinga). Inventariou-se a composição florística, a estrutura da comunidade vegetal, analisando as condições geoecológicas. Este estudo foi desenvolvido na UFC – Universidade Federal do Ceará. Na África, Ásia, Índia e América Latina, a situação é bem semelhante, mesmo quando consideramos países desenvolvidos cujas áreas secas são menos desenvolvidas em relação a outras sujeitas a chuvas freqüentes. O Sistema de Desertificação para a Europa Mediterrânea que integra Portugal, Espanha, Itália e Grécia apresenta 148 indicadores relevantes para o desenvolvimento destes países. Uma abordagem relacionada a conhecimento e indicadores, apresentada por Mwesigye propondo a tradução ou adaptação dos nossos conceitos científicos para a língua nativa das populações tradicionais, de modo a valorizar-lhes a própria cultura, o saber e as práticas tradicionais de observação, mensuração e diagnóstico da qualidade e/ou mudança do meio ambiente. Essa abordagem reforça a já conhecida constatação de que as sociedades tradicionais têm desenvolvido suas próprias hipóteses e práticas de observação e mensuração das alterações ambientais e manejo controlado dos recursos naturais. A pesquisa de Mwesigye trata do conceito de degradação ambiental e procura encontrar o similar para o dialeto Runyankore, um dos muitos dialetos de Uganda. O mencionado conceito adquire dez diferentes significados como indicadores de mudanças mencionados a seguir: mudança dos padrões de chuva, redução da cobertura vegetal, secagem das fontes de recursos hídricos, surgimento de pragas e doenças nas plantações, perda de fertilidade do solo, secagem de pântanos, erosão e perda de fertilidade do solo e uso crescente de tecido industrial. Os problemas para o desenvolvimento de um sistema de indicadores esbarram em questões de ordem teórica metodológica, assim como no próprio modus operandi da prática acadêmica, onde considerações acerca da valorização dos “conhecimentos tradicionais” ou da participação das populações locais passam a ter importância na construção do conhecimento. Um consenso na comunidade científica para a definição do conjunto mínimo de indicadores capazes de identificar e explicar a desertificação soma-se à recorrente falta de dados confiáveis e uma marginalização das terras secas em relação aos mercados e, finalmente, à inexistência de uma “economia de terras secas”, capaz de mostrar as vantagens comparativas e/ou competitivas em relação a outros ambientes de produção, o que poderia gerar maior interesse na compreensão dos problemas.

Um comentário:

Naina disse...

gostei muito do que você escreveu.
É verdade que em alguns lugares no Rio Grande do Sul por causa da criaçao do gado (campo) há area que estao em estado de desertficação?
obrigada beijos
janaina marques

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