quarta-feira, 9 de junho de 2010

Queimadas na Amazônia anulam ganho

Queimadas na Amazônia anulam ganho com queda de desmatamento. As emissões de gases-estufa economizadas pela redução do desflorestamento podem ser invalidadas pelas provenientes dos incêndios, revela estudo publicado na revista Science. Segundo a pesquisa, agropecuária fez queimadas na região crescerem 59% de 1998 a 2007. A agropecuária provocou o aumento das queimadas na Amazônia em áreas onde houve redução do desmatamento. É o que mostra um estudo de pesquisadores brasileiros publicado hoje na revista Science. O fogo é usado para limpar as áreas e, muitas vezes, passa despercebido porque as copas das árvores podem esconder, dos satélites usados para monitorar o desmate, o estrago que acontece embaixo delas. Segundo a pesquisa, que analisou o período 1998-2007, a ocorrência de fogo aumentou 59% na região que teve redução das taxas de desflorestamento. Isso significa que as emissões de gases de efeito estufa economizadas pela diminuição do desmate podem ser anuladas com as emissões provenientes de queimadas. “A principal mensagem é que as queimadas possuem uma tendência de aumento mesmo com a redução do desmatamento. Portanto, o resultado revela que a quantidade de carbono resguardada pelo Redd (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) pode sofrer perdas devido à ocorrência de fogo”, diz Luiz Aragão, da Universidade de Exeter, no Reino Unido. Ele é um dos autores do trabalho, junto com Yosio Shimabukuro, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Segundo Aragão, isso leva à conclusão de que “uma política de controle de queimadas deve ser implementada em paralelo com o Redd, para que efetivamente se mantenham os estoques de carbono florestal protegidos”. O pesquisador afirma ainda que os dados são conservadores, pois há incêndios que não puderam ser contabilizados. Os dados apresentados podem complicar as negociações do Redd. O instrumento, idealizado para que países industrializados financiem a preservação de áreas verdes em nações em desenvolvimento, é o tópico mais adiantado na busca por um acordo climático mundial entre os países. Evitar o desmatamento é visto como uma forma relativamente barata de reduzir as emissões de gases-estufa e, dessa maneira, combater o aquecimento global. Recentemente, em um encontro em Oslo, países ricos prometeram US$ 4 bilhões para a conservação de florestas. O Brasil já tem uma iniciativa que poderia ser enquadrada como Redd, o Fundo Amazônia, em que países doam recursos para preservar a mata. A ação é voluntária – não faz parte do mercado de carbono e não dá direito aos contribuintes de emitir gases-estufa em seu país. A Noruega, por exemplo, comprometeu-se a doar US$ 1 bilhão até 2015 ao Brasil. Mas há países que defendem que Redd seja colocado no mercado de carbono – medida com a qual o Brasil não concorda. Segundo Aragão, as queimadas naturais são eventos raros na Amazônia. Portanto, para evitar o fogo existe a necessidade de alterar a maneira com que se usa a terra na região. Colocar em prática ações ambientalmente adequadas geraria custos com treinamento, suporte técnico e maquinário. E, consequentemente, aumentaria o custo de implementação do mecanismo de Redd. “Mas é um custo necessário se quisermos proteger nosso ecossistema”, defende o pesquisador. Florestas são peças-chave para o clima O termo REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) surgiu em 2007, na COP-13, em Bali, na Indonésia. Foi quando se reconheceu o papel das florestas como fundamental para os esforços no combate aos efeitos das mudanças climáticas. Atualmente, o termo usado nas negociações de clima é Redd+ (ou Redd plus) e remete a um conjunto de medidas que possa ser adotado por países em desenvolvimento, o que inclui reduzir o desmatamento e fortalecer a conservação florestal. Há quem defenda que Redd seja integrado ao mercado de venda de créditos de carbono, o que o Brasil discorda. Mas as regras para esse mecanismo não foram criadas ainda. (OESP)

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