sexta-feira, 11 de junho de 2010

Revolução Azul

A revolução verde, liderada por Norman Borlaug, teve seus méritos, possibilitando alimentar bilhões de pessoas, mas foi incapaz de garantir a segurança alimentar para uma população mundial em constante crescimento. Além disto, a redução da biodiversidade, as monoculturas, a pecuária extensiva e o uso em grande escala de fertilizantes, agrotóxicos e insumos de alto custo colocaram em xeque o impacto social e a sustentabilidade da revolução verde, além do alto uso e desperdício da água doce. A crise alimentar e a fome atingem, atualmente, cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo. O equilíbrio ambiental já está difícil de ser mantido, em 2010, com os atuais 6,8 bilhões de habitantes e uma renda per capita média de US$ 9 mil per capita. Na metade do século XXI, o Planeta deverá atingir 9 bilhões de pessoas, com um PIB médio per capita de pelo menos US$ 27 mil. Como existe uma distribuição desigual da renda, o consumo conspícuo deverá crescer nos segmentos mais privilegiados da população, enquanto a fome deverá aumentar naqueles países que não conseguem acompanhar o ritmo de crescimento da economia e evitar a degradação ambiental. Se o equilíbrio ambiental já está difícil de ser mantido atualmente, ficará pior com o impacto das atividades antropogênicas que poderá ser 4 vezes maior, até 2050. Os conflitos do uso dos recursos escassos e dos solos agricultáveis vão aumentar. Assim, cresce a importância da água e dos bioprodutos que crescem na água. O Planeta Terra tem 70% da sua superfície coberta pela água. Mas a água doce representa apenas 2,5% do total. A escassez de água potável é uma realidade para muitos países e para diversos segmentos populacionais, como no sertão nordestino do Brasil. Porém, com manejo adequado, políticas públicas e novas tecnologias pode-se criar uma nova fonte de alimentos, com a AQUACULTURA, atendendo o crescente consumo humano de peixes e outras espécies aquáticas e reduzir a pressão sobre os ecossistemas aquáticos e oceânicos. A água é a fonte da vida e deve ser considerada como um “bem público”. Esta é a base da REVOLUÇÃO AZUL, que envolve a preservação das águas dos rios e oceanos, a captação de água de chuva, a recuperação de mananciais degradados, dos aquíferos e a capacidade de gerar alimentos, sem perder a riqueza da biodiversidade. Segundo Ricardo Guimarães, os estoques pesqueiros mundiais encontram-se super-explorados, já que cerca de 25% estão exauridos, 50% estão sendo explorados no limite de suas capacidades e somente 25% são sub-explorados. Nos últimos anos, essa indústria vem buscando seu pescado em águas cada vez mais distantes e mais profundas, valendo-se de uma tecnologia que as vezes deixa poucas chances para os ecossistemas marinhos se renovarem. Como exemplo, os navios-fábrica passam meses ao redor do globo pescando e processando o pescado a bordo e só voltam para casa depois que seus frigoríficos estão repletos. Porém, algumas populações de peixes tradicionalmente capturados em águas frias, como os bacalhaus, atuns e salmões, foram reduzidos drasticamente nos últimos 50 anos. Em contrapartida, segundo Jeffrey Sachs, a produção da aquacultura cresceu de cerca de 2 milhões de toneladas métricas em 1950 para quase 50 milhões hoje. A Aquacultura está mais avançada na China, que atualmente é responsável por dois terços, em peso, da produção mundial em pescado para consumo humano. A criação chinesa de peixes é uma atividade milenar e o país consegue combinar a criação de carpas com os campos de arroz, o que é mais eficiente do que o investimento na pecuária. Uma vaca requer cerca de sete quilos de ração em grãos para cada quilo de carne, enquanto uma carpa precisa de cerca de três quilos ou menos. A criação de peixes economiza grãos de ração, e a terra necessária para seu cultivo. Recentemente os cientistas chineses aumentaram a eficiência da aquacultura e revolucionaram a gama de espécies que podem ser cultivadas. Das mais de 400 espécies marinhas cultivadas, 106 foram domesticadas na última década. O Brasil está mais bem posicionado do que a China para o desenvolvimento da aquacultura, pois tem 12% da água doce do planeta, mais de 8.400 km da costa marítima, uma Zona Econômica Exclusiva de 4 milhões de km² e 10 milhões de hectares de lâmina de água em reservatórios. Porém, possui apenas 1% do comércio mundial do pescado que movimenta 92 bilhões de dólares ao ano. Segundo Ignacy Sachs, no plano internacional, multiplicam-se as tentativas para o aproveitamento energético de algumas entre as numerosas espécies de algas existentes no mundo, desde organismos unicelulares até sargaços que se estendem por dezenas de metros. O interesse pelas algas vem do fato de que elas não precisam de bons solos agricultáveis nem de água limpa, podem ser produzidas em águas poluídas e até servir para sua despoluição. Um projeto piloto na cidade de Saint Paul nos Estados Unidos vai criar algas numa unidade de despoluição da água. Ademais, as algas ostentam taxas de crescimento muito altas, algumas espécies duplicam o seu peso de uma a quatro vezes em cada 24 horas. Algas podem produzir 100 vezes mais óleo vegetal por hectare e ano do que a soja e 10 vezes mais do que o dendê. Existem projetos, da bioenergia de algas, visam transformar o Great Salt Lake, nos Estados Unidos, num imenso reservatório de algas que dariam para extrair 250 bilhões de dólares de biocombustíveis. Um pesquisador da Utah State University considera que 2,2 milhões de hectares de algas seriam suficientes para produzir todo o óleo diesel consumido nos Estados Unidos. A agricultura consome cerca de 70% da água doce do planeta. O Brasil como grande produtor agrícola, atende ao mercado interno e exporta alimentos, que na verdade são exportação de “água virtual”. Mas o país poderia ganhar muito mais preservando os seus mananciais e sua ampla disponibilidade de água doce e salgada para impulsionar a Revolução Azul. Preservar as águas é garantir a base de uma biocivilização. O planeta Terra é azul por conta da água que se espalha, principalmente, pelos oceanos e pela atmosfera na forma de vapor d’água. A água, rica em oxigênio, é a base da vida. As plantas respiram gás carbônico e transpiram oxigênio. Os seres humanos fazem o contrário, queimando matéria orgânica, como madeira, petróleo, carvão (composta de carbono, oxigênio e hidrogênio) e liberando carbono (monóxido, dióxido, etc.). A emissão de carbono pelas atividades industriais e econômicas é um dos responsáveis pelo aquecimento global e pela acidez dos lagos, rios e oceanos. Portanto, a Revolução Azul, pretende preservar as águas e a vida na água, reduzindo a acidez, e ampliando a biodiversidade aquática. Mais do que descarbonizar, é necessário oxigenar o planeta Terra. (EcoDebate)

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