sexta-feira, 23 de julho de 2010

Políticas para o Planeta

''Queremos criar as Políticas do Planeta'' Brice Lalonde, de 64 anos, ex-ministro do Meio Ambiente da França e embaixador para as negociações sobre mudanças climáticas de seu país, acaba de iniciar no âmbito das Nações Unidas os preparativos para a Rio+20, que comemorará os 20 anos da Eco-92. Segundo ele, a ideia é criar na conferência de 2012 as "Políticas do Planeta". "O movimento por desenvolvimento sustentável foi ritmado por grandes conferências, como a de 1972 em Estocolmo e a Cúpula da Terra no Rio. A próxima reunião no Brasil será também importante", diz. O que imagina que possamos alcançar em 2012, na Rio+20? Em cada país deveremos ter um comitê que reunirá sociedade civil, governo, empresas, ONGs e cientistas para preparar a conferência. Estamos tentando inventar algo que poderíamos descrever como "Políticas do Planeta". Tentamos pensar como se o mundo fosse um grande país. Assim, vemos desigualdades, problemas de recursos e outras questões. Então, um dos principais tópicos é como podemos nos organizar para enfrentar esses problemas. Queremos tentar ir além das longas negociações internacionais. Poderemos inventar algum dia um novo modelo de produção e consumo sem que seja o de sempre ter mais bens materiais? É uma grande e complicada discussão. O consumismo é muito presente no modo de vida americano. Isso é uma crítica aos EUA? Mesmo dentro dos EUA há diferenças. As pessoas na Califórnia usam metade da energia se comparadas aos demais americanos. Há diversas questões a serem respondidas. Podemos viver num mundo sem jogar tanto lixo? Temos de tentar descobrir como produzir e consumir sem destruir a natureza. E qual será o tema da Rio+20? Desenvolvimento sustentável. Mais especificamente, o que foi feito nos últimos 20 anos em relação à Agenda 21, biodiversidade e clima. Um segundo tópico é a economia verde. E o terceiro item é sobre instituições. Temos as instituições necessárias para promover o desenvolvimento sustentável ou precisamos transformá-las, criar outras? Na Rio-92 foi criada uma comissão de desenvolvimento sustentável que se reúne a cada ano. Ela é eficiente e forte o suficiente? Precisamos avaliar. Países em desenvolvimento estão preocupados com a tentativa de acabar com o Protocolo de Kyoto nas negociações de clima. Qual é a sua avaliação? Nós, na França, concordamos com um segundo período de compromisso para Kyoto. Mas gostaríamos que todos fizessem algo, e não somente nós. Seria injusto apenas a Europa fazer alguma coisa. Preferíamos ter um único instrumento (que incluísse os EUA, que não ratificaram Kyoto). Mas, se o preço de ter um acordo em Cancún no fim do ano é ter uma segunda fase de Kyoto, OK. Mas o senhor acha que será possível ter um acordo legalmente vinculante em Cancun? É bem difícil até de entender o que significa legalmente vinculante. Porque Kyoto é, e mesmo assim alguns países não atingirão suas metas (o Canadá é o que está mais longe do objetivo). E o que vai acontecer? Acho que não vamos mandar a polícia para lá. Então, é um assunto complicado. Para mim, seria no mínimo ter cada país cumprindo a sua meta. Mas não sei se é possível ter um grande acordo completo e abrangente em Cancún. Ambientalistas no Brasil estão preocupados com a possível alteração do Código Florestal. Haverá as eleições presidenciais no País e creio que isso deve ser discutido durante a campanha. No ano passado estive no Brasil e vi um grande movimento do empresariado em direção ao desenvolvimento sustentável. Houve o boicote à carne do Pará, por exemplo, o que achei muito interessante.

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