domingo, 13 de fevereiro de 2011

Vila Brasilândia busca economia verde

Bairro na zona norte de São Paulo é o primeiro exemplo no mundo de unidade pobre a ser reconhecida pelo movimento Cidades em Transição.
Há um ano, o Brasil aderiu ao movimento Transition Towns ou Cidades em Transição – uma rede com mais de 300 cidades e bairros em 14 países com o objetivo de redesenhar o meio urbano com foco em sustentabilidade, a partir da multiplicação de ações locais.
O movimento prosperou, e uma das iniciativas brasileiras, na Vila Brasilândia, zona norte de São Paulo, tornou-se o primeiro exemplo no mundo de comunidade pobre a ser reconhecida como uma transition town.
A oficialização ocorrerá no sábado, em evento que terá apoio das Nações Unidas e será transmitido ao vivo para as demais cidades que fazem parte do movimento.
Criado na Inglaterra, o movimento Transition Towns tem como pilares organizar a transição das cidades para a economia de baixo carbono e transformá-las em modelos menos dependentes do petróleo, mais integrados à natureza e mais resistentes a crises.
Na prática, as comunidades trabalham para fortalecer a economia local – o que inclui até a criação de moedas próprias para estimular o comércio local e a realização de feiras de trocas e de orgânicos – e para incentivar construções com baixo impacto ambiental, como ecovilas.
No Brasil, capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre já abrigam iniciativas ligadas ao movimento, além dos municípios de Serra (ES) e Petrópolis (RJ) e o distrito da Granja Viana, na região metropolitana de São Paulo.
“A ideia é resgatar o sentido de comunidade e engajamento local e fazer com que ideias brotem dos próprios moradores”, explica May East, diretora do Gaia Education, programa ligado às Nações Unidas que tem como objetivo treinar lideranças para disseminar o movimento. “Para as grandes cidades, uma alternativa é fazer a transição pelos bairros”, diz.
É o que está acontecendo na Vila Brasilândia. O bairro, formado por mais de cem favelas que se aglomeraram ao longo dos anos, foi o pioneiro entre as comunidades de baixa renda a adotar iniciativas sintonizadas com as cidades em transição.
A articulação no bairro começou há seis meses e engloba desde iniciativas de preservação ambiental no Parque da Cantareira, que faz divisa com o bairro, passando por programas de geração de renda para mulheres acima de 35 anos e de segurança alimentar, que inclui o plantio de hortas urbanas em terrenos ociosos. Todos os meses são realizadas feiras de trocas, para incentivar a economia solidária, e estão em andamento parcerias com as Secretarias Municipais de Saúde e de Meio Ambiente.
Cooperativa
Uma dessas parcerias, com a Fundação Florestal e a Sabesp, prevê a capacitação de 30 moradores que vivem no limite do parque em recomposição florestal. A ideia é formar uma cooperativa para restaurar 7,7 hectares e, ao mesmo tempo, criar empregos “verdes” na Brasilândia, explica Monica Picavea, superintendente da Fundação Stickel, organização social que levou o movimento para o bairro.
“É desafiador preparar para a sustentabilidade uma região de grande vulnerabilidade social, sem equipamentos culturais e com uma população de 140 mil habitantes”, diz.
Segundo Monica, até então, o movimento Cidades em Transição tinha o foco em bairros de classe média e alta, cujas necessidades básicas da população já são atendidas. “O Brasil está inovando em aplicar os preceitos do movimento a comunidades pobres em tão pouco tempo.”
Na avaliação do arquiteto Frank Siciliano, um dos difusores do movimento no Brasil, o objetivo do Cidades em Transição é organizar a sociedade na busca por uma alternativa ao desenvolvimento predatório.
“As mudanças climáticas trazem a urgência de um novo modelo, e essa transição pode ser feita de modo menos doloroso, resgatando o sentido de comunidade que foi perdido com a sociedade industrial”, diz Siciliano. (OESP)

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