(Estou há 3 dias em Sanur, na ilha de Bali, Indonésia, e aproveitando a insônia causada pelo jetlag de 11 horas, vou escrever um post que fiquei devendo dos Estados Unidos, onde tive o privilégio de fazer uma trilha maravilhosa de 3 dias pelo Parque Nacional das Sequoias … Fotos: Herton Escobar)
Muitas coisas mudaram nos últimos 2 mil anos, desde que Cristo caminhou sobre a Terra e o calendário romano foi inventado. Mas algumas, não. Entre elas, a maior árvore do mundo, conhecida como General Sherman.
Há 2.200 anos o general ocupa um lugar privilegiado numa montanha ao leste da Califórnia, onde ele e outras sequoias gigantes da espécie Sequoiadendrum giganteum encontram o ambiente ideal para crescer, a 2 mil metros de altitude, nas encostas da Sierra Nevada. O topo de seu tronco está a 84 metros do solo – equivalente à altura de um prédio de 30 andares, pelo menos. Impressionante. Mas nem é isso que lhe dá o título de “maior árvore do mundo”. Há árvores até mais altas do que ele. E mais largas. E mais velhas (algumas sequoias têm mais de 3 mil anos de idade). Mas nenhuma tem mais biomassa do que o general: 1.486 m3 de madeira, suficiente para construir sei lá quantas mesas e quantas portas. Peso total: 1.386 toneladas, mais do que muitas e muitas baleias empilhadas. Um gigante de fato, com todos os méritos, para ser humano nenhum botar defeito.
Tão grande que não consegui fazer uma foto dele de corpo inteiro. Simplesmente não cabe na lente dessas máquinas automáticas de bolso. Só a base da árvore tem 31 metros de circunferência, o que significa, mais ou menos, que você precisa dar uns 30 passos para caminhar em volta dela. (Tente dar 30 passos dentro do seu apartamento para ter uma ideia.) Vários de seus galhos são, sozinhos, do tamanho de árvores inteiras que a gente encontra normalmente por aí. O maior deles, que está a quase 40 metros de altura, tem 7 metros de diâmetro. Imagine só! Uma árvore de 7 metros de diâmetro já seria um gigante por conta própria em qualquer lugar do mundo, mesmo na Amazônia. E esse é apenas um braço do general.
Curiosamente, porém, o general não se destaca tanto assim na paisagem da Sierra Nevada. Quando cheguei debaixo dele, confesso que fiquei até um pouco desapontado. “Só isso?”. O problema é que todas as outras árvores em volta dele são também gigantes, o que cria a ilusão de ser “só mais uma árvore na paisagem”. Mas imagine essa árvore no meio do Parque do Ibirapuera, aí seriam todas as outras que pareceriam anãs. (como eu sempre digo, é tudo muito relativo, como os prédios de 40 andares que pareciam sobrados ao lado do World Trade Center, nos velhos tempos pré-9/11 do skyline de Manhattan) Até a árvore artificial de Natal ia ficar pequena do lado dele.
O general já parou de crescer em altura há algum tempo, em decorrência das cicatrizes deixadas por inúmeros incêndios florestais que queimaram seu tronco e comprometeram a capacidade do seu sistema vascular de transportar nutrientes do solo até o topo da árvore, lá pelo trigésimo andar. Mas continua crescendo em biomassa (engordando em madeira, por assim dizer).
Todas as sequoias mais antigas do parque têm uma grande cicatriz de fogo na base de seu tronco, como a que você pode ver na foto abaixo. Curiosamente, são cicatrizes bem vindas, pois sem esses incêndios naturais as sequoias não conseguem se reproduzir. Sem o fogo, suas sementes não germinam. Uma lição que os administradores do Parque Nacional aprenderam a duras penas. No início, achando que o fogo ameaçava a sobrevivência das árvores, o parque passou a combater os incêndios florestais (normalmente causados por raios ou algo assim). Com o tempo, porém, percebeu que as sequoias haviam parado de se reproduzir. Pesquisaram, pesquisaram, e descobriram que sem o fogo para queimar periodicamente a matéria orgânica que se acumula sobre o solo da floresta, as sementes das sequoias não conseguem brotar. Ou porque não conseguem nem chegar ao solo, ou porque acabam sufocadas debaixo do tapete de folhas e galhos secos que se forma com o tempo sobre ele.
Agora, os cuidadores do parque não só não impedem que os incêndios aconteçam como promovem incêndios controlados periodicamente, para compensar o atraso evolutivo causado pelas políticas anteriores, que careciam de conhecimento científico e, por isso, tiveram o efeito oposto do desejado. Em vez de proteger as árvores, estavam colocando a espécie ainda mais em risco. Agora, pouco a pouco, a floresta está voltando a crescer. Renascendo das cinzas, por assim dizer.
Essa é para o homem parar de querer saber mais do que a natureza. Se aquelas árvores têm aquelas cicatrizes, e continuam vivas há mais de 2 mil anos, então obviamente é porque estão adaptadas ao fogo! Ou já teriam sido extintas faz tempo.
Dois milênios, imaginem só!
Considere tudo que aconteceu no mundo nos últimos 2.200 anos e imagine o general sempre lá, esse tempo todo, fazendo calmamente sua fotossíntese, sem se preocupar com guerras ou tecnologias, importando-se apenas com o sol, o fogo, a chuva e a neve que caem sobre ele, totalmente indiferentes aos muitos homens que certamente caminharam sobre sua gigantesca copa e que, felizmente, nunca o derrubaram. Tomara que continue assim por mais alguns milhares de anos.
Abraços a todos.
Uma das sequoias do Bosque de Redwoods, onde acampei na segunda noite da trilha (e que, apesar do nome, não tem nenhuma redwood, apenas sequoias, a redwood é uma outra especie, parecida, porém diferente, que só cresce do outro lado das montanhas, vai entender). (OESP)
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