quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Lugar de comida é no prato

Lugar de comida é no prato, não no lixo
Mais de 80% dos alimentos que enriquecem as lixeiras das cozinhas nacionais poderiam estar no prato dos brasileiros.
O exercício do reaproveitamento está se tornando cada vez mais um debate caloroso nas maiores nações do mundo. Pneus, papel e plástico, por exemplo, podem ser reaproveitados, e os benefícios disso são comprovados.
No caso de comida, a expressão e a prática sustentável de que fendida é outra: o chamado aproveitamento integral, um hábito saudável que consiste no uso de partes não convencionais dos alimentos. E não é que a ideia de usar totalmente os alimentos seja exatamente nova. Registros históricos mostram que, desde os primórdios, verduras, frutas e legumes eram consumidos por completo. Ou alguém consegue visualizar um homem das cavernas descascando uma maçã para comê-la? Descascar partes dos alimentos é um mau hábito o home adquirir com o tempo e com muita prática.
De acordo com a nutricionista Aline Rissato, da organização não governamental Banco de Alimentos – que combate o desperdício da comida -, são diversos os fatores que levaram à mudança no comportamento humano, como o aprimoramento de ferramentas e técnicas de culinária. “Além de razões mais modernas, como a globalização, que determinou a necessidade de alimentos oferecidos de forma mais prática”, destaca. Segundo Rissato, a retomada pela valorização de todos os alimentos foi uma consequência das grandes guerras. A comida, nessas ocasiões, era escassa, e tudo precisava ser reaproveitado para alimentar as populações famintas em países dizimados pelos combates. “No Brasil, fora do eixo dos grandes conflitos, esta valorização não aconteceu. Temos um país rico, que produz 26% acima da necessidade de cada brasileiro para se alimentar, e não damos valor às cascas, quando temos à nossa disposição uma riqueza de variedade de alimentos”, explica. Tanta fartura promove o desperdício.
Uma realidade brasileira
De acordo com o dicionário da língua portuguesa, desperdiçar é gastar sem proveito, malbaratar, esbanjar – o que costuma acontecer nas cozinhas brasileiras. Segundo Rissato, o problema no Brasil é ancestral, e independe das classes sociais ou econômicas.
Aqui, o descarte de partes dos alimentos ocorre por elas serem consideradas “lixo” ou, ainda, em função da concentração de produtos químicos. A nutricionista defende que o importante não é evitar o consumo de partes não convencionais, mas saber como utilizar todo o alimento, reduzindo riscos à saúde. “É preciso entender que a casca, apesar de conferir proteção à polpa, é porosa, de modo que parte dos agrotóxicos também está presente no interior da fruta”, explica.
O desperdício brasileiro de comida parece longe do fim. Uma enquete realizada pelo Instituto Akatu, que promove o consumo consciente, dá uma pequena mostra da realidade. Das 1.200 pessoas que responderam à pergunta “O que você faz com os restos de comida (cascas, sementes, entre outros)?”, 65% afirmaram que jogam no lixo ou mandam para reciclagem, e 19% os transformam em adubo. Apenas 15% disseram aproveitar talos, cascas e folhas na mesma ou em outras receitas. Enquanto isso, 58,6 milhões de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
E as partes desperdiçadas dos alimentos poderiam ser a solução de muitos problemas de desnutrição. Segundo os dados do Akatu, já não restam dúvidas sobre os valores nutricionais que cascas, talos e folhas possuem. Algumas destas partes em geral desperdiçadas possuem o equivalente a até cinco vezes mais nutrientes e fibras do que a polpa que costumamos consumir. Estudo realizado pelo Serviço Social da Indústria (SESI) mostra, ainda, que a casca do abacaxi tem 102% de proteína, 151% de fibras e 119% de cálcio, porcentagem dos valores diários com base em uma dieta de 2.000 Kcal, só prá falar de alguns nutrientes. A casca da laranja tem 386% de carboidrato e 604% de fibra.
A melhor maneira de se consumir essas partes dos alimentos é acrescentá-las em algumas receitas. Por exemplo, a água de cozimento da batata concentra diversos tipos de vitaminas, que pode ser aproveitada em diversos cozimentos, como no preparo de purês. A casca do abacaxi pode ser batida no liquidificador na hora de fazer o suco, que, por sua vez, pode ser usado no preparo de bolos.
Feira inteligente
A nutricionista Aline Rissato defende que os consumidores optem pelos alimentos orgânicos, sem uso de compostos químicos para a redução de pragas. “Apesar de seus custos serem superior em relação aos alimentos com agrotóxicos, é importante ressaltar que saúde e qualidade de vida não têm preço”. No entanto, para aliviar o bolso, é possível pagar um atalho. Na hora de comprar frutas, verduras e legumes, privilegie os da época, Que têm melhor qualidade, são mais baratos e nutritivos, duram mais e possuem uma concentração muito menor de produtos tóxicos em relação aos alimentos comprados fora de sua estação.
Também é preciso estar atento à higiene. Os alimentos devem ser lavados, separadamente, em água corrente, e higienizados em solução de hipoclorito de sódio, mais conhecido como água sanitária ou cloro. O farmacêutico Gustavo Boaventura explica que, em contato com o hipoclorito, as bactérias têm as proteínas das suas paredes celulares destruídas e, consequentemente morrem. A preparação da solução é feita diluindo-se uma colher de sopa de água sanitária em um litro de água. “Não adianta colocar mais água sanitária, pois o efeito será o mesmo”, explica. O alimento deve ficar totalmente mergulhado na solução por 15 minutos. Ao final, é preciso secá-lo bem e esperar 10 minutos até consumi-lo. “Não há por que se preocupar, pois o cloro evapora completamente e não deixa qualquer resíduo que possa ser prejudicial à saúde”, ensina o farmacêutico.
O meio ambiente agradece
O aproveitamento integral dos alimentos tem entre uma das suas melhores consequências a redução do acúmulo de lixo orgânico, já que 60% do lixo nacional é composto por comida. Esse tipo de detrito gera um líquido escuro e malcheiroso que polui águas e torna terras inférteis para a plantação. Além disso, estes restos liberam gás metano, que pode colaborar com o aumento do efeito estufa e, consequentemente, com alterações climáticas.
Cozinha inteligente
Você aproveita os alimentos em sua totalidade nas suas receitas?
A Bem – Estar foi até o Sesi – Serviço Social da Indústria – de São Paulo, onde o Programa Alimente-se Bem acontece.
Preços elevados e baixos estoques de alimentos põem em risco as regiões mais pobres do mundo
Mundo ainda está em ‘zona de perigo’ por alta dos alimentos, diz Banco Mundial
Os altos preços dos alimentos e os baixos níveis de estoques fazem com que o mundo continue em uma “zona de perigo”, disse nesta segunda-feira o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick.
Segundo o relatório trimestral Food Price Watch, divulgado pelo Banco Mundial nesta segunda-feira, em julho (último dado disponível) os preços mundiais dos alimentos estavam 33% mais altos do que um ano antes e próximos do recorde registrado em 2008.
O documento cita ainda os níveis “alarmantes” dos estoques mundiais de alimentos. “Com esses baixos níveis de estoques, mesmo pequenas quedas na produção podem ter efeitos amplificados sobre os preços”, diz o texto.
Depois de um pico em fevereiro, alguns produtos chegaram a registrar baixa de preços, mas a volatilidade é motivo de preocupação.
De acordo com o Banco Mundial, a “esperada volatilidade” nos preços de produtos como açúcar, arroz e petróleo pode ter “efeitos inesperados” nos preços dos alimentos nos próximos meses.
“A vigilância é vital, devido às incertezas e a volatilidade existentes”, disse Zoellick.
Preços
A volatilidade pode ser observada na evolução de produtos como o milho, cujo preço caiu em junho e voltou a subir em julho, registrando aumento global de mais de 80% no período de um ano.
O comportamento também varia de acordo com a região. Enquanto os preços do milho aumentaram mais de 100% em um ano em Uganda, no Haiti no mesmo período houve queda de 19%.
“Com esses baixos níveis de estoques, mesmo pequenas quedas na produção podem ter efeitos amplificados sobre os preços” – Banco Mundial
Entre os diversos fatores que contribuem para a alta dos alimentos está o aumento dos custos de produção, causado em parte pelos altos preços do petróleo, atualmente 45% maiores do que os registrados um ano atrás.
A alta tem impacto sobre a cadeia produtiva. De julho de 2010 a julho de 2011 o preço dos fertilizantes subiu 67%.
Segundo o Banco Mundial, as incertezas sobre a economia global e a instabilidade política em diversos países do Oriente Médio e do norte da África devem manter os preços do petróleo voláteis no curto prazo.
África
O resultado dessa combinação de altos preços dos alimentos, baixos estoques e grande volatilidade é uma situação de risco para as populações mais pobres do mundo em desenvolvimento, onde o exemplo mais recente é o da crise que já afeta mais de 12 milhões de pessoas no Chifre da África.
De acordo com o relatório, apesar de a situação de emergência na região ter sido provocada por um período prolongado de seca e conflitos internos, como no caso da Somália, os altos preços dos alimentos contribuíram para agravar a crise.
“O desastre afetou os mais vulneráveis”, diz o Banco Mundial. “Na Somália, os preços dos cereais produzidos localmente continuam a crescer em todas as regiões desde 2010 e já ultrapassam o pico de 2008.”
Para Zoellick, “em nenhum outro lugar do mundo” a combinação de altos preços dos alimentos, pobreza e instabilidade produz efeito mais trágico do que no Chifre da África.
Segundo o relatório, como a vulnerabilidade aos altos preços dos alimentos varia em cada país e também entre diferentes grupos populacionais dentro de um mesmo país, a resposta ao problema deve envolver uma combinação entre intervenções de emergência para ajudar aos mais vulneráveis e iniciativas de longo prazo. (EcoDebate)

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