domingo, 27 de novembro de 2011

Minas corre contra o tempo

Minas corre contra o tempo e planta eucalipto cardíaco
Até 2018 o maior Estado consumidor de madeira do País só poderá retirar 5% da matéria-prima de florestas nativas
Em até seis anos, Minas Gerais, o maior Estado produtor e consumidor de madeira do País, com cerca de 18 milhões m3/ano, terá que cumprir uma lei estadual que obriga ao uso de praticamente 100% de madeira de árvores plantadas. Madeira de floresta nativa deverá compor só 5% da demanda até 2018, reza a Lei 14.309, de 2002. E, desde 2010, todo usuário de madeira - das siderúrgicas ao dono do disque-pizza - deve comprovar a origem da matéria-prima. Grande desafio para um Estado que tem 50% de sua matriz energética calcada em lenha e derivados, ante 25% do País, e que importava 30% de seu consumo, diz a Associação Mineira de Silvicultura (AMS).
Atualmente, a relação entre demanda e oferta de madeira em Minas está relativamente equilibrada por causa da crise econômica mundial. Entretanto, há preocupação quanto à capacidade de o Estado se abastecer quando a crise passar. "Se a economia lá fora estivesse nos eixos, já teríamos, hoje, um déficit de 50% de florestas plantadas", diz o diretor-superintendente da AMS, Antônio Tarcizo de Andrade e Silva. "Hoje Minas tem 1,4 milhão de hectares de eucalipto e 136 mil hectares de pinus", diz. "Seria preciso até 2018 plantar 200 mil hectares/ano, mas cultivamos 120 mil a 130 mil hectares/ano."
A demanda à qual o representante da AMS se refere diz respeito sobretudo à necessidade de carvão para o polo siderúrgico. Dos 130 mil hectares de florestas plantadas em 2010, 43.960 hectares, ou 34%, viraram carvão vegetal para fabricação de ferro gusa, cuja composição é 50% de carvão e 50% de minério de ferro. Para gerar energia, o Estado utiliza em média 70% de suas florestas plantadas. Sem contar o uso para outros fins, como papel e celulose.
Poupança verde. Numa situação dessas, o termo "poupança verde" se encaixa perfeitamente à iniciativa de agricultores que decidiram investir no eucalipto. Com previsão de demanda aquecida e crescente, eles apostam nesta árvore, mesmo que a primeira colheita ocorra em seis ou sete anos. "É uma poupança em pé", confirma o produtor rural Leonardo Resende, de Coronel Pacheco (MG), que planta eucalipto há sete anos, tanto para geração de energia quanto para serraria. "Queria algo que desse maior rentabilidade por hectare, e o eucalipto dá retorno de 20% a 30% ao ano, ante 6% da pecuária", diz. "É um negócio estável, que não depende de variações anuais de preço e com perspectiva de alta por várias décadas, já que toda a legislação ambiental joga para isso."
Em Uberaba, no Triângulo Mineiro, o eucalipto avança até sobre áreas de cana, que já havia avançado há dez anos sobre pastos. A fusão, em 2009, entre a Satipel e a Duratex, ambas fabricantes de placas e paineis de madeira, tem provocado alterações na paisagem. Atualmente, diz o gerente executivo da Unidade Minas da Duratex, Heuzer Saraiva Guimarães, a empresa cultiva 45 mil hectares de eucalipto no Triângulo. A política da empresa, porém, é focada no arrendamento de terra em vez do regime de parceria, em que a empresa entra com mudas, assistência técnica e colheita e o produtor, com a terra. "É importante ressaltar que a Duratex utiliza, nos arrendamentos, o mesmo sistema de gestão socioambiental das áreas próprias", diz.
O fato é que, no meio do pasto, entremeando áreas de cana e lavouras de grãos, já despontam na paisagem do Triângulo, cada vez mais, os eucaliptos. Mas desta vez o velho conceito de instalar a cultura em terra ruim e declivosa tem sido revisto. "Eucalipto é uma lavoura; tem de adubar, controlar pragas e monitorar focos de incêndio", diz o produtor Luís Felipe Leite Sabino de Oliveira, que plantou 35 hectares de eucaliptos clonados, "muito mais produtivos e fáceis de manejar do que os provenientes de sementes", diz. "O eucalipto comum produz 35 metros cúbicos por hectare/ano. O clonado resulta em 90 m3/hectare."
Oliveira optou pelo plantio próprio, sem contrato. "Assim vendo para quem pagar melhor." No primeiro plantio, feito em junho, as plantas já alcançam a marca de quase 2 metros de altura. A expectativa de lucro é excelente, garante. No plantio adensado, em que se instalam 2.400 plantas por hectare, após dois anos desbasta-se metade das plantas. Cada planta deve render 7 metros cúbicos, que, multiplicados por 1.200 plantas desbastadas por hectare, resultam em 8.400 m3 .
"Vendendo o metro cúbico por R$ 1, cada hectare renderá R$ 8.400 logo no segundo ano. E este valor já paga o custo inicial de produção, além do custo de colocar a madeira no mercado, num total de R$ 1.500 por hectare, resultando em lucro de R$ 6.900", diz. "Se eu descontar daí o crédito rural - R$ 107 mil para os 35 hectares, com 5 anos de carência e pagamento em 2 parcelas, no sexto e no sétimo anos, com juros de 6,75% ao ano -, ainda me sobram cerca de R$ 2.500 de lucro por hectare no segundo ano", festeja. "E cinco anos depois corto o restante, com toras que devem render R$ 25 mil por hectare."
Dois cortes. Oliveira diz que é possível fazer dois cortes na mesma planta. "Após o primeiro corte, a planta rebrota e sete anos depois corto de novo", diz ele, acrescentando que o trabalho inicial, com o plantio, adubação e controle de formigas é o principal. "Com os clones nem o desbaste de galhos é necessário; eles caem sozinhos. E os tocos que sobram na área são eliminados com produtos que desintegram a madeira, reincorporada ao solo ao longo dos anos."
Outro produtor que apostou no eucalipto em Uberaba foi Rodrigo Piau. Em 50 hectares - "Uma área pequena para cana ou grãos", diz - instalou o eucaliptal. Com mudas clonadas, cultivadas há cinco anos, fez duas formas de plantio: adensado, com 1.100 árvores por hectare, e não adensado, com 350 árvores/hectare.
"Ano que vem já faço o primeiro corte", diz. "O eucalipto é uma opção, mas em áreas mecanizáveis, onde se pode plantar cana ou grãos, não vale a pena por eucalipto." Para ele, qualquer que seja a atividade o produtor deve se profissionalizar e elevar a produtividade. "Já não há só pasto por aqui. O cenário diversificou-se com grãos, cana, seringueira e eucalipto, entre outras lavouras."
Diversificação, aliás, é a palavra de ordem na propriedade arrendada pelo zootecnista Augusto Landim de Macedo Júnior. Em 350 hectares - sendo 70 hectares de mata nativa -, Landim mantém 250 cabeças de gado leiteiro puro e meio-sangue, das raças guzerá, gir, guzolando e girolando. Além do leite, vende animais, planta capim para feno e, no meio dele, eucalipto. "Planto eucalipto há 12 anos, na média de 4 a 5 hectares/ano", diz Macedo Jr., cujo último plantio fez no mês passado, em 15 hectares. "Quando preciso de dinheiro, vou lá e corto. Há dois anos, cortei 1 hectare e lucrei R$ 15 mil", explica. "O principal combustível da região é a lenha, por isso optei pelo eucalipto." Mesmo assim, ele deixa algumas árvores engrossarem para vender como vigotas para construção civil. "O retorno demora, mas é líquido e certo." (OESP)

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