domingo, 29 de janeiro de 2012

Rio+20: a rupture necessária

O Brasil se prepara para receber este ano (20 a 22 de junho), a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, denominada de Rio+20, que traz como tema a “Economia Verde”. O conceito “Economia Verde”, muito utilizado ultimamente, tem servido mais para justificar o modelo atual de desenvolvimento do que para alcançar e construir um modelo alternativo. Economia verde pode ser tudo e, ao mesmo tempo, qualquer coisa ou quase nada.
Diante desse tema, algumas questões nos fazem pensar: Quais são as possíveis alternativas para o modelo de desenvolvimento atual que se pauta exclusivamente na produção e no consumo tendo o setor privado como ator principal? Como conciliar crescimento econômico com sustentabilidade ambiental? O que fazer quando a expansão agrícola, urbana e industrial, os principais balizadores do modelo atual, têm o Estado como o principal financiador (veja a isenção de impostos para carros novos e eletrodomésticos)? O que tem de sustentável este modelo de desenvolvimento que se pauta na exploração do trabalho (escravidão humana), no comércio transcontinental e na depredação ambiental? Não estaria o atual modelo em seu pior momento econômico (reincidentes crises), tentando se reestruturar e se revitalizar através de uma concepção verde?
As informações que se tem até o momento são que, infelizmente, o rascunho oficial da Rio+20 chamado “Zero draft” ou rascunho zero (documento oficial do Rio+20), não aprofunda as questões essenciais que venham a romper com o atual modelo. Sobre o uso do termo “Economia Verde” e sua pouca capacidade de ruptura é oportuna a resposta do teólogo Leonardo Boff: “’Economia verde’ é auto ilusão porque não muda a relação de exploração da Terra. O processo todo é pouco verde, está cheio de toxinas danosas”. Ao mesmo tempo que “[...] o stablishment mundial não quer mudar o rumo. Na Rio+20, ao invés de discutir a sustentabilidade da Terra e da vida, prefere-se o tema economia verde”. Por isso a necessidade do protagonismo da sociedade civil organizada (movimentos sociais), no fortalecimento das alternativas que emergem das práticas baseadas no olhar feminista, agroecológico, da economia solidária, caso contrário a vontade do “stablishment” continuará sendo a dominante.
O problema parece ser mais sério do que parece. Enquanto não mudarmos o padrão de consumo imposto pelo capital e seus tentáculos publicitários, dificilmente reverteremos o processo. O “êxito” de todos os governos está pautado apenas no crescimento econômico (PIB – soma de todas as riquezas produzidas) e não no desenvolvimento econômico, que considera a distribuição da riqueza de forma mais equânime, padrões mais amplos como qualidade de vida, sustentabilidade, bem-estar social, níveis adequados de educação e cultura, moradia, saúde, trabalho digno. Parece que a aposta dos governos Lula-Dilma não foge do convencional: apostar no mercado de consumo de massa como a alternativa final para o enfrentamento da crise econômica do capitalismo. É tentar sair do buraco puxando-se pelo próprio cabelo (Barão de Münchhausen), como se fosse possível. (EcoDebate)

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