Quem perdeu não foi o governo, foi o meio ambiente
O que tem de ser avaliado como resultado da votação do novo
Código Florestal não é se o governo perdeu, se a oposição venceu ou se a base
aliada rachou. A questão política é passageira, pontual, volúvel. O que tem de
ser avaliado é o resultado prático daquilo que foi votado e pode ser
sacramentado para sempre em lei. Se o meio ambiente ganhou ou perdeu. Se a
proteção às florestas, que é a razão de existir do Código Florestal, ganhou ou
perdeu. E nesse ponto não há dúvida. Os ruralistas venceram e o meio ambiente
perdeu.
Às vésperas da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, o Brasil só ganhou mesmo foi um motivo para se
explicar. Vamos dizer ao mundo que brigamos durante anos para reduzir o
desmatamento na Amazônia (e reduzimos!) para em seguida aprovarmos um novo
Código Florestal que relaxa as exigências de conservação e passa a mão na
cabeça daqueles que desmataram ilegalmente, perdoando multas e desobrigando
infratores de recuperar aquilo que destruíram? O argumento de que a
recomposição daquilo que foi desmatado ilegalmente traria prejuízos aos
agricultores é de uma lógica perversa, pois busca justificar um crime com base
nos benefícios obtidos daquele crime.
É preciso entender que ser a favor do meio ambiente não
significa ser contra a agricultura, apesar de as discussões serem
frequentemente polarizadas assim. O Brasil é um país de dimensões continentais,
dotado de vastos recursos naturais, onde conservação e produção podem conviver
pacificamente, em benefício mútuo. Essa é a lógica do desenvolvimento
sustentável. Basta planejamento, equilíbrio e vontade de fazer a coisa certa.
O problema é que o texto da Câmara não é equilibrado. Todas
as modificações atendem exclusivamente ao interesse econômico dos ruralistas,
ignorando preocupações básicas de cientistas e ambientalistas. O texto não cria
estímulo ao desenvolvimento sustentável, não agrega valor à conservação dos
recursos naturais. É uma lei de proteção às florestas escrita por aqueles que,
historicamente, são os mais interessados em violar essa proteção. (OESP)
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