Izabella Teixeira
defende regras para produção e consumo. E diz que padrão dos desenvolvidos não
pode ser copiado.
Alvo de sérias
críticas quanto a um resultado pouco ousado, a ministra do Meio Ambiente,
Izabella Teixeira, defendeu em 10/05/12 que seria “excepcional” se a Rio+20
terminasse com a aprovação de “obrigações” para todos os países, especialmente
nas áreas de produção e consumo sustentáveis. A ministra não especificou quais
seriam essas obrigações, mas deixou claro que o padrão de consumo dos países
desenvolvidos “não pode ser replicado para todo o planeta”.
Ao participar no Rio
do “Sustentável 2012: uma agenda para a Rio+20″, Izabella deixou claro que a
maior ousadia do Brasil, como país anfitrião da conferência, será garantir que
todos os participantes do encontro se sintam incluídos no debate. “Não adianta
promover o crescimento sem reduzir as desigualdades”, declarou.
Num discurso alinhado
com o do Itamaraty, que já se declarou contrário à transformação do Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) numa agência, como ocorre com
outros órgãos das Nações Unidas, como a Organização Mundial da Saúde (OMS),
Izabella fez questão de reafirmar a importância do fortalecimento do conceito
de desenvolvimento sustentável.
Quanto ao Pnuma virar
uma agência, o embaixador André Correa do Lago – um dos negociadores da Rio+20
na ONU e que também esteve ontem no Rio – deixou claro que, apesar do apoio
explícito de vários países africanos e mesmo os europeus, a proposta ainda não
é um consenso. “Defendemos o fortalecimento do Pnuma, para torná-lo mais
efetivo, transparente, mais forte, mas não podemos isolá-lo numa agência apenas
ambiental”, ponderou Correa do Lago, lembrando que, nos últimos 20 anos, o
Brasil vem defendendo nas conferências internacionais o fortalecimento do
conceito de desenvolvimento sustentável. “Não faz sentido isolar novamente o
meio ambiente”.
Só que, internamente,
o governo vem sendo criticado pelo fato de não existir uma liderança política
que defenda os princípios do desenvolvimento sustentável. A falta de subsídios
para promover a política energética sustentável é outra cobrança que ficou
evidente durante o “Sustentável 2012″.
“Uma das grandes
dificuldades que se encontra na questão de eficiência energética é que não tem
um dono. Quanto às matrizes, seja biomassa, carvão, energia nuclear, os grupos
estão organizados para defender cada um deles. No caso de eficiência
energética, ninguém é contra. Mas não tem um lobista, no bom sentido da
palavra, daquele que vá realmente lutar pela causa, porque ela não está
associada a nenhum setor que vá ter algum ganho. Então este é um papel do
governo”, disse Suzana Kahn, subsecretária de Economia Verde do Estado do Rio.
Apesar das críticas,
o presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado, Rodrigo Rollemberg
(PSB-DF), disse que o governo está empenhado redução progressiva do uso de
combustíveis fósseis no mundo. “A posição defendida pela delegação brasileira é
definir uma meta de redução na utilização de combustíveis fósseis. Isso dará ao
Brasil o diferencial de competitividade”, disse.
Ainda durante a
plenária, o senador informou que, nos próximos dias, apresentará às comissões
um projeto de lei para obrigar o repasse de uma parcela do valor da conta de
energia elétrica à preservação de áreas de proteção permanente. Rollemberg
explica que em 2014 está previsto o término do contrato de concessão de
empresas de energia elétrica no País, tanto de geração, como de transmissão e
de redistribuição, o que representaria cerca de 20% do setor. Entre elas, está
a estatal Furnas. Na composição da tarifa de energia, atualmente uma parte do
valor é proveniente de amortização de investimentos físicos realizados. E,
segundo o senador, ao final da concessão, eles já teriam sido amortizados, o
que permitiria uma redução da tarifa.
“O que estamos
definindo é que um pequeno percentual do que seria a redução seja encaminhado
ao fundo do pagamento de serviços ambientais, especialmente para áreas de
preservação permanente ripárias [mata ciliar de rios], o que vai garantir
quantidade e qualidade da água, que é a matéria prima para gerar energia
hidrelétrica”, defendeu.
Ainda segundo
Rollemberg, a Fiesp estimou em R$ 30 bilhões anuais o valor da redução da
tarifa, mas não há consenso. Cerca de 3% deste valor poderia ser destinado ao
fundo ambiental.
Esvaziamento – A
ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, minimizou o fato de o Parlamento
Europeu ter decidido cancelar a viagem de uma delegação oficial para a Rio+20,
por causa do preço dos hotéis no Rio de Janeiro, durante o período do encontro,
entre os dias 20 e 22 de junho. “Você tem que ver quem é que está cancelando,
mas tem outras pessoas da União Europeia que vão participar. Vejam a
confirmação, não tem esvaziamento”, disse ela.
O embaixador André
Correa do Lago disse que desistências são compreensíveis em função de
circunstâncias internas dos países que vivem os efeitos da crise econômica, mas
argumentou que elas não trazem dúvida em relação à relevância da conferência na
agenda internacional.
“Todos reconhecem que
ela é da maior importância, por isso já estamos com mais de 100 chefes de
Estado e de Governo confirmados. O que acontece é que os países têm suas
crises, eleições e [outras] circunstâncias, e é normal que avaliem por si
próprios a possibilidade de um chefe de Estado vir ao Brasil. Isso de maneira
nenhuma coloca em questão a relevância da conferência”, defendeu.
Ele ressaltou que a
presenças do presidente eleito da França, François Hollande, e do
recém-empossado presidente da Rússia, Vladimir Putin, confirmadas por telefone
à presidente Dilma Rousseff, reforçam o prestígio e a importância da Rio+20.
“O Brasil é longe e
eles têm consciência da importância de vir para a conferência. A Rio+20 está sendo
muito prestigiada, mas nós temos que entender a circunstância interna dos
países. Aconteceria a mesma coisa [com o Brasil], se estivéssemos em uma
situação especial”, acrescentou Correa do Lago. (EcoDebate)
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