Rio desativa maior lixão do continente para
evitar uma tragédia ambiental
Desativação do Aterro de Jardim Gramacho vai
impedir contaminação da Baía de Guanabara e transformar lixo em fonte de
energia.
Criado à beira da Baía de Guanabara, sobre área de mangue - o berçário
da vida marinha - e cercado pelos Rios Iguaçu e Sarapuí, o Aterro de Jardim
Gramacho, em Duque de Caxias, é a síntese de tudo o que não deve ser feito a
respeito de descarte de lixo. Nos últimos 34 anos, todo o resíduo produzido
pelo Rio de Janeiro e outras quatro cidades da Baixada Fluminense foi deixado
ali. O resultado é uma montanha que alcança 60 metros de altura, no ponto mais
alto, espalhada por 1,3 milhão de m2, assentada sobre um terreno
gelatinoso, formado de argila.
Diante do risco de desastre ambiental, a desativação daquele que é
considerado o maior lixão da América Latina é o grande compromisso da
prefeitura do Rio às vésperas da Rio+20. A data prevista, amanhã, teve de ser
adiada para maio para que um problema social fosse resolvido - cerca de 1,4 mil
pessoas sobrevivem da separação do lixo e serão indenizadas.
O secretário municipal de Conservação, Carlos Osório, resume o que
representa Gramacho: "Cometeu-se um crime ambiental monumental no Rio de
Janeiro". Entre 1978 e 1996, o lixo foi despejado ali sem nenhum tipo de
tratamento. O chorume vazava para a Baía de Guanabara e os rios. Havia
explosões de gás metano - um dos gases do efeito estufa - gerado pela
decomposição da matéria orgânica em ausência de oxigênio.
A apenas 4 quilômetros de distância do Aeroporto Internacional Tom
Jobim, os urubus que disputam os resíduos com catadores também são um problema.
Somente entre 2008 e 2011 houve 286 colisões entre aves e os aviões.
No fim dos anos 1990, a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb),
do Rio de Janeiro, responsável pela operação do lixão, começou a transformar a
área num aterro sanitário. Foi instalado um sistema de drenagem para coletar e
tratar o chorume. Uma cortina de argila orgânica impermeável foi instalada no
entorno do aterro, para impedir que os resíduos chegassem à baía e aos rios. O
dejeto de serviços de saúde ganhou local de descarte próprio, com manta
protetora. O lixo, depois de revirado pelos catadores, passou a ser espalhado
por uma draga e coberto com barro ou cascalho. Ainda assim, o solo instável
provocou rachaduras na montanha de lixo.
Fechamento
Ambientalistas denunciaram o risco iminente para a baía e o Ministério
Público Estadual cobrou o fechamento do aterro. A Comlurb diz que a situação
está sob controle. "Instalamos inclinômetros em todo o terreno. São placas
que vão a até 15 de profundidade e captam qualquer movimentação do solo",
diz o assessor técnico da diretoria da Comlurb, José Henrique Penido.
O aterro também é responsável pela deterioração do bairro de Jardim
Gramacho, em Duque de Caxias. Um levantamento do Instituto de Estudos do
Trabalho Sociedade (Iets) apontou a existência de 174 depósitos e galpões de
lixo instalados no bairro. O estudo aponta que, dos seus 13,7 mil moradores,
1.217 trabalham na separação de lixo.
A prefeitura do Rio promete recuperar Gramacho. Caberá à empresa Novo
Gramacho, consórcio que administra o aterro, cuidar da contenção geológica,
refazer a cobertura vegetal e recuperar o manguezal.
Desde abril passado, a maior parte do lixo do Rio é lançada no Centro de
Tratamento de Resíduos de Seropédica, onde o lixo é imediatamente coberto após
o despejo.
O projeto de recuperação prevê a perfuração de mais 190 poços, além dos
130 já existentes, para a captação do gás metano. Gramacho produz 18 mil metros
cúbicos por hora desse gás. Uma usina foi construída no próprio terreno para
purificar o gás metano, que será vendido para a Refinaria Duque de Caxias, da
Petrobrás. O resíduo desse gás será usado na geração de energia da própria
planta da usina.
A concessionária também registrará projeto para venda de créditos de
carbono. "Vamos deixar de emitir 6 milhões de toneladas equivalentes de
gás carbônico. A verba proveniente dessa operação comporá o fundo para a
recuperação do bairro e para a indenização dos catadores", disse Penido.
(OESP)
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