Pnuma vê situação
crítica para os limites do planeta, com mais gente que consome cada vez mais
“Esta conferência
acontece em um momento crítico”, diz o economista Steven Stone,
que coordenou o mais importante estudo sobre economia verde lançado pelo Pnuma, o
braço ambiental das Nações Unidas. “Temos que decidir se vamos viver do mesmo
jeito que vivemos até agora ou se iremos mudar o jeito que produzimos e
consumimos para uma forma sustentável”, continua. “É disso que trata a economia
verde.”
“Economia verde no contexto
da erradicação da pobreza” é um dos eixos básicos dos debates da Rio+20, a
conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável que acontece no Rio.
Também é um conceito polêmico. Alguns países entendem que se trata de uma
armadilha dos países ricos para proteger seus mercados, sob a alegação de que
os outros não têm produtos ambientalmente adequados. Movimentos sociais também
vêm a ideia com desconfiança, vislumbrando uma reedição do capitalismo na qual
as desigualdades sociais continuarão preservadas. Para Stone,
chefe da divisão de Economia e Comércio do Pnuma, economia verde é o caminho
para o desenvolvimento sustentável.
Para ele, três
tendências atuais e simultâneas tornam a Rio+20 particularmente importante
para o futuro. A primeira é o crescimento demográfico exponencial que
levará a população mundial das atuais 7 bilhões para 9 bilhões de pessoas em
algumas décadas – sendo que o aumento será puxado por jovens urbanos e cheios
de demandas.
A segunda é
a revolução tecnológica. “Quando introduzimos eletricidade em um lugar, tudo
muda. Os computadores alteram o jeito como trabalhamos. Isso pode ser bom ou
ruim, por isso é crucial”, explica. “É preciso que a tecnologia seja bem
gerenciada, para que melhore nossa vida e produza mais oportunidades de trabalho.”
A terceira vertente
são os limites do planeta. “A ciência hoje nos mostra os efeitos do carbono na
atmosfera, o processo de acidificação dos oceanos e o impacto que fertilizantes
a base de nitrogênio têm na água”, elenca. No primeiro fenômeno acontece o
aquecimento da Terra; o segundo afeta a vida marinha; e o terceiro, contamina
fontes de água. “Temos de mudar nossa mentalidade e entender que vivemos num
espaço confinado”, diz. “Temos de corrigir a economia e encontrar uma que não
polua.”
Ele lembra que o
conceito de economia verde tem mais de 30 anos, mas que tomou fôlego após a
crise financeira de 2008, quando o preço do barril de petróleo chegou a US$
140. “Toda a economia moderna é baseada em combustíveis fósseis. A
instabilidade que decorreu daí coloca em questão nosso modo tradicional de
vida.”
Segundo ele, uma das
mensagens chaves desse debate é onde o mundo gasta seu dinheiro hoje. Stone
estima que de 18% a 20% do total do Produto Interno Bruto mundial (algo entre
US$ 12 trilhões e US$ 13 trilhões) são dirigidos a investimentos em
infraestrutura. “Isto pode nos levar a um futuro sustentável ou não. Depende se
estamos investindo bem ou na velha economia.”
Ele cita os US$ 450
bilhões em subsídios para combustíveis fósseis todos os anos, além de US$ 30
bilhões para pesca. “São subsídios antigos, para um mundo que era diferente”,
afirma. “Era uma época em que se queria que os pescadores pescassem mais longe,
mais fundo e em mais quantidade”, explica. “Mas hoje sabemos que os estoques de
peixe estão em colapso. Temos que investir no peixe, não na pesca.”
A economia verde, diz
Stone,
tem caminhos diferentes conforme o país. “O caminho do Brasil, com tantos
recursos florestais, de água, ar e terra, é certamente diferente do caminho da
Coreia”. Segundo Stone, o mundo precisa reposicionar as economias e
torná-las mais eficientes e mais inclusivas. Na agricultura, por exemplo
trabalham um bilhão de pessoas, e os subsídios mundiais são imensos. “Mas vão
para poucas pessoas. Os mais pobres não recebem esses subsídios.”
Stone sugere que uma parte desses subsídios poderia, por exemplo, ir para
pesquisa que aumentasse a produtividade agrícola. Ele confia que a economia
verde pode criar novas frentes de trabalho e cita um recente estudo feito pelo Pnuma com
a Organização
Internacional do Trabalho (OIT). Nesse relatório, o número de
novos empregos verdes pode oscilar de um patamar mínimo de 15 milhões para algo
perto de 60 milhões.
Stone, que trabalhou 13 anos no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
antes de ingressar no Pnuma, em 2010, passou dois anos estudando a Amazônia,
sediado no Imazon,
uma espécie de think tank brasileiro baseado no Pará. “O Brasil é um dos países
mais ricos do mundo se se olhar o que tem de floresta, de oceanos, de água, de
ar limpo. ” Um dos grandes
resultados da Rio+20, continua, é estimular a reflexão e o debate de
quais “as prioridades que temos para o futuro do planeta”.(EcoDebate)
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