As atividades humanas
são a principal causa da perda da biodiversidade.
“Precisamos mudar para um
paradigma econômico alternativo que não reduza todo e qualquer valor a preços
de mercado e toda atividade humana ao comércio. Do ponto de vista ecológico,
essa abordagem implica em reconhecer o valor biodiversidade em si. Todas as
formas de vida têm um direito inerente à vida; essa deveria ser a razão
primordial para prevenirmos a extinção de espécies.” SHIVA V., 2001
A ONU adotou o dia 22
de maio como o dia da diversidade biológica como forma de alertar, sensibilizar
e aumentar o conhecimento sobre o assunto.
Vivemos em uma época
em que tudo acontece de modo acelerado. A deterioração causada ao meio ambiente
é decorrente de inúmeras intervenções causadas pelos seres humanos no processo
associado ao capitalismo e ao consumo desenfreado, gerando automaticamente
poluição e degradação sem precedentes.
A biodiversidade
refere-se à “[...] variedade e variabilidade existentes entre organismos vivos
e ecossistemas nos quais eles se mantêm. Ela engloba todos os níveis de
diversidade que se estendem dos genes à biosfera, passando pelo nível das
espécies, dos ecossistemas e das paisagens”.
A biodiversidade é
uma preocupação crescente da comunidade internacional, a perda de diferentes
espécies de animais, plantas e micro-organismos vem se acelerando. A vida na
Terra depende da natureza. Os seres humanos precisam da diversidade biológica
para o fornecimento de serviços importantes, como alimentação e recursos
hídricos. A natureza também é uma fonte de oportunidades econômicas. A proteção
da biodiversidade interessa a todos, pois sua perda tende a provocar: a
extinção de espécies; a perda de diversidade genética; a propagação global de
plantas e animais comuns; maiores mudanças no modo de funcionamento dos
ecossistemas, os quais fornecem serviços essenciais para a vida humana, como
produtos farmacêuticos, alimentos, madeira e purificação do ar e da água.
É a base da
sustentabilidade dos ecossistemas naturais, dos serviços ambientais, dos
recursos florestais e pesqueiros, da agricultura e da indústria da
biotecnologia. O Brasil, por seu turno, é o país com a maior biodiversidade do
mundo, contando com um número estimado de mais de 20% do número total de
espécies do planeta. No entanto, fatores diversos, como a perda de hábitats, a
fragmentação de ecossistemas, o problema das espécies invasoras, entre outros,
têm causado uma enorme perda dessa diversidade, extinguindo espécies, não só no
Brasil como em todo o mundo.
A humanidade é ela
própria parte da biodiversidade e a nossa existência seria impossível sem ela.
Qualidade de vida, competitividade econômica, emprego e segurança, tudo depende
deste capital natural. Biodiversidade é fundamental para os “serviços
ecossistêmicos”, ou seja, os serviços que a natureza fornece: regulação do clima,
da água e do ar, fertilidade dos solos e produção de alimentos, combustível,
fibras e medicamentos. A biodiversidade é essencial para manter a viabilidade
da agricultura e das pescas, além disso, é à base de muitos processos
industriais e da produção de novos medicamentos.
A fragmentação dos
habitats, causada pela urbanização e agricultura, e a superexploração dos
recursos naturais provocam a diminuição do número de espécies. Como essas são
atividades reguladas pelo governo, as Entidades de Fiscalização Superiores
podem desempenhar um papel importante ao auditar as ações governamentais.
Existem diversas maneiras de proteger a biodiversidade dessas ameaças. Áreas
protegidas, como parques nacionais e áreas de conservação, podem ser criadas.
Espécies raras e ameaçadas podem ser protegidas por meio de “hotspots” de
biodiversidade, áreas com uma alta concentração dessas espécies. A conservação
dos componentes da diversidade biológica fora dos seus habitats naturais, como,
zoológicos para animais vivos e espécies relacionadas, jardins botânicos para
plantas e bancos de genes para a preservação de espécies, pode ser uma
ferramenta utilizada para proteger espécies ameaçadas de extinção.
Os esforços de
preservação são particularmente importantes nas áreas denominadas “hotspots” da
biodiversidade. Essas áreas são os habitats mais ricos e mais ameaçados da
Terra. Hotspots são regiões que hospedam uma grande diversidade de espécies
endêmicas e, ao mesmo tempo, foram significativamente afetadas e alteradas por
atividades humanas. Para ser declarado um hotspot, é preciso que uma região
tenha perdido 70% ou mais do seu habitat original. Até o presente momento, a
organização Conservation International já identificou 34 hotspots de
biodiversidade, nos quais 75% dos mamíferos, aves e anfíbios mais ameaçados do
planeta sobrevivem em habitats que cobrem apenas 2,3% da superfície da Terra.
Essas áreas precisam ser protegidas contra atividades ilegais, como as
queimadas, o cultivo e a caça e pesca clandestina. A conservação deve enfocar
habitats críticos, únicos e representativos, que poderão então ser considerados
como áreas de proteção prioritárias.
A perda da
biodiversidade, o número de espécies de animais, plantas e micro-organismos
está em rápida aceleração, num ritmo sem precedentes na história da humanidade,
afetando diretamente a estrutura dos nossos ecossistemas, do nosso mundo
natural e das nossas vidas. Um dos desafios para sua preservação é a crescente
demanda por recursos biológicos, causada pelo crescimento demográfico e pelo
aumento do consumo. As pessoas de todo o mundo precisam compreender a
importância dos ecossistemas e as vantagens da biodiversidade.
A perda de
biodiversidade significa a perda de organismos que tem uma determinada função,
sem os quais, outros organismos serão afetados, consequentemente todo o
ecossistema de um determinado local será alterado e os serviços ecossistêmicos
serão modificados. Além disso, a perda da biodiversidade implica, muitas vezes,
na falta de conhecimento científico sobre as espécies que estão em fase de
extinção, que poderiam ser importantes em um futuro próximo, quer como
princípios ativos para medicamentos ou para fins industriais diversos, por
exemplo.
A Convenção sobre
Diversidade Biológica reconhece cinco principais ameaças à biodiversidade:
alterações no habitat, perda e fragmentação; espécies exóticas invasoras
(bioinvasão); exploração excessiva de recursos naturais; poluição e sobrecarga
de nutrientes; mudanças climáticas e aquecimento global. Outras ameaças incluem
a biotecnologia, os métodos agrícolas, a desertificação, a biopirataria e o
comércio ilegal de espécies.
Desastres naturais
recentes mostraram que vidas humanas poderiam ter sido salvas e danos reduzidos
se os ecossistemas tivessem sido melhor administrados. Por exemplo, nas regiões
fora da zona de intensidade máxima do tsunami asiático de 2004, em que as
florestas de manguezais haviam sido preservadas, o efeito foi bem menos severo
do que nas áreas que haviam sido desmatadas para o cultivo de camarões ou para construção
de estâncias para turistas. De forma semelhante, o desvio do Rio Mississipi por
meio de um sistema de canais e barragens mudou o seu padrão de sedimentação e
erodiu as áreas úmidas. Com essa proteção natural ausente, o furacão Katrina
devastou a costa da Louisiana, EUA, em 2005.
Os campos naturais
foram alterados drasticamente pelas práticas agrícolas em geral. A expansão da
agricultura a partir da década de 70 levou ao cultivo de áreas marginais e à
destruição de importantes habitats naturais, como florestas e áreas úmidas.
Os habitats de água
doce, inclusive lagos, rios, açudes, córregos, lençóis freáticos, nascentes,
águas de caverna, várzeas, brejos, charcos e pântanos, são uma fonte importante
de alimentos, renda e subsistência, particularmente nas áreas rurais de países
em desenvolvimento.
Esses ecossistemas
também fornecem água, energia, transporte, lazer e turismo, equilíbrio
hidrológico, retenção de sedimentos e nutrientes e habitats para fauna e flora.
Os ecossistemas de
água doce, que muitas vezes são alterados drasticamente pelos seres humanos,
estão entre os ecossistemas mais ameaçados devido aos seguintes fatores:
alterações físicas; perda e degradação de habitats; drenagem; exploração
excessiva; poluição; introdução de espécies exóticas invasoras.
As áreas úmidas onde
a água é o fator primário de controle do meio ambiente e na superfície da terra
ou próximo dela ou onde a terra é coberta por águas rasas. As áreas úmidas, que
cobrem de 4% a 6% do planeta e são um dos principais sistemas de apoio à vida
na Terra, proporcionam habitats críticos para muitas espécies de fauna e flora.
Elas desempenham papel importante na filtragem e fornecimento de água, retêm
sedimentos e nutrientes, estabilizam a linha costeira e mitigam enchentes.
Constituem um dos mais produtivos ecossistemas do mundo e é um importante
depósito de material genético de plantas, como o arroz.
A sobrevivência das
áreas úmidas depende da sua preservação e da conservação de suas funções
ecológicas. Historicamente, elas têm sido ameaçadas por invasões, drenagem,
aterros, poluição e usos competitivos, como a agricultura e o desenvolvimento
urbano.
Em relação às áreas
naturais protegidas no Brasil os Campos Sulinos ou Pampa é o bioma que menor
tem representatividade no Sistema Nacional de Unidades de Conservação,
representando apenas 0,4% da área continental brasileira protegida por unidades
de conservação. A Convenção sobre Diversidade Biológica, da qual o Brasil é
signatário, em suas metas para 2020, prevê a proteção de pelo menos 17% de
áreas terrestres representativas da heterogeneidade de cada bioma.
As “Áreas
Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da
Biodiversidade Brasileira”, atualizadas em 2007, resultaram na identificação de
105 áreas do bioma Pampa, destas 41, do total de 34.292 km² foram consideradas
de importância biológica extremamente alta.
Estes números
contrastam com apenas 3,3% de proteção em unidades de conservação, 2,4% de uso
sustentável e 0,9% de proteção integral, com grande lacuna de representação das
principais fisionomias de vegetação nativa e de espécies ameaçadas de extinção
da fauna e da flora. A criação de unidades de conservação, a recuperação de
áreas degradadas e a criação de mosaicos e corredores ecológicos foram identificadas
como as ações prioritárias para a conservação, juntamente com a fiscalização e
educação ambiental.
Nos Campos Sulinos
entre as áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade está a Reserva
Biológica do São Donato e seu entorno, Unidade de Conservação Estadual, criada
pelo Decreto nº 23.798, de 12 de março de 1975, abrangendo parte do território
dos atuais municípios de Itaqui e Maçambará, no oeste do Estado, incluída nos
limites da Bacia Hidrográfica U-40, no baixo curso do rio Butuí, afluente do
rio Uruguai.
A fauna e a flora do
São Donato apresentam grande singularidade devido à ocorrência de espécies de
distribuição geográfica bastante restrita no âmbito regional. Além disso, a
área abriga animais considerados ameaçados de extinção em escala mundial,
nacional e regional. Levantamentos biológicos efetuados na área comprovam sua
importância para a conservação da biodiversidade do Estado.
As formas vegetais
estão representadas por banhado, florestas e campos. O banhado caracteriza-se
por um mosaico de comunidades vegetais herbáceas altas e densas com predomínio
de distintas espécies, refletindo condições diferenciadas de habitat. Também
estão presentes macrófitas flutuantes e fixas, flutuantes e livres e submersas
nos locais com maior profundidade da lâmina d’água. A formação florestal
estacional presente na área mostra diluição de elementos da floresta do Alto
Uruguai, apresentando espécies em comum com a flora Argentina. O mato é uma
mancha bastante representativa das florestas da região, sendo também
importantes os remanescentes de matas que apontam o limite natural do banhado,
especialmente àquelas localizadas ao sul deste. Os campos limpos são raros,
sendo os campos com espinilho mais comuns na região.
O São Donato abriga
aproximadamente duzentas espécies de plantas vasculares, protegidas pela
legislação estadual, dentre as quais se destacam as leguminosas arbóreas
grápia, açucará, cabriúva; de distribuição muito restrita a araticum, outras
espécies, com poucos registros, restritos às áreas úmidas da fronteira oeste do
RS.
A avifauna
contabiliza mais de cento e cinquenta espécies registradas, apresentando grande
singularidade regional. É a única área do RS, onde ocorre o carretão, pássaro
típico dos banhados de vegetação aquática densa e ameaçado de extinção no
Estado. Entre as espécies ameaçadas, destacam-se ainda os caboclinhos, o
pato-de-crista, vindo provavelmente da Argentina. Diversas espécies de aves
aquáticas utilizam o São Donato como sítio de reprodução, como é o caso do
gavião-caramujeiro; destaca-se ainda a primeira observação no Brasil do
caboclinho-de-colar-branco, pássaro que se encontra em situação crítica e
apresenta uma população mundial estimada em menos de duzentos e cinquenta
indivíduos.
A fauna de peixes
inclui espécies ameaçadas de extinção que habitam ambientes de água parada em
alagados marginais ao banhado, caso dos peixes anuais, amostragens de campo
comprovam a importante função do Banhado do São Donato como criatório de
peixes, contribuindo para a reposição das populações de várias espécies.
Com relação aos
mamíferos, destaca-se a existência de populações numerosas do bugio-preto, de
cervídeos florestais, espécies que integram a lista da fauna em extinção no RS,
além da população local de lontras, também são significativas.
A situação atual do
São Donato é de abandono, todavia não é irreversível. Reduzindo o ritmo de
perdas da biodiversidade, uma meta na qual a realização revela-se árdua,
difícil de mensurar no estado em que a biodiversidade, não só do Bioma Campos Sulinos,
se encontra atualmente, há de se colocar em prática as medidas e as práticas
propícias à verdadeira preservação da biodiversidade. Certamente as gerações
presentes e futuras, ainda entenderão o porquê da nossa luta pela preservação,
conservação e recuperação desta Unidade de Conservação de fundamental
importância para a qualidade de vida e a sobrevivência da humanidade.
Os países precisarão
reavaliar a maneira como gerenciam seus recursos, revendo a administração dos
rios, as regras para a silvicultura, as áreas de pesca e as práticas agrícolas.
Os governos devem
levar a biodiversidade em consideração ao tomar decisões que afetam o uso da
terra e a exploração de recursos naturais.
Os governos dispõem
de uma ampla variedade de ferramentas de políticas públicas para apoiar as
medidas de proteção. Dentre essas ferramentas, as principais são os acordos
internacionais e regionais de meio ambiente, a legislação e os programas
públicos.
Outra maneira de
proteger e preservar a biodiversidade é aumentar a conscientização pública
sobre questões relacionadas à biodiversidade e ao meio ambiente. A educação da
população é um requisito frequente nos acordos internacionais.
A meta acordada pelos
governos do mundo em 2002, “atingir até 2010 uma redução significativa da taxa
atual de perda de biodiversidade em níveis global, regional e nacional como uma
contribuição para a diminuição da pobreza e para o benefício de toda a vida na
Terra” não foi alcançada.
A pesquisa e o
monitoramento são essenciais para proteger a biodiversidade. É necessário
aumentar o conhecimento e a compreensão sobre a biodiversidade, seu valor e as
ameaças que enfrenta. A avaliação do estado da biodiversidade, genes, espécies
e ecossistemas é um desafio importante. É preciso que haja mais informações
disponíveis sobre as vantagens e desvantagens de diferentes variedades de
culturas e as mudanças de situação das espécies, ameaçadas ou não, para
preservar o equilíbrio biológico. A situação dos habitats, ecossistemas e
ameaças deve ser incluída na agenda principal das reuniões ecológicas
realizadas hoje para que os esforços de recuperação e restauração produzam
resultados.
“As atividades humanas
estão sobrecarregando de tal modo às funções naturais da Terra que a capacidade
dos ecossistemas do planeta de sustentar as gerações futuras já não é mais uma
certeza.” (EcoDebate)
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