Dubai é uma cidade que se vende como se fosse uma grande Itu
do deserto. Em Dubai tudo é superlativo: o mais alto prédio do mundo, o hotel
mais luxuoso e caro do globo, o maior shopping center, o maior aeroporto, etc.
Além disto, construíram uma montanha de neve artificial para esqui, piscinas
com ondas, um campo de golfe que precisa de milhões de galões de água por dia,
restaurante construído em gelo, hotéis feitos em granito, mármore e ouro, etc. Muitos
e muitos automóveis e ar condicionados. Ninguém
anda a pé.
Com o dinheiro do
petróleo o governo dos Emirados Árabes Unidos investiu na construção de uma
cidade totalmente artificial no meio das dunas quentes, como se fosse uma Disneylândia
do deserto. Mas não foi uma cidade feita para economizar energia, água ou se
adaptar às condições inóspitas do semiárido, como faziam os antigos beduínos.
Ao contrário, criaram uma cidade das Mil e Uma Noites voltada para o luxo, o
desperdício, a desigualdade social, a falta de liberdade e a insustentabilidade
ambiental.
Aliás, o dinheiro do
petróleo tem permitido a construção de cidades no Oriente Médio totalmente insustentáveis
do ponto de vista dos recursos naturais. Qatar é um país de 1,4 milhões de
habitantes com uma pegada ecológica per capita de 11,68 hectares globais (gha)
e uma biocapacidade per capita de 2,05 gha. O Kuwait é um país de 2,5 milhões
de habitantes com pegada ecológica de 9,72 gha e biocapacidade de apenas 0,43
gha. Os Emirados Árabes Unidos tem uma população de 8,1 milhões de habitantes,
uma pegada ecológica de 8,44 gha e uma biocapacidade de 0,64 gha. Estes são os
3 países com maior pegada ecológica do Planeta e com os maiores déficits
ambientais. Isto quer dizer que eles só sobrevivem porque importam alimentos e
matérias-primas do resto do mundo.
Mas Dubai é o ícone
da insustentabilidade. A Shangri-La do Oriente Médio foi construída do nada em
poucas décadas de bolha de crédito, com supressão de direitos, escravidão e
ecocídio. Depois da crise de 2009 os segredos de Dubai e o lado obscuro da
cidade estão aparecendo. Enquanto isto algumas ilhas artificiais (construídas
em um conjunto em forma de palmeira) estão afundando e os lagos artificiais
estão possibilitando a propagação de algas que emitem um odor fétido e atraem
mosquitos, ao mesmo tempo que afastam os investidores.
A explosão
imobiliária (e a especulação) foi construída com o suor dos trabalhadores
estrangeiros, principalmente Filipinos, Etíopes, Srilanka, Paquistaneses e
indianos. Vivendo em condições extremamente precárias, passam praticamente a
vida toda trabalhando, para mandar dinheiro para casa (remessas) que não é suficiente
e não permite o mínimo de autonomia. A subclasse de trabalhadores estrangeiros
– que construiu a cidade – está escondida das vistas dos turistas em Sonapur
(em hindu significa cidade do ouro) que é uma série de edifícios de concreto
idênticas, onde 300.000 homens vivem amontoados entre o cheiro de esgoto e
suor.
Sem os trabalhadores
estrangeiros e sem o petróleo a cidade de Dubai não sobrevive. Pode até ser que
o turismo gere alguma fonte de receita, mas as desigualdades sociais e a falta
de liberdade política não é um modelo que atraia muita atenção do mundo. A
família real se acha dona do país e vê as pessoas como seus servos. Aliás,
praticamente toda a população nativa trabalha para o governo, que tem sua fonte
de renda no petróleo e na renda de imóveis e terrenos.
Portanto, Dubai pode
ser uma boa cidade para se comprovar a capacidade humana de construir obras
dignas das Sete Maravilhas do Mundo. Mas como as pirâmides dos Faraós, Dubai
também pode se tornar apenas um símbolo de uma cidade ecologicamente
insustentável no meio do deserto que será incapaz de sobreviver depois do fim
dos combustíveis fósseis e das bolhas imobiliárias. (EcoDebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário