quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Reciclagem de Entulho na Construção Civil

Resíduos de construção civil, em usina de reciclagem
Resumo
O presente trabalho tem por finalidade identificar soluções para melhorar a sistemática de gestão de resíduos sólidos existentes nos canteiros de obras. Com a implantação de uma Gestão Ambiental no canteiro de obras, constata-se a incorporação de benefícios como a melhora nas condições de limpeza do canteiro, diminuição dos acidentes de trabalho, redução do consumo de recursos naturais, redução da geração de resíduos no canteiro de obras, atendimento aos requisitos legais e dos programas de certificação.
O trabalho acompanha a implantação e manutenção do programa de coleta seletiva, o funcionamento do processo de reciclagem de material de demolição e sua transformação em blocos de alvenaria, e a reutilização de material no canteiro de obras. Para alcançar os objetivos do trabalho contribuindo com o desenvolvimento da área de Gestão Ambiental, onde foi empregado técnicas de funcionamento para gestão de resíduos sólidos, coleta seletiva e reciclagem.
1. Introdução
A Construção Civil é reconhecida como uma das mais importantes atividades para o desenvolvimento econômico e social, e, por outro lado, comporta-se, ainda, como grande geradora de impactos ambientais, quer seja pelo consumo de recursos naturais, pela modificação da paisagem ou pela geração de resíduos.
O setor tem um grande desafio: como conciliar uma atividade produtiva desta magnitude com as condições que conduzam a um desenvolvimento sustentável consciente, menos agressivo ao meio ambiente.
A reciclagem de resíduos pela indústria da construção civil vem se consolidando como uma prática importante para a sustentabilidade, atenuando o impacto ambiental gerado pelo setor ou reduzindo os custos.
Antes que conquistasse o prestígio e alcançasse o desenvolvimento que tem hoje, foi preciso que a construção civil percorresse um longo trajeto de seis mil anos, desde que o homem deixou as cavernas e começou a pensar numa moradia mais segura e confortável para a sua família. Já os templos, os palácios e os canais, que foram marcas registradas na Antiguidade, começaram a fazer parte da paisagem cerca de dois mil anos depois do aparecimento das primeiras habitações familiares.
Os portugueses eram hábeis com a madeira, e trabalhavam muito bem com a pedra. Na segunda década do século XVI, antes da construção de pedra, a de madeira era levantada com fechamento de frestas com barro e sambaquis (conchas diversas, arenitos, e detritos dos índios acumulados durante séculos formando pequenos montes). Os sambaquis também foram amplamente usados em calçamento e vias para as carroças transportarem mantimentos e os frutos do extrativismo de paredes de pedras eram feitos da mesma forma. Os arcos sobre as janelas só viriam com o estabelecimento das olarias (locais com formas e fornos para assar tijolos de argilas). Isso, ainda no século XVI, pois logo cedo o Brasil começou a ser fornecedor de matéria prima para a Europa, principalmente de Pau Brasil e os trabalhadores portugueses precisavam de infraestrutura para trabalhar no extrativismo aqui. Toda esta movimentação ocorreu no litoral, próximo a locais que não ofereciam risco de encalhamento para os navios. Os sambaquis não são mais utilizados nas junções, ficando sinais de suas utilizações em algumas igrejas construídas no século XVIII.
Todas as estruturas mais complexas eram baseadas no arco romano, junção de pedras com determinado ângulo até formar arcos. Toras como vigas e pilares também eram muito usados, mas em situações de construções mais simples. Telhados eram de palhas, amarradas sobre tesouras de madeira. Fortes, feitorias e igrejas seguiam as estruturas de pedras descritas acima. Projetistas, marceneiros, pedreiros, ferreiros e outros especialistas faziam parte das missões.
As primeiras obras civis no Brasil começaram na transição do século XIX para o XX. Dos 510 anos do Brasil, quase 400 anos de construções foram autóctones (a própria pessoa constrói sua casa) e os últimos 100 anos foram de transformações. As técnicas utilizadas foram: taipa (barro) de mão e taipa-de-pilão (socada), sendo a mão de obra escrava e do próprio morador.
As cidades passaram a crescer vertiginosamente, numa velocidade nunca antes registrada. Vieram os altos edifícios, as pontes quilométricas, o sistema de saneamento básico, as estradas pavimentadas e o metrô (A HISTÓRIA, 2008).
Na década 90, as construtoras começaram a dar mais importância na qualificação profissional, pois a exigência de produtos finais com mais qualidade começou a difundir-se.
Em 2000 continua ser intensa a preocupação com o produto final porque, “além da sua importância relacionada aos aspectos econômicos e sociais, a construção civil tem uma interferência muito forte na natureza” (VIEIRA, 2006). E essa preocupação torna-se de extrema importância.
Segundo Vieira (2006) diz na sua introdução que “a construção civil é o setor que representa uma importância fundamental na economia brasileira. Possui uma importante participação na composição do PIB, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE representando nos últimos anos uma média percentual em torno de 6% do PIB total do País.”
Segundo o IPEA, com relação aos postos de trabalho sua participação é, em média, de 40% do total da mão de obra da indústria de transformação em geral. Comparando-se com outros setores da indústria de transformação, é o maior de todos eles” (VIEIRA, 2006).
A indústria da construção civil está dividida em três subsetores: edificações, responsável pela construção de edifícios residenciais, comerciais e industriais, públicos ou privados, realizados por empresas de grande, médio e pequeno porte; construção pesada, que objetiva a construção de infra-estrutura de transportes, energia, telecomunicações e saneamento; e montagem industrial, responsável pela montagem de estruturas metálicas nos vários setores industriais, sistemas de geração de energia, de comunicações e de exploração de recursos naturais (VIEIRA, 2006).
Portanto, sendo este o subsetor que mais emprega na construção civil, é justamente nele que o presente trabalho irá dirigir seu maior enfoque, destacando a qualificação profissional.
2. Origem e produção do entulho
O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, contempla que os resíduos da construção civil são os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha.
De acordo com LEVY & HELENE (1997) entulho são sobras ou rejeitos constituídos por todo material mineral oriundo do desperdício inerente ao processo construtivo adotado na obra nova ou de reformas ou demolições. Sendo que a sua ocorrência tem como definição um resíduo sólido, com constituição variável.
Ainda segundo LEVY & HELENE (1997) o mesmo pode se basicamente de três formas: novas construções, reformas e demolições.
Definindo também os resíduos gerados em novas construções como materiais cerâmicos (blocos de alvenaria, tijolos, azulejos), madeira, gesso, aço e argamassas. Surgindo então mais quatro fases de execuções básicas, que se diferem no tempo de realização da atividade e na quantidade produzida. Sendo elas: concretagem, alvenaria, revestimento e acabamento do edifício.
A quantidade de entulho gerado nas construções que são realizadas nas cidades brasileiras demonstra um desperdício irracional de material: desde a sua extração, passando pelo seu transporte e chegando à sua utilização na construção.
Os custos desta irracionalidade são distribuídos por toda a sociedade, não só pelo aumento do custo final das construções como também pelos custos de remoção e tratamento do entulho. Na maioria das vezes, o entulho é retirado da obra e disposto clandestinamente em locais como terrenos baldios, margens de rios e de ruas das periferias.
O custo social total é praticamente impossível de ser determinado, pois suas consequências geram a degradação da qualidade de vida urbana em aspectos como transportes, enchentes, poluição visual, proliferação de vetores de doenças.
3. Desperdícios na construção convencional
A composição do entulho, encontrada na construção convencional, tem fator intimamente relacionado com a ocorrência de desperdícios. A tabela abaixo expõe a ocorrência de desperdícios em alguns países.
De acordo com ZORDAN(1997) este desperdício seria às perdas que permanecem na obra, e que o entulho produzido corresponde aproximadamente em apenas 50% da massa do material desperdiçado.
Podemos dizer que o surgimento do entulho ocorre nas fases de execução e utilização de um empreendimento somada com a perda por material incorporado, presente em todas as fases conforme tabela.
Os materiais presentes no entulho estão relacionados com o desperdício, e que são passíveis de reaproveitamento em técnicas de reciclagem. O desperdício físico pode não ter o mesmo significado quando analisado em termos financeiros.
Sendo assim a teoria dos três R se torna realidade (reduzir, reutilizar e reaproveitar) esta meta se torna uma necessidade no mercado da construção civil atualmente, onde nota-se um aumento de competição entre empresas e maiores exigências dos consumidores de obras de edifícios (qualidade e lucro sem desperdício).
No seguimento da busca da qualidade em uma obra desde o seu projeto inicial a organização e produção dos canteiros devem acontecer com base nos altos índices de desperdícios expostos na tabela acima e também devido a escassez de áreas urbanas para a deposição desses resíduos, o que eleva seu custo de deposição.
De acordo com informação do Sinduscon – Sindicato da Construção Civil de São Paulo, a construção civil é o setor que mais consome matérias primas naturais, e grandes consumidores de energia.
O que leva a discussão quanto à utilização de recursos naturais não renováveis, que quando escassos acarretarão a elevação do custo de uma obra. É de extrema urgência que a construção civil, se enquadre em um processo de redução de custos, minimizando o desperdício, e se possível reciclando o desperdício.
A necessidade de reduzir seus volumes de entulho, devido ao aumento de preços dos transportes para aterros ou centrais de moagem de entulho cada vez mais distantes é também um dos grandes problemas enfrentados na construção civil, não apenas pelo custo, mas também pelo impacto ambiental causado.
Sendo assim, reciclando os seus volumes para evitar um custo excessivo de transporte, e um grande impacto ambiental acaba se enquadrando em normas da ISO adotadas em empresas de grande porte.
Empresas de grande porte buscam atualmente se adequar a um modelo de desenvolvimento sustentável, onde a empresa terá que satisfazer as necessidades do mercado sem comprometer a necessidades futuras.
Iniciativas como:
· Presença de “container” para coleta de desperdícios em todo o canteiro;
· Distribuição de pequenas caixas de desperdícios nos andares;
· Tubo coletor de polietileno para descida do entulho;
· Quadro para anotação da quantidade e tipo de entulho gerado na obra;
· Colocação de equipamentos de limpeza de forma visível;
· Limpeza permanente pelo próprio operário;
· Premiação de equipes pela qualidade da limpeza;
Podem proporcionar a melhor qualidade do projeto com relação ao Desenvolvimento Sustentável aplicado no mesmo. Desta forma, o controle de perdas leva a uma harmonização do arranjo do entulho no canteiro.
A rede de universidades estruturada com apoio do Programa Habitare para buscar minimizar o problema de perdas de materiais e conta com pesquisa anterior, também parcialmente financiada pela Finep, e que fornece bases importantes para o novo projeto de aprimoramento da gestão de perdas de materiais nos canteiros de obras.
A pesquisa mostrou que, em relação ao teoricamente previsto no projeto, a construção civil gasta, em média, 27% a mais, em peso, de materiais como areia, cimento, pedra e cal. Considerando-se que cada metro quadrado de construção demanda uma tonelada de materiais, tem-se uma perda de 270 quilos.
O estudo mostrou também que há grandes disparidades, com construtoras em nível de excelência e outras em que o desperdício pode ser uma ameaça à sobrevivência da empresa. Por isso, agora os dados são fundamentais para o aprimoramento de metodologias de gestão.
4. Resultados da implantação da reciclagem
4.1. Ambientais.
Os principais resultados produzidos pela reciclagem do entulho são benefícios ambientais. A equação da qualidade de vida e da utilização não predatória dos recursos naturais é mais importante que a equação econômica.
Os benefícios são conseguidos não só por se diminuir a deposição em locais inadequados (e suas onsequências indesejáveis já apresentadas) como também por minimizar a necessidade de extração de matéria-prima em jazidas, o que nem sempre é adequadamente fiscalizado. Reduz-se, ainda, a necessidade de destinação de áreas públicas para a deposição dos resíduos.
4.2. Econômicos
As experiências indicam que é vantajoso substituir a deposição irregular do entulho pela sua reciclagem. De acordo com a Limpurb do município de São Paulo o custo para a administração municipal é de US$ 10 por metro cúbico clandestinamente depositado, aproximadamente, incluindo a correção da deposição e o controle de doenças. Estima-se que o custo da reciclagem significa cerca de 25% desses custos.
A produção de agregados com base no entulho pode gerar economias de mais de 80% em relação aos preços dos agregados convencionais.
A partir deste material é possível fabricar componentes com uma economia de até 70% em relação a similares com matéria-prima não reciclada.
Esta relação pode variar, evidentemente, de acordo com a tecnologia empregada nas instalações de reciclagem, o custo dos materiais convencionais e os custos do processo de reciclagem implantado.
De qualquer forma, na grande maioria dos casos, a reciclagem de entulho possibilita o barateamento das atividades de construção.
5. Sociais
O emprego de material reciclado em programas de habitação popular traz bons resultados. Os custos de produção da infraestrutura das unidades podem ser reduzidos.
Como o princípio econômico que viabiliza a produção de componentes originários do entulho é o emprego de maquinaria e não o emprego de mão-de-obra intensiva, nem sempre se pode afirmar que a sua reciclagem seja geradora de empregos.
5. Resultados de um Programa de Gestão Ambiental
A construtora e Engenharia estudada tem implantado um Programa de Gestão Ambiental (PGA), onde através de ações coordenadas conseguiu reduzir o impacto da obra no meio ambiente e da coleta seletiva, teve como resultado à certificação da NBR ISO 14001.
O investimento da empresa começa desde o canteiro de obras, que registram a disposição de coletores de resíduos (vidro, metal, plástico e papel) dispostos nos corredores do escritório, que são segregados e encaminhados às baias localizadas no interior da obra.
6. Considerações finais
As metas para se atingir desenvolvimento sustentável empregando resíduos na construção civil devem contemplar a reciclagem que é fundamental para um mercado efetivo para os resíduos. Ao se analisar a reciclagem de resíduos na construção civil brasileira percebe-se falhas no processo de pesquisa e desenvolvimento, principalmente no tocante aos atores envolvidos no processo. Encontram-se problemas no desenvolvimento do produto, transferência de tecnologia e análise de desempenho ambiental. A reciclagem de resíduos da construção civil tenta consolidar seus processos de produção e garantia de qualidade na busca de um mercado mais diversificado e efetivo, através de ações discutidas de algumas empresas da construção, sindicatos e órgãos municipais e federais.
O desempenho ambiental na reciclagem deste resíduo é ainda negligenciado e existem problemas na etapa de caracterização do resíduo. (EcoDebate)

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