Resíduos de construção civil, em
usina de reciclagem
Resumo
O presente trabalho tem por
finalidade identificar soluções para melhorar a sistemática de gestão de
resíduos sólidos existentes nos canteiros de obras. Com a implantação de uma
Gestão Ambiental no canteiro de obras, constata-se a incorporação de benefícios
como a melhora nas condições de limpeza do canteiro, diminuição dos acidentes
de trabalho, redução do consumo de recursos naturais, redução da geração de
resíduos no canteiro de obras, atendimento aos requisitos legais e dos
programas de certificação.
O trabalho acompanha a implantação
e manutenção do programa de coleta seletiva, o funcionamento do processo de
reciclagem de material de demolição e sua transformação em blocos de alvenaria,
e a reutilização de material no canteiro de obras. Para alcançar os objetivos
do trabalho contribuindo com o desenvolvimento da área de Gestão Ambiental,
onde foi empregado técnicas de funcionamento para gestão de resíduos sólidos,
coleta seletiva e reciclagem.
1. Introdução
A Construção Civil é reconhecida
como uma das mais importantes atividades para o desenvolvimento econômico e
social, e, por outro lado, comporta-se, ainda, como grande geradora de impactos
ambientais, quer seja pelo consumo de recursos naturais, pela modificação da
paisagem ou pela geração de resíduos.
O setor tem um grande desafio: como
conciliar uma atividade produtiva desta magnitude com as condições que conduzam
a um desenvolvimento sustentável consciente, menos agressivo ao meio ambiente.
A reciclagem de resíduos pela
indústria da construção civil vem se consolidando como uma prática importante
para a sustentabilidade, atenuando o impacto ambiental gerado pelo setor ou
reduzindo os custos.
Antes que conquistasse o prestígio
e alcançasse o desenvolvimento que tem hoje, foi preciso que a construção civil
percorresse um longo trajeto de seis mil anos, desde que o homem deixou as
cavernas e começou a pensar numa moradia mais segura e confortável para a sua
família. Já os templos, os palácios e os canais, que foram marcas registradas
na Antiguidade, começaram a fazer parte da paisagem cerca de dois mil anos
depois do aparecimento das primeiras habitações familiares.
Os portugueses eram hábeis com a
madeira, e trabalhavam muito bem com a pedra. Na segunda década do século XVI,
antes da construção de pedra, a de madeira era levantada com fechamento de
frestas com barro e sambaquis (conchas diversas, arenitos, e detritos dos
índios acumulados durante séculos formando pequenos montes). Os sambaquis
também foram amplamente usados em calçamento e vias para as carroças
transportarem mantimentos e os frutos do extrativismo de paredes de pedras eram
feitos da mesma forma. Os arcos sobre as janelas só viriam com o estabelecimento
das olarias (locais com formas e fornos para assar tijolos de argilas). Isso,
ainda no século XVI, pois logo cedo o Brasil começou a ser fornecedor de
matéria prima para a Europa, principalmente de Pau Brasil e os trabalhadores
portugueses precisavam de infraestrutura para trabalhar no extrativismo aqui.
Toda esta movimentação ocorreu no litoral, próximo a locais que não ofereciam
risco de encalhamento para os navios. Os sambaquis não são mais utilizados nas
junções, ficando sinais de suas utilizações em algumas igrejas construídas no
século XVIII.
Todas as estruturas mais complexas
eram baseadas no arco romano, junção de pedras com determinado ângulo até
formar arcos. Toras como vigas e pilares também eram muito usados, mas em
situações de construções mais simples. Telhados eram de palhas, amarradas sobre
tesouras de madeira. Fortes, feitorias e igrejas seguiam as estruturas de
pedras descritas acima. Projetistas, marceneiros, pedreiros, ferreiros e outros
especialistas faziam parte das missões.
As primeiras obras civis no Brasil
começaram na transição do século XIX para o XX. Dos 510 anos do Brasil, quase
400 anos de construções foram autóctones (a própria pessoa constrói sua casa) e
os últimos 100 anos foram de transformações. As técnicas utilizadas foram:
taipa (barro) de mão e taipa-de-pilão (socada), sendo a mão de obra escrava e
do próprio morador.
As cidades passaram a crescer
vertiginosamente, numa velocidade nunca antes registrada. Vieram os altos
edifícios, as pontes quilométricas, o sistema de saneamento básico, as estradas
pavimentadas e o metrô (A HISTÓRIA, 2008).
Na década 90, as construtoras
começaram a dar mais importância na qualificação profissional, pois a exigência
de produtos finais com mais qualidade começou a difundir-se.
Em 2000 continua ser intensa a
preocupação com o produto final porque, “além da sua importância relacionada
aos aspectos econômicos e sociais, a construção civil tem uma interferência
muito forte na natureza” (VIEIRA, 2006). E essa preocupação torna-se de extrema
importância.
Segundo Vieira (2006) diz na sua
introdução que “a construção civil é o setor que representa uma importância
fundamental na economia brasileira. Possui uma importante participação na
composição do PIB, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE representando nos últimos anos uma média percentual em torno de 6% do PIB
total do País.”
“Segundo o IPEA, com relação aos postos de trabalho sua
participação é, em média, de 40% do total da mão de obra da indústria de
transformação em geral. Comparando-se com outros setores da indústria de
transformação, é o maior de todos eles” (VIEIRA, 2006).
A indústria da construção civil
está dividida em três subsetores: edificações, responsável pela construção de
edifícios residenciais, comerciais e industriais, públicos ou privados,
realizados por empresas de grande, médio e pequeno porte; construção pesada,
que objetiva a construção de infra-estrutura de transportes, energia,
telecomunicações e saneamento; e montagem industrial, responsável pela montagem
de estruturas metálicas nos vários setores industriais, sistemas de geração de
energia, de comunicações e de exploração de recursos naturais (VIEIRA, 2006).
Portanto, sendo este o subsetor que
mais emprega na construção civil, é justamente nele que o presente trabalho irá
dirigir seu maior enfoque, destacando a qualificação profissional.
2. Origem e
produção do entulho
O Conselho Nacional do Meio
Ambiente – CONAMA, contempla que os resíduos da construção civil são os
provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de
construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos,
tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais,
resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso,
telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica
etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha.
De acordo com LEVY & HELENE
(1997) entulho são sobras ou rejeitos constituídos por todo material mineral
oriundo do desperdício inerente ao processo construtivo adotado na obra nova ou
de reformas ou demolições. Sendo que a sua ocorrência tem como definição um
resíduo sólido, com constituição variável.
Ainda segundo LEVY & HELENE
(1997) o mesmo pode se basicamente de três formas: novas construções, reformas
e demolições.
Definindo também os resíduos
gerados em novas construções como materiais cerâmicos (blocos de alvenaria,
tijolos, azulejos), madeira, gesso, aço e argamassas. Surgindo então mais
quatro fases de execuções básicas, que se diferem no tempo de realização da
atividade e na quantidade produzida. Sendo elas: concretagem, alvenaria,
revestimento e acabamento do edifício.
A quantidade de entulho gerado nas
construções que são realizadas nas cidades brasileiras demonstra um desperdício
irracional de material: desde a sua extração, passando pelo seu transporte e
chegando à sua utilização na construção.
Os custos desta irracionalidade são
distribuídos por toda a sociedade, não só pelo aumento do custo final das
construções como também pelos custos de remoção e tratamento do entulho. Na
maioria das vezes, o entulho é retirado da obra e disposto clandestinamente em
locais como terrenos baldios, margens de rios e de ruas das periferias.
O custo social total é praticamente
impossível de ser determinado, pois suas consequências geram a degradação da
qualidade de vida urbana em aspectos como transportes, enchentes, poluição
visual, proliferação de vetores de doenças.
3. Desperdícios
na construção convencional
A composição do entulho, encontrada
na construção convencional, tem fator intimamente relacionado com a ocorrência
de desperdícios. A tabela abaixo expõe a ocorrência de desperdícios em alguns
países.
De acordo com ZORDAN(1997) este
desperdício seria às perdas que permanecem na obra, e que o entulho produzido
corresponde aproximadamente em apenas 50% da massa do material desperdiçado.
Podemos dizer que o surgimento do
entulho ocorre nas fases de execução e utilização de um empreendimento somada
com a perda por material incorporado, presente em todas as fases conforme
tabela.
Os materiais presentes no entulho
estão relacionados com o desperdício, e que são passíveis de reaproveitamento
em técnicas de reciclagem. O desperdício físico pode não ter o mesmo
significado quando analisado em termos financeiros.
Sendo assim a teoria dos três R se
torna realidade (reduzir, reutilizar e reaproveitar) esta meta se torna uma
necessidade no mercado da construção civil atualmente, onde nota-se um aumento
de competição entre empresas e maiores exigências dos consumidores de obras de
edifícios (qualidade e lucro sem desperdício).
No seguimento da busca da qualidade
em uma obra desde o seu projeto inicial a organização e produção dos canteiros
devem acontecer com base nos altos índices de desperdícios expostos na tabela
acima e também devido a escassez de áreas urbanas para a deposição desses
resíduos, o que eleva seu custo de deposição.
De acordo com informação do
Sinduscon – Sindicato da Construção Civil de São Paulo, a construção civil é o
setor que mais consome matérias primas naturais, e grandes consumidores de
energia.
O que leva a discussão quanto à
utilização de recursos naturais não renováveis, que quando escassos acarretarão
a elevação do custo de uma obra. É de extrema urgência que a construção civil,
se enquadre em um processo de redução de custos, minimizando o desperdício, e
se possível reciclando o desperdício.
A necessidade de reduzir seus
volumes de entulho, devido ao aumento de preços dos transportes para aterros ou
centrais de moagem de entulho cada vez mais distantes é também um dos grandes
problemas enfrentados na construção civil, não apenas pelo custo, mas também
pelo impacto ambiental causado.
Sendo assim, reciclando os seus
volumes para evitar um custo excessivo de transporte, e um grande impacto
ambiental acaba se enquadrando em normas da ISO adotadas em empresas de grande
porte.
Empresas de grande porte buscam
atualmente se adequar a um modelo de desenvolvimento sustentável, onde a
empresa terá que satisfazer as necessidades do mercado sem comprometer a
necessidades futuras.
Iniciativas como:
· Presença de “container” para coleta de
desperdícios em todo o canteiro;
· Distribuição
de pequenas caixas de desperdícios nos andares;
· Tubo
coletor de polietileno para descida do entulho;
· Quadro
para anotação da quantidade e tipo de entulho gerado na obra;
· Colocação
de equipamentos de limpeza de forma visível;
· Limpeza
permanente pelo próprio operário;
· Premiação
de equipes pela qualidade da limpeza;
Podem proporcionar a melhor
qualidade do projeto com relação ao Desenvolvimento Sustentável aplicado no
mesmo. Desta forma, o controle de perdas leva a uma harmonização do arranjo do
entulho no canteiro.
A rede de universidades estruturada
com apoio do Programa Habitare para buscar minimizar o problema de perdas de
materiais e conta com pesquisa anterior, também parcialmente financiada pela
Finep, e que fornece bases importantes para o novo projeto de aprimoramento da
gestão de perdas de materiais nos canteiros de obras.
A pesquisa mostrou que, em relação
ao teoricamente previsto no projeto, a construção civil gasta, em média, 27% a
mais, em peso, de materiais como areia, cimento, pedra e cal. Considerando-se
que cada metro quadrado de construção demanda uma tonelada de materiais, tem-se
uma perda de 270 quilos.
O estudo mostrou também que há
grandes disparidades, com construtoras em nível de excelência e outras em que o
desperdício pode ser uma ameaça à sobrevivência da empresa. Por isso, agora os
dados são fundamentais para o aprimoramento de metodologias de gestão.
4. Resultados da implantação da reciclagem
4.1. Ambientais.
Os principais resultados produzidos
pela reciclagem do entulho são benefícios ambientais. A equação da qualidade de
vida e da utilização não predatória dos recursos naturais é mais importante que
a equação econômica.
Os benefícios são conseguidos não
só por se diminuir a deposição em locais inadequados (e suas onsequências
indesejáveis já apresentadas) como também por minimizar a necessidade de extração
de matéria-prima em jazidas, o que nem sempre é adequadamente fiscalizado.
Reduz-se, ainda, a necessidade de destinação de áreas públicas para a deposição
dos resíduos.
4.2. Econômicos
As experiências indicam que é
vantajoso substituir a deposição irregular do entulho pela sua reciclagem. De
acordo com a Limpurb do município de São Paulo o custo para a administração
municipal é de US$ 10 por metro cúbico clandestinamente depositado,
aproximadamente, incluindo a correção da deposição e o controle de doenças.
Estima-se que o custo da reciclagem significa cerca de 25% desses custos.
A produção de agregados com base no
entulho pode gerar economias de mais de 80% em relação aos preços dos agregados
convencionais.
A partir deste material é possível
fabricar componentes com uma economia de até 70% em relação a similares com
matéria-prima não reciclada.
Esta relação pode variar,
evidentemente, de acordo com a tecnologia empregada nas instalações de
reciclagem, o custo dos materiais convencionais e os custos do processo de
reciclagem implantado.
De qualquer forma, na grande
maioria dos casos, a reciclagem de entulho possibilita o barateamento das
atividades de construção.
5. Sociais
O emprego de material reciclado em
programas de habitação popular traz bons resultados. Os custos de produção da infraestrutura
das unidades podem ser reduzidos.
Como o princípio econômico que
viabiliza a produção de componentes originários do entulho é o emprego de
maquinaria e não o emprego de mão-de-obra intensiva, nem sempre se pode afirmar
que a sua reciclagem seja geradora de empregos.
5. Resultados de um Programa de Gestão Ambiental
A construtora e Engenharia estudada
tem implantado um Programa de Gestão Ambiental (PGA), onde através de ações
coordenadas conseguiu reduzir o impacto da obra no meio ambiente e da coleta
seletiva, teve como resultado à certificação da NBR ISO 14001.
O investimento da empresa começa
desde o canteiro de obras, que registram a disposição de coletores de resíduos
(vidro, metal, plástico e papel) dispostos nos corredores do escritório, que
são segregados e encaminhados às baias localizadas no interior da obra.
6. Considerações finais
As metas para se atingir
desenvolvimento sustentável empregando resíduos na construção civil devem
contemplar a reciclagem que é fundamental para um mercado efetivo para os
resíduos. Ao se analisar a reciclagem de resíduos na construção civil
brasileira percebe-se falhas no processo de pesquisa e desenvolvimento,
principalmente no tocante aos atores envolvidos no processo. Encontram-se
problemas no desenvolvimento do produto, transferência de tecnologia e análise
de desempenho ambiental. A reciclagem de resíduos da construção civil tenta
consolidar seus processos de produção e garantia de qualidade na busca de um
mercado mais diversificado e efetivo, através de ações discutidas de algumas
empresas da construção, sindicatos e órgãos municipais e federais.
O desempenho ambiental na
reciclagem deste resíduo é ainda negligenciado e existem problemas na etapa de
caracterização do resíduo. (EcoDebate)
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