Foi-se o tempo em
que fazer compras era só abastecer a casa. A questão é qual o preço (em reais)
dessas opções ambientalmente e socialmente sustentáveis.
Hoje, consumir implica responsabilidade. Demonstra resistência ou apoio
em relação ao fabricante e o conhecimento do impacto que a cadeia de produção
causa. "Ter consciência de que se pode influenciar o mundo como consumidor
é um dado importante e inevitável. O pós-moderno não se esquece das implicações
do objeto comprado. Por exemplo, atualmente, quem vai querer um cinto feito de
couro de crocodilo ou um diamante desencravado à custa do trabalho escravo? É
essa postura que nos levará ao equilíbrio, evitando a barbárie
consumista", pondera o antropólogo Roberto DaMatta. Você pode endossar uma
campanha, sabotar uma conduta ou ajudar a financiar uma causa, de acordo com as
escolhas que faz. Nesta era, do consumo responsável, os alimentos orgânicos, os
eletrodomésticos que economizam energia, os objetos de madeira com selo do FSC
e muitos outros produtos sustentáveis estão em alta. Mas quanto custa fazer
essa opção sempre e em todos os setores? Às vezes um produto com as
características ecologicamente corretas pode sair 50% a mais do que o similar
popular, e em outras, o mesmo tanto que um produto convencional. O importante é
comparar e escolher de acordo com sua saúde financeira. Voltando ao
supermercado, se não dá para ter tudo verde, pode-se ter metade de tudo verde
ou apenas um item. Como diz o próprio Roberto DaMatta, tudo bem com a
preocupação sobre a sustentabilidade, mas não podemos nos esquecer de que antes
precisamos salvar o homem.
Isso ou Aquilo?
"Na hora de escolher o que entra no orçamento, normalmente o
consumidor fica com o produto que traz benefícios extras para a saúde. Essa é a
motivação primordial para adquirir produtos sustentáveis, mesmo que custem mais
caro. Em segundo plano, o fator ambiental é considerado", responde André
Carvalho, pesquisador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação
Getúlio Vargas, de São Paulo. Esse é o comportamento no Brasil e no restante do
mundo. Numa escala de valores, alimentos saudáveis, como os orgânicos, são mais
importantes do que o detergente biodegradável, o xampu com conceito ecológico e
a madeira certificada. Os números comprovam: a venda de alimentos orgânicos
cresce cerca de 30% a cada ano. Já o aumento da procura por produtos de madeira
com selo do FSC, por exemplo, não chega a dois dígitos. "São duas
consciências e posturas. Uma é centrada no interesse individual e visa o
benefício imediato, enquanto a outra indica a preocupação com o todo,
objetivando melhorias a médio e longo prazo para o meio ambiente e para as
pessoas", explica André Carvalho.
Quetão Financeira
É verdade que muitas vezes não se trata de falta de consciência
ecológica, mas de dinheiro. Ser um consumidor responsável sai mais caro? Sim e
não. A escala de produção de um item com os critérios ambientais respeitados
costuma ser reduzida (a demanda e a produção são menores, e os preços,
maiores). Em São Paulo, uma caixa de morango sai por 6 reais*, contra 3 do
produto similar, um detergente biodegradável custa de 4 a 6 reais, enquanto o
convencional sai por cerca de 80 centavos. Um xampu básico pode ser comprado
por 4 reais, e a versão ecologicamente correta pode custar 25 reais (os
detergentes utilizados na formulação são biodegradáveis e 100% vegetais e, em
geral, comprados de cooperativas que visam incrementar o comércio justo). Por outro
lado, também é fato que o consumidor consciente adota atitudes econômicas.
"Uma fruta orgânica não estraga na geladeira desse consumidor porque ele
compra apenas o que sabe que vai comer. Não há desperdício", responde
Eliana Bussinger, consultora financeira, pesquisadora sobre economia
sustentável e autora de A Dieta do Bolso (ed. Campus/Elsevier). Outra postura
que esse consumidor assume é a de não comprar supérfluo. "Mesmo assim,
evidentemente que, se ele não souber equilibrar o orçamento, poderá incorrer em
custos maiores, mas geralmente a atitude responsável costuma pesar mais",
completa a consultora. Para reorganizar as finanças, consulte bons sites e
livros (veja quadro), com orientação para as atitudes rotineiras. Afinal, é nas
decisões do dia-a-dia que se define o futuro de nosso planeta. "Não dá
para desassociar as finanças pessoais das preocupações políticas e ecológicas.
A forma de consumir afeta o bolso, a saúde e o mundo. As consequências de seus
atos moram no futuro e é bom cuidar. (abril)




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