Escritório da Faculdade Tecnológica Federal do Paraná reúne
conhecimento, inovação e ideias para um futuro mais sustentável.
A casa que você vê na foto acima não é uma construção
qualquer. Suas paredes estão recheadas de mantas de garrafas PET e pneus
reciclados que, junto com os vidros duplos, garantem isolamento térmico e
acústico. As esquadrias das janelas são de madeira de reflorestamento e a
iluminação natural é aproveitada ao máximo por meio de claraboias. Paineis
fotovoltaicos captam a luz do sol para suprir 70% do consumo energético da
casa. A energia solar também aquece a água do chuveiro e das torneiras. Já a
água da limpeza e do vaso sanitário vem da chuva, que é armazenada depois de
passar por um sistema de coleta. A essa altura você já percebeu que estamos
falando de uma casa ecológica. Mas esse lugar específico não é uma residência,
é a sede do Escritório Verde, um projeto da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná (UTFPR), localizado em Curitiba e cuja missão é promover um estilo de
moradia sustentável.
Feita de madeira e com 150 metros quadrados, a casa foi
construída com materiais que, comprovadamente, causam menor impacto ambiental.
Funciona como um escritório de fato: ali trabalham cinco professores, cinco
estudantes de mestrado e dois de doutorado que desenvolvem pesquisas
relacionadas à sustentabilidade. O escritório também abriga uma empresa júnior,
a Ecoconsultoria, formada por 15 alunos de diferentes cursos de graduação. Ao
mesmo tempo que aprendem sobre técnicas e recursos construtivos ecológicos,
eles ajudam a prestar serviços de consultoria e desenvolvem projetos que vão de
inventário de emissão de gás carbônico a gestão de resíduos. “Nosso objetivo é
reduzir o impacto ambiental das atividades educacionais em toda a universidade
e ainda difundir o sistema para outras instituições e empresas”, diz o
idealizador do Escritório Verde, Eloy Fassi Casagrande Júnior, 52 anos, que é
graduado em desenho industrial e pós-graduado em Engenharia de Recursos
Minerais e Energéticos na Universidade de Nottingham (Inglaterra).
Ao voltar da temporada de estudos no exterior, Casagrande já
sabia que queria promover conceitos de sustentabilidade nas universidades
brasileiras e, em 2009, começou a colocar em prática a ideia do Escritório
Verde. A própria construção da sede foi um desafio, uma vez que os fornecedores
estavam espalhados em vários cantos. “Descobrimos que as empresas que fornecem
materiais ecológicos atuam de forma isolada, então comecei a reuni-las e
mostrar que, se tivessem um projeto conjunto, elas poderiam oferecer soluções e
não somente produtos. Até agora conseguimos 83 parceiros para o projeto”,
comemora Eloy, que também é professor da UTFPR. Toda a sede do Escritório Verde
foi construída com materiais cedidos por esses parceiros e, em contrapartida, a
UTFPR divulga os produtos e ainda recebe pessoas interessadas em construir
obras sustentáveis.
A dificuldade para encontrar materiais de construção de
baixo impacto ambiental não chegou a ser uma surpresa para o professor, que já
havia passado por isso quando construiu sua casa em Curitiba, há 12 anos. O
desejo, claro, era ter uma residência sustentável. “Naquela época, era ainda
mais difícil o acesso a sistemas construtivos não convencionais. Passamos por
cinco arquitetos até encontrar um que entendesse o que queríamos”, lembra. “A
solução para minimizar o impacto foi usar materiais de demolição – 80% da nossa
casa foi feita com esses materiais”, explica Casagrande.
Agora, ele – que usa carro ou ônibus para ir ao trabalho –
quer ser um dos primeiros a circular pela cidade com um carro elétrico. É que o
Escritório Verde desenvolve dois projetos de transporte ecológico: a bicicleta
movida a hidrogênio e o Pompeo, considerado o primeiro automóvel elétrico
legitimamente brasileiro. Com baixo custo e tecnologia simples, o carro promete
ser acessível a todos. Além de ter autonomia de até 200 km, necessita de apenas
1KW/h para rodar 10 km a um custo de R$0,40, totalizando R$0,04/km. Mas, antes,
o Escritório Verde e a Ecoconsultoria ainda devem lançar o selo verde
Tecnologias Sustentáveis, que ajudará os consumidores a discernir produtos que
realmente causam menor impacto ambiental daqueles que usam o apelo “verde”
somente como ferramenta de marketing.
A própria operação do Escritório Verde será submetida a
certificação: no caso, o selo pretendido é o do Sistema AQUA – Alta Qualidade
Ambiental, da Fundação Vanzolini (USP). A fundação é reconhecida como referência
em processos de certificação, foi pioneira na implantação do ISO no Brasil e
agora dará atenção também às questões socioambientais. Se aprovada, essa linda
casa verde será a primeira edificação certificada nesse sistema no Paraná. E
poderá servir de exemplo para muitas moradias num futuro que – vamos torcer –
estará muito próximo.
O esqueleto de uma obra verde
A casa onde funciona o Escritório Verde foi erguida
utilizando um sistema construtivo chamado wood frame. Trata-se de uma
tecnologia alemã em que a estrutura e as paredes são feitas de madeira de
reflorestamento certificada. Cada parede é composta por quadro camadas de
madeira. Há uma camada externa de pinus, uma camada interna de OSB (Oriented
Strand Board, uma lâmina feita com lascas de madeira tratada), um vão em que
são instalados os sistemas de isolamento térmico (a mantas de PET) e acústico
(pneu reciclado) e mais uma camada de madeira OSB e de pinus. “Escolhemos a
madeira por ser um recurso renovável, diferente da maioria dos materiais usados
tradicionalmente na construção civil”, justifica Casagrande. “Na nossa sede,
desde os sistemas elétrico e hidráulico até o acabamento privilegiaram o uso de
energias renováveis e o reaproveitamento dos insumos”, completa.
Para Casagrande, os sistemas construtivos que usam o wood
frame e o tijolo ecológico (solo cimento) são as alternativas mais viáveis à
alvenaria e aos blocos de cimento. Eles têm como vantagens o menor impacto
ambiental, a menor quantidade de resíduos e a operação de montagem ser muito mais
rápida. No entanto, o grande problema para a ampliação do uso dos novos
materiais é que, no mercado, eles precisam competir com os convencionais tanto
na produção quanto na distribuição e no preço. “Por mais que a pessoa tenha
consciência, quando chega na hora de pôr a mão no bolso, se tem um material
tradicional que custa 100 reais e outro ecológico que custa 120 reais, compra o
de 100. O brasileiro é muito imediatista e a visão ambiental é em médio e longo
prazos. Por isso, precisamos reeducar o consumidor”, analisa o professor. (revistaherbarium)
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