domingo, 17 de março de 2013

Verde do piso ao teto

Escritório da Faculdade Tecnológica Federal do Paraná reúne conhecimento, inovação e ideias para um futuro mais sustentável.
A casa que você vê na foto acima não é uma construção qualquer. Suas paredes estão recheadas de mantas de garrafas PET e pneus reciclados que, junto com os vidros duplos, garantem isolamento térmico e acústico. As esquadrias das janelas são de madeira de reflorestamento e a iluminação natural é aproveitada ao máximo por meio de claraboias. Paineis fotovoltaicos captam a luz do sol para suprir 70% do consumo energético da casa. A energia solar também aquece a água do chuveiro e das torneiras. Já a água da limpeza e do vaso sanitário vem da chuva, que é armazenada depois de passar por um sistema de coleta. A essa altura você já percebeu que estamos falando de uma casa ecológica. Mas esse lugar específico não é uma residência, é a sede do Escritório Verde, um projeto da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), localizado em Curitiba e cuja missão é promover um estilo de moradia sustentável.
Feita de madeira e com 150 metros quadrados, a casa foi construída com materiais que, comprovadamente, causam menor impacto ambiental. Funciona como um escritório de fato: ali trabalham cinco professores, cinco estudantes de mestrado e dois de doutorado que desenvolvem pesquisas relacionadas à sustentabilidade. O escritório também abriga uma empresa júnior, a Ecoconsultoria, formada por 15 alunos de diferentes cursos de graduação. Ao mesmo tempo que aprendem sobre técnicas e recursos construtivos ecológicos, eles ajudam a prestar serviços de consultoria e desenvolvem projetos que vão de inventário de emissão de gás carbônico a gestão de resíduos. “Nosso objetivo é reduzir o impacto ambiental das atividades educacionais em toda a universidade e ainda difundir o sistema para outras instituições e empresas”, diz o idealizador do Escritório Verde, Eloy Fassi Casagrande Júnior, 52 anos, que é graduado em desenho industrial e pós-graduado em Engenharia de Recursos Minerais e Energéticos na Universidade de Nottingham (Inglaterra).
Ao voltar da temporada de estudos no exterior, Casagrande já sabia que queria promover conceitos de sustentabilidade nas universidades brasileiras e, em 2009, começou a colocar em prática a ideia do Escritório Verde. A própria construção da sede foi um desafio, uma vez que os fornecedores estavam espalhados em vários cantos. “Descobrimos que as empresas que fornecem materiais ecológicos atuam de forma isolada, então comecei a reuni-las e mostrar que, se tivessem um projeto conjunto, elas poderiam oferecer soluções e não somente produtos. Até agora conseguimos 83 parceiros para o projeto”, comemora Eloy, que também é professor da UTFPR. Toda a sede do Escritório Verde foi construída com materiais cedidos por esses parceiros e, em contrapartida, a UTFPR divulga os produtos e ainda recebe pessoas interessadas em construir obras sustentáveis.
A dificuldade para encontrar materiais de construção de baixo impacto ambiental não chegou a ser uma surpresa para o professor, que já havia passado por isso quando construiu sua casa em Curitiba, há 12 anos. O desejo, claro, era ter uma residência sustentável. “Naquela época, era ainda mais difícil o acesso a sistemas construtivos não convencionais. Passamos por cinco arquitetos até encontrar um que entendesse o que queríamos”, lembra. “A solução para minimizar o impacto foi usar materiais de demolição – 80% da nossa casa foi feita com esses materiais”, explica Casagrande.
Agora, ele – que usa carro ou ônibus para ir ao trabalho – quer ser um dos primeiros a circular pela cidade com um carro elétrico. É que o Escritório Verde desenvolve dois projetos de transporte ecológico: a bicicleta movida a hidrogênio e o Pompeo, considerado o primeiro automóvel elétrico legitimamente brasileiro. Com baixo custo e tecnologia simples, o carro promete ser acessível a todos. Além de ter autonomia de até 200 km, necessita de apenas 1KW/h para rodar 10 km a um custo de R$0,40, totalizando R$0,04/km. Mas, antes, o Escritório Verde e a Ecoconsultoria ainda devem lançar o selo verde Tecnologias Sustentáveis, que ajudará os consumidores a discernir produtos que realmente causam menor impacto ambiental daqueles que usam o apelo “verde” somente como ferramenta de marketing.
A própria operação do Escritório Verde será submetida a certificação: no caso, o selo pretendido é o do Sistema AQUA – Alta Qualidade Ambiental, da Fundação Vanzolini (USP). A fundação é reconhecida como referência em processos de certificação, foi pioneira na implantação do ISO no Brasil e agora dará atenção também às questões socioambientais. Se aprovada, essa linda casa verde será a primeira edificação certificada nesse sistema no Paraná. E poderá servir de exemplo para muitas moradias num futuro que – vamos torcer – estará muito próximo.
O esqueleto de uma obra verde
A casa onde funciona o Escritório Verde foi erguida utilizando um sistema construtivo chamado wood frame. Trata-se de uma tecnologia alemã em que a estrutura e as paredes são feitas de madeira de reflorestamento certificada. Cada parede é composta por quadro camadas de madeira. Há uma camada externa de pinus, uma camada interna de OSB (Oriented Strand Board, uma lâmina feita com lascas de madeira tratada), um vão em que são instalados os sistemas de isolamento térmico (a mantas de PET) e acústico (pneu reciclado) e mais uma camada de madeira OSB e de pinus. “Escolhemos a madeira por ser um recurso renovável, diferente da maioria dos materiais usados tradicionalmente na construção civil”, justifica Casagrande. “Na nossa sede, desde os sistemas elétrico e hidráulico até o acabamento privilegiaram o uso de energias renováveis e o reaproveitamento dos insumos”, completa.
Para Casagrande, os sistemas construtivos que usam o wood frame e o tijolo ecológico (solo cimento) são as alternativas mais viáveis à alvenaria e aos blocos de cimento. Eles têm como vantagens o menor impacto ambiental, a menor quantidade de resíduos e a operação de montagem ser muito mais rápida. No entanto, o grande problema para a ampliação do uso dos novos materiais é que, no mercado, eles precisam competir com os convencionais tanto na produção quanto na distribuição e no preço. “Por mais que a pessoa tenha consciência, quando chega na hora de pôr a mão no bolso, se tem um material tradicional que custa 100 reais e outro ecológico que custa 120 reais, compra o de 100. O brasileiro é muito imediatista e a visão ambiental é em médio e longo prazos. Por isso, precisamos reeducar o consumidor”, analisa o professor. (revistaherbarium)

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