Distribuição geográfica de árvores da Mata Atlântica pode
cair 65% até 2100
Estimativa
vinculada às previsões mais pessimistas do aquecimento global foi apresentada
em conferência do BIOTA Educação.
Caso se concretize as
projeções mais otimistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas
(IPCC) e a temperatura nas áreas com remanescentes de Mata Atlântica aumentar
até dois graus Celsius, a distribuição geográfica das árvores desta floresta
poderá ter redução de 30% em 2100. Se as estimativas mais pessimistas vingarem
e o aquecimento atingir a casa dos quatro graus Celsius, tal redução poderá
chegar a 65%.
O alerta foi feito
por Carlos Joly, coordenador do Programa de Pesquisas em Caracterização,
Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São
Paulo (BIOTA-FAPESP) e pesquisador do Instituto de Biologia da Universidade
Estadual de Campinas (IB/Unicamp), durante o sexto encontro do Ciclo de
Conferências 2013 do BIOTA Educação, realizado no dia 22 de julho na FAPESP, em
São Paulo.
Os números foram
obtidos a partir de um levantamento que começou em herbários. “Identificamos
pelo menos 30 pontos de ocorrência exata de árvores da Mata Atlântica e, com
isso, fizemos um mapa de onde elas ocorrem hoje em determinadas condições de
temperatura, precipitação, tipo de solo e altitude”, explicou Joly.
Considerando os 30
pontos iniciais, o passo seguinte foi usar um algoritmo para calcular em que
outros lugares haveria potencial para a ocorrência das espécies, o que deu
origem a um segundo mapa. De acordo com o pesquisador, “isso nos permitiu dizer
que determinada espécie é capaz de ocorrer em certa localidade, sob certas
condições anuais de temperatura e precipitação”.
Em seguida, as
projeções do IPCC permitiram traçar o panorama de 2100, considerando cenários
mais e menos otimistas. “Estimamos que a porção nordeste dos remanescentes –
onde a estimativa é que também haja redução significativa de chuvas – vá
diminuir. E a distribuição geográfica das espécies ficará mais restrita a áreas
como a Serra do Mar, onde a precipitação é garantida e o relevo impede que a
temperatura suba demais”, afirmou Joly.
Estoques de carbono
Outro tema abordado
durante a conferência foi o monitoramento do carbono estocado na Floresta
Atlântica paulista, em uma faixa equivalente a 14 campos de futebol entre
Ubatuba e São Luiz do Paraitinga.
Desde 2005, pesquisas
viabilizadas pelo BIOTA-FAPESP e pelo Programa FAPESP de Pesquisa sobre
Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) investigam os remanescentes de Mata
Atlântica na região, inclusive no que diz respeito às trocas gasosas entre as
plantas e o meio ambiente.
O acompanhamento é
feito por meio de cintas de aço colocadas nos troncos das árvores – a medição
do diâmetro, a cada dois anos, aponta quanto carbono vem sendo fixado por elas.
“Também monitoramos árvores que morrem e vão entrar em decomposição e plantas
novas, que no último período verificado cresceram o bastante para entrar em
nossa amostragem”, afirmou Joly. Uma torre de 60 metros de altura, equipada com
um grande conjunto de sensores, também mede o fluxo de trocas gasosas, além de
radiação, chuva, vento, entre outros fatores.
Os resultados obtidos
até o momento apontam para a existência de grandes estoques de carbono,
principalmente no solo das regiões mais altas, onde as temperaturas frias
tornam o processo de decomposição mais lento e há acúmulo de serapilheira –
camada fofa que se forma com folhas caídas no chão.
“Imaginamos que, em
um processo de aquecimento, a serapilheira que se acumulou por milhares de anos
vai se decompor mais depressa, fazendo com que a floresta libere mais gás
carbônico do que pode assimilar. Ou seja, ela se tornaria uma fonte emissora e
nós perderíamos o serviço ambiental de estocagem que hoje as espécies nos
prestam”, explicou Joly.
Nos próximos anos, o
monitoramento na Floresta Atlântica paulista será comparado a estudos na
Floresta Amazônica e em florestas da Malásia, em parceria com pesquisadores
britânicos. Já se sabe, por exemplo, que a Floresta Amazônica não acumula tanto
carbono no solo como a Atlântica e, nas medições anuais, estabelece trocas com
a atmosfera que resultam em um balanço próximo a zero.
Fauna e sensoriamento
André Victor Lucci
Freitas, pesquisador do IB/Unicamp, também participou da conferência
apresentando dados sobre origem, evolução e diversidade da fauna da Mata
Atlântica. Ele apontou que a grande diversificação e o alto endemismo
faunístico podem ser explicados por um conjunto de processos.
“A interação entre as
tolerâncias ambientais dos diferentes grupos de animais, a heterogeneidade de
habitats (florestas, restingas, campos) e os processos históricos (como
variações climáticas no passado) explicam a grande diversidade encontrada ao
longo de toda a extensão da Mata Atlântica”, disse Freitas.
O terceiro
palestrante, Flávio Jorge Ponzoni, pesquisador do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe), tratou sobre os bastidores do desenvolvimento de um
atlas.
“O acompanhamento,
agora anual, dos remanescentes da Mata Atlântica é feito a partir da
interpretação de imagens de satélites. Fotografias aéreas resultariam em um
detalhamento maior, mas essa ainda é uma técnica muito cara para a grande
extensão que precisamos monitorar”, disse. Outro desafio é identificar
desmatamentos menores causados pela expansão urbana.
De acordo com
Ponzoni, o bioma cobre 7,9% de sua extensão original, se considerados os
remanescentes acima de 100 hectares. Quando computados todos os polígonos com
100 hectares ou menos, o domínio é de 11% a 16%. (EcoDebate)
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