Maior rio do Nordeste, o Rio São Francisco, dá indícios de
estar com vazão menor, aponta PSR
Nos últimos 21 anos o nível de vazão ficou 20 vezes abaixo
da média histórica, usos diversos podem estar mais elevados do que se espera.
A situação dos reservatórios na
região Nordeste tem sido o alvo de preocupação das autoridades e de todo o
setor elétrico. De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico, a região
apresentava o pior nível de armazenamento do país. Em 15 de dezembro esse
indicador estava em 24,28%. Uma importante parcela desse nível é explicado pelo
rio São Francisco, a principal via de produção de energia de UHEs da região,
que pode estar com seu fluxo estruturalmente reduzido. Apesar disso há medidas
que podem atenuar seus efeitos para o setor elétrico e para a sociedade em
geral.
O estudo mensal da Consultoria
PSR, Energy Report, relatou
dados de um levantamento da Agência Nacional de Águas (ANA) onde foi constatado
que em vinte vezes nos últimos 21 anos a vazão do rio esteve abaixo da média
histórica no período seco. Isso levaria a uma seguida, e cada vez maior,
dificuldade em se recuperar o nível do reservatório da UHE Sobradinho (BA-1050
MW), que é o principal na região já que as demais UHEs no São Francisco são
muito pequenas ou são nulas por serem a fio d' água.
De acordo com o documento ao qual
a Agência CanalEnergia teve acesso, as vazões afluentes em energia do
São Francisco entre janeiro e novembro deste ano são metade da média histórica
do rio em um horizonte de 83 anos. Esse, destacou o documento, é o pior nível
em todo esse período.
Apesar da luz de alerta estar
acesa no setor, o especialista da PSR, Rafael Kelman, afirma que ainda é
preciso constatar o que está ocorrendo na região, pois a água pode estar sendo
usada acima do contabilizado para os outros fins. Segundo ele, a vazão do
"velho Chico" é utilizada não somente pelo setor elétrico, mas por
sistemas de irrigação, transporte fluvial e abastecimento de cidades.
Como a UHE está a 800
quilômetros da foz do São Francisco, o uso das águas a montante da barragem
pode estar acima do esperado. Isso se verifica ao comparar o nível de chuvas e
de vazões que não estão compatíveis, principalmente no período seco a diferença
é acentuada o que coloca em evidência que se está retirando mais água do rio do
que se imagina.
Pelo uso diverso, a Chesf,
subsidiária da Eletrobras que é a responsável pela operação da hidrelétrica, é
obrigada a manter uma vazão mínima que corresponde a uma geração de 3,5 GW
médios. São 1.300 m3 por segundo, a jusante, mas desde abril está em
curso uma redução dessa vazão para 1.100 m3. Nem sempre foi mantido
esse patamar por motivos que incluem o desligamento de linhas de transmissão de
500 kV entre o Piauí e Maranhão este ano, devido a um incêndio.
"A falta de chuva é um dos
motivos, mas não é único que justifica essa redução da vazão", afirmou
Kelman. "Outros usos podem estar se intensificando, pois vemos que
no período seco a redução se intensifica. Mas temos indícios de uma redução da
vazão do São Francisco, apesar de a redução da chuva não ser o suficiente para
a queda verificada", explicou ele.
Kelman contemporiza esse cenário
de alarme para a região ao lembrar que os estudos são estatísticos e a regressão
linear é que aponta para essa redução. Além disso a própria ANA, em seu artigo
sobre o assunto, apontou que pode ser que exista algum problema com
equipamentos que fazem a aferição das vazões.
Mesmo com o alerta é preciso
dizer que há alternativas para o rio. Entre elas, a que se refere ao setor
elétrico, é a adoção no modelo de operação do SIN onde as vazões estão um
horizonte de tempo mais curto. Assim, a operação do sistema refletiria de melhor
forma a realidade do rio.
Ao mesmo tempo a PSR defende a
contratação de energia adicional de reserva para a região, independente da
fonte, mas que seja despachável. As eólicas poderiam ser a opção pela
proximidade e pelo seu alto fator de capacidade, mas há um limite que esbarra
na capacidade das hidrelétricas de atuarem como back ups de fontes intermitentes. E cita a experiência em países
como a Alemanha, onde é necessária a adoção de subsídios para evitar a
disparada de preços.
"Se for constatado mesmo que
há uma mudança estrutural, como é o que parece ser, aí temos uma discussão do
que fazer e na PSR defendemos a contratação de uma energia de reserva,
suplementar para cobrir essa diferença estrutural, desde que, repito, seja
constatado esse fato", afirmou Kelman.
Uma outra medida paralela seria a
redução da vazão mínima do São Francisco. Um levantamento da Chesf apontou que
a comunidade a jusante de Sobradinho é pouco impactada se planejada a redução.
"É possível fazer essa vazão ser reduzida até 1.000 m3. Mas
antes precisamos realizar estudos de impactos, ganhos e perdas para ambos os
lados para que conversando e com simetria de informações tenhamos a melhor
solução", apontou. A opção que é descartada pelo representante da PSR á a
redução da garantia física das usinas. Para Kelman, essa seria a pior medida,
trazendo impactos financeiros e prejuízos ao setor elétrico. (canalenergia)
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