Ondas de calor que o país enfrenta poderão ser mais
frequentes, diz Carlos Nobre, do MCTI
PBMC projeta um clima mais quente para este século.
O calor excessivo
registrado em 2013 e neste início de 2014 pode acontecer com mais frequência
nos próximos anos se o país não conseguir reduzir o impacto do aquecimento global
no meio ambiente, explicou o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e
Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Carlos
Nobre.
O país enfrenta onda de calor desde o início de
2014.
Em entrevista à
Agência Brasil, o secretário explicou que episódios isolados de períodos muito
secos ou de muitas chuvas já ocorreram no passado, e alguns são típicos das
estações do ano, como as ondas de calor. “Um fenômeno extremo isolado não
permite que alguém imediatamente aponte o dedo e diga que é culpa do
aquecimento global”, disse.
No entanto, explicou
que o aquecimento global aumenta o número de ondas de calor. “Cem anos atrás,
esse calor extremo acontecia a cada dez ou 20 anos. Com o aquecimento da Terra,
vamos viver isso com mais frequência, e daqui a 100 ou 200 anos, esse vai ser o
clima do dia a dia”.
Segundo ele,
diferentemente do que ocorre com a espécie humana, um grande número de espécies
não consegue acompanhar essas mudanças, principalmente os vegetais. “A extinção
é rápida e a reconstituição da biodiversidade é lenta. Devemos esperar uma
perturbação e uma extinção em massa, se isso não mudar”.
Como, em certo grau,
a mudança no clima já se tornou inevitável, para Nobre seria irresponsabilidade
da sociedade não cuidar de uma adaptação a essas mudanças. “Os países
desenvolvidos têm sistemas que diminuem a vulnerabilidade a desastres naturais,
mas os países em desenvolvimento ainda sofrem muito. Nossa lição de casa básica
é tornar as sociedades e o meio ambiente mais resilientes para o que está
acontecendo hoje”.
Corroborando as
afirmações do secretário, a presidente do comitê científico do Painel
Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), Suzana Kahn Ribeiro, diz que é
necessário repensar o crescimento das cidades, os padrões de consumo e as
políticas de eficiência energética, entre outros fatores, para tentar reverter
a mudança no clima. “Muito pouca coisa se tem feito, o que é preocupante, dada
a urgência do problema e o transtorno que traz. Não se trata apenas de incômodo
para as pessoas, mas de perdas econômicas, aumento da desigualdade e riscos
para saúde”. O PBMC projeta um clima mais quente para este século.
O secretário do MCTI,
Carlos Nobre, faz parte do Conselho Consultivo Científico da Organização das
Nações Unidas (ONU), que tem o papel de formular estudos e análises para
assessorar o secretário-geral Ban Ki-moon sobre sustentabilidade, incluindo
mudanças climáticas. “Em seis meses, esse conselho vai produzir documentos
importantes que vão servir de referência para o secretário-geral destravar as
negociações que começaram na Conferência de Copenhague, em 2009, sobre a
emissão de gases”, explicou. (ecodebate)
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