Falta de chuvas e diminuição da vazão dos rios compromete a
qualidade da água dos mananciais, pois ocasiona o aumento da poluição. Dia
Mundial da Água busca mostrar a importância do debate sobre o recurso mais
precioso da Terra
O Brasil é um país de dimensões continentais. Por essa
razão, ao mesmo tempo em que sofre com a estiagem no Sudeste e no Centro Oeste,
recebe uma intensa quantidade de chuvas no Norte, como as que estão ocasionando
as cheias no Rio Madeira e inundando cidades em Rondônia e no Amazonas. Em
ambas as situações, tanto de estiagem como de enchentes, a poluição é uma
ameaça para as reservas hídricas.
Especialmente em épocas de seca, como a que o estado de São
Paulo enfrenta neste início de 2014, a disponibilidade da água diminui
drasticamente e o nível de poluição dos rios, lagos e reservatórios aumenta
consideravelmente. “Com a escassez provocada pela falta de chuva num período
que usualmente temos altos índices pluviométricos, as vazões dos cursos d’água
tendem a diminuir e isto pode comprometer a qualidade em alguns pontos destes
mananciais”, comenta Lupercio Ziroldo Antonio, diretor do Departamento de Águas
e Energia Elétrica (DAEE) da Bacia do Baixo Tietê e governador do Conselho
Mundial da Água. “No caso de locais que recebem despejo de esgoto urbano
tratado, a diminuição da vazão nestes pontos prejudica a “mistura” do efluente
tratado, o que pode causar diminuição na qualidade da água. No geral, os casos
de diminuição da qualidade da água em função da baixa disponibilidade causada
pela falta de chuvas, tende a ser pontual, mas uma estiagem prolongada pode
agravar o problema”, relata o governador.
Para Mauro Banderali, especialista em instrumentação
ambiental da Ag Solve, a baixa qualidade da água nos rios brasileiros é um dos
principais problemas enfrentados pelas grandes cidades atualmente, pois, mesmo
sem a estiagem, os mananciais apresentam níveis alarmantes de compostos
presentes no esgoto industrial e doméstico, principalmente os que estão
próximos aos grandes centros urbanos. “Por essa razão, o monitoramento das
águas é essencial. Com o uso da tecnologia é possível monitorar a qualidade do
manancial e garantir às empresas de saneamento, a distribuição de uma água de
maior qualidade à população”, explana. Além disso, Banderali explica que
monitorar a qualidade da água ao longo do rio é fundamental para detectar uma
contaminação ainda pequena e evitar que se espalhe, comprometendo todo o curso.
Estiagem, aliada à poluição, pode degradar os rios
Todos os dias, uma enormidade de esgoto é lançada em nossos
mananciais. Segundo Lupercio Ziroldo Antonio, “o esgoto urbano despejado
diretamente em cursos d’água pode degradar as águas fortemente. Nestes casos, a
vazão do curso d’água junto ao despejo é importante porque quanto maior ela
for, mais fácil será a “recuperação” provocada pela “mistura” do esgoto com as
águas do rio. Neste caso, a diminuição da quantidade causada pela estiagem pode
prejudicar este poder de recuperação do curso d’água. Outro tipo de degradação
é a causada pelo assoreamento. Em época de estiagem prolongada, o problema se
agrava e podemos ter um rio transformado em “bancos de areia”. Para todos os
casos, a prevenção é o melhor remédio, inclusive para suportar as épocas
prolongadas de estiagem”.
Para o governador do Conselho Mundial da Água, a melhor
solução é a prevenção e o monitoramento efetivo na qualidade dos cursos d’água.
“Somos os maiores interessados em ter água de qualidade em nossos rios, córregos
e aquíferos. As ações de preservação, conservação e monitoramento, as obras e
serviços de tratamento, devem partir do poder público, da iniciativa privada e
da sociedade civil organizada. Se há processos de contaminação e degradação,
estes devem ser corrigidos rapidamente de tal forma a efetivar o planejamento
para a bacia como um todo. Solução há. Precisamos é de ações de recuperação e
preservação”, detalha Antonio.
Pequenas ações são tão importantes quanto as grandes
Há 21 anos, a Organização das Nações Unidas (ONU) utiliza
uma data do calendário para lembrar-nos sobre a importância da água para a
humanidade. O Dia 22 de Março, Dia Mundial da Água, foi criado para
conscientizar a população e mostrar a importância do debate sobre a água.
Contudo, somente mais de vinte anos depois, o tema está começando a ser tratado
com a devida importância.
Mauro Banderali comenta que muito se fala sobre a finitude
da água e a necessidade da conservação dos recursos disponíveis. “O uso
racional e consciente da água é uma responsabilidade de todos. O poder público
e órgãos competentes devem planejar o sistema de tal forma que nenhuma pessoa
sofra com a falta ou com a má qualidade deste insumo. Além disso, cada cidadão
é responsável pelo que acontece com a água, seja a falta dela ou a má
qualidade. Há uma urgência na necessidade de conscientização. Pequenas atitudes
no dia a dia são tão importantes quanto as grandes ações e o gerenciamento dos
recursos hídricos”, analisa o especialista.
“O ser humano está percebendo, infelizmente, tardiamente,
que água é um bem finito, que deve ser preservada em quantidade e qualidade
porque só assim ela existirá para todas as gerações futuras e manterá a vida na
terra. A água de hoje é a mesma de ontem e será a mesma de amanhã. Quem provoca
sua degradação é o homem, que assim minimiza sua disponibilidade e qualidade e
afasta de si este bem precioso e primordial para sua vida. Não desperdiçar,
usar racionalmente, deve fazer parte da cultura do ser humano, aqui ou do outro
lado do mundo. Individualmente o homem contribui assim. Mas organizadamente na
coletividade, há a necessidade de equacionar os usos dos recursos hídricos numa
bacia hidrográfica através de um plano de bacias bem elaborado com a
participação de toda a sociedade no local. Ou olhamos para a água como uma
riqueza a ser preservada, ou infelizmente, em futuro próximo, teremos o êxodo
de pessoas por falta deste líquido”, pondera Lupercio Ziroldo Antonio.
(ecodebate)
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