A cheia histórica do rio Madeira, no norte do país, e a escassez de água
no reservatório Cantareira, em São Paulo, estão nos noticiários nacionais já
por algumas semanas. Mas você chegou a imaginar uma possível relação entre
ambos os fenômenos? Ou mais: que eles podem estar diretamente ligados com
desmatamento?
O climatologista do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas)
Philip Fearnside não só imaginou como explicou
esse complexo efeito de causa e consequência ligando a derrubada de florestas
com a questão das estiagens e das chuvas no Brasil.
Em entrevista concedida ao jornalista Leão Serva e publicada na revista
Serafina, do grupo folha, o pesquisador detalhou
como o desmatamento na região norte faz com que a água da chuva não seja
retida, deixando o ar mais seco. Com isso menos água da Amazônia é transportada
pelos ventos para o Sudeste, reduzindo a quantidade de chuva em São Paulo e o
consequente abastecimento dos reservatórios.
A água da Amazônia é transportada para São Paulo
majoritariamente no verão, como explica Philip, em trecho da entrevista.
Portanto, “Se não encher os reservatórios na temporada de chuvas, só no ano
seguinte”, alerta.
Quando uma área de floresta é derrubada, a chuva escorre diretamente
para os rios e apenas uma pequena parte é absorvida pelo solo, e o rio recebe
um volume maior de água, o que pode causar eventos extremos como as enchente
que acompanhamos em Rondônia no rio Madeira.
Ou seja, a relação não precisa ser assim, tão complexa: quanto menos floresta
de pé no norte do país, menos chuva formada e transportada para o sudeste e
mais reservatórios vazios pela baixa incidência dessas chuvas, como no caso da
Cantareira, no sudeste.
A escassez de água já causa prejuízos econômicos na indústria, grande
incômodo para moradores ao ressuscitar programas emergenciais e pouco efetivos
de redução ao consumo e o fantasma do racionamento além de impactos na produção
de alimentos, também dificulta e muito nossa necessária adaptação às mudanças
climáticas.
A Floresta Amazônica, além de responsável por grande parte das chuvas do
país também presta serviços ambientais indispensáveis como estocagem de grande
quantidade de carbono e auxílio na absorção de gases do efeito estufa liberado
por atividades humanas, além de ser riquíssima fonte de alimento, recursos
naturais e biodiversidade.
Para continuar vivendo e usufruindo dessa riqueza, porém, precisamos
parar de destruir nossas florestas o quanto antes. Em 1980, Philip Fearnside
atestou, em artigo científico, que se nada fosse feito em relação pela
conservação da floresta, sua função como reguladora do clima iria desaparecer
em 50 anos. De lá pra cá, se foram praticamente 25, e a previsão tem se
desenhado tal qual escrita no legado de Fearnside, apesar do otimismo do cientista.
“O importante é não ser fatalista. A declaração de que o mundo vai
acabar não é construtiva. Se você pensa que tudo está perdido, não faz nada e a
profecia se realiza”, fez questão de cravar, ao final da entrevista.
“O Greenpeace concorda, e não à toa fazemos campanhas para acabar com o
desmatamento na Amazônia. Além disso estamos tentando promover a discussão e
reflexão na sociedade sobre o papel da floresta, bem como fazer as pessoas
entenderem que sofrerão os impactos do desmatamento”, diz Cristiane Mazzetti,
da campanha de Florestas do Greenpeace Brasil.
“E por isso utilizamos como ferramenta de debate e mobilização o projeto
de lei de iniciativa popular pelo desmatamento zero, que se aprovado, impedirá
a emissão de novas licenças de desmatamento em florestas nativas brasileiras”,
explica.
Todos que desejam ser parte dessa história podem ajudar na coleta de
assinaturas para o movimento e ajudar a espalhar essa campanha na sociedade até
chegarmos no Congresso, já com pressão suficiente para que seja aprovado.
(ecodebate)
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