Por onde vamos
caminhar? Cientistas que se têm dedicado à área do clima não se cansam de
advertir que é preciso mudar radicalmente, e com urgência, nossos modos de
consumir energia (e emitir poluentes). Os mais céticos, entretanto, lembram que
o país mais empenhado nessa direção, a Alemanha, não tem conseguido mudar o
quadro – pois, embora esteja fechando usinas movidas pela queima de carvão e
estimule formatos alternativos de energia, ainda assim o consumo desse
combustível fóssil bateu o recorde de duas décadas em 2013. Na China – país que
mais investe hoje em energias renoveis – também o consumo de carvão continua a
bater recordes. O Painel do Clima discutiu esse assunto na última reunião, em
Berlim.
Por isso cresce
também o número dos que acreditam que os caminhos para reduzir emissões estejam
em novas tecnologias, que permitam continuar a usar as fontes poluentes, mas
impedindo ao mesmo tempo que os gases cheguem à atmosfera. Como há quem
acredite que novas tecnologias permitirão reduzir o fluxo de rios e evitar
grandes inundações, desviando para afluentes os resíduos que assoreiam os
cursos d’água ou criando lagos artificiais às margens.
Os adeptos de novas
tecnologias começam a entusiasmar-se. Como, por exemplo, os que propõem e já
estão testando tecnologias para usar energia excedente de usinas eólicas ou
solares, que custaria muito caro estocar em baterias, estocando-a em blocos de
lama gelados nos períodos em que as usinas estejam paradas por falta de ventos
ou de sol. Outro caminho é o de empresas que vão usar baterias de lítio para
abastecer carros elétricos – uma tecnologia que já foi testada com êxito em
carros elétricos esportivos, mas não nos veículos comuns (New Scientist, 8/3).
Outra empresa ainda trabalha com a tecnologia de estocar energia num tipo de
vidro quase líquido, viscoso, produzido especialmente para isso – e que pode
ser bombeado para onde for necessário. O projeto piloto será numa fábrica de
alumínio.
Quase 150 anos depois
do livro Vinte Mil Léguas Submarinas, de Júlio Verne, desenvolvem-se ainda
projetos para converter a energia térmica do mar em formatos utilizáveis e que
substituam os atuais poluentes. Segundo a New Scientist, é um caminho em
desenvolvimento numa das grandes empresas do setor, a Lockheed Martin, que
afirma poder prover até 4 mil vezes a energia consumida em um ano no mundo.
Basicamente, trata-se de bombear água de temperaturas mais profundas e mais
frias para camadas a 100 metros da superfície, mais quentes. E através de um
sistema que usa amônia, o vapor trazido de maior profundidade, com temperaturas
20 graus inferiores, aciona uma turbina que gera eletricidade.
O sistema poderia
operar durante as 24 horas do dia. Seria adequado para regiões tropicais e
subtropicais. Uma usina de 100 MW custaria US$ 790 milhões para implantar. E a
energia produzida custaria US$ 0,18 por quilowatt/hora (hoje as usinas a carvão
têm custo de US$ 0,14 e as solares, de US$ 0,14 a US$ 0,26). Já há projetos em
Okinawa (Japão), no Havaí, na Holanda e em Curaçau (Caribe). Em parte deles a
energia solar é usada para aquecer a água mais profunda. Mas têm sido criticado
por cientistas conceituados, segundo os quais se corre o risco de proliferação
de algas com sua transposição para áreas mais ricas em nutrientes e livres de
bactérias. Já os donos da tecnologia asseguram que não; e que a tecnologia pode
gerar 50% da energia consumida no mundo, sem contribuir para o aumento da
temperatura planetária.
No Canadá vai entrar
em atividade um projeto que captura o dióxido de carbono de uma usina movida a
carvão, a maior do país, antes que ele se dissipe na atmosfera: 90% de 1,1
milhão de toneladas será levado por encanamentos para um aquífero salino, de
modo a ser sepultado quilômetros abaixo do solo. É um caminho que também já
mereceu críticas fortes de cientistas, para quem o sepultamento da poluição
pode contaminar aquíferos e provocar abalos sísmicos. Mas para outros é
esperança de continuar utilizando o carvão.
Por isso mesmo,
continua de pé ainda a tecnologia de sequestrar gases da queima do carvão e
utilizá-los na geração de energia – e isso seria suficiente para atender às
necessidades de várias gerações à frente. Um dos caminhos seria a gaseificação
subterrânea do carvão, a 300 metros da superfície, como se faz na Rússia desde
a era de Stalin. Bombas especiais conduziriam os gases para a profundidade,
onde seriam queimados, e outras trariam o produto para a superfície, onde seria
utilizado como combustível, depurado da poeira do carvão, resfriado, comprimido
e levado por tubulações para os locais de consumo. O relato na New Scientist
(15/1) é do respeitado articulista Fred Pearce, segundo quem esse processo, se
chegar à escala desejada, poderá permitir a utilização de “trilhões de
toneladas de carvão”, hoje condenadas por causa das emissões. E por isso já há
testes também na China, na África do Sul e no Canadá, que têm grandes estoques
de carvão.
Na mesma direção de
evitar emissões estão as experiências com veículos elétricos – como as que
permitem utilizar baterias sem fio, que recarregam de energia o veículo quando
ele estaciona para receber passageiro. Nas baterias utilizadas até aqui é
preciso encontrar um posto de reabastecimento e ali permanecer durante horas,
com o veículo conectado por cabo à fonte de energia. A nova tecnologia foi
desenvolvida há décadas, mas a baixa eficiência não permitia sua utilização em
escala maior. Agora, baseia-se em indução eletromagnética, com as próprias
baterias do veículo, que transfere a energia com 90% de eficiência. E
justamente por essa razão já está chegando a vários países.
Serão as tecnologias
que tornam viáveis fontes condenadas capazes de substituí-las a tempo de evitar
o agravamento dos problemas do clima? (ecodebate)
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